Ainda este governo acaba de tomar posse e já temos o caldo
entornado, no que e importa ao setor da comunicação social
regional.
O anterior governo, com a pasta da
comunicação social entregue a Pedro Duarte, candidato pelo PSD
agora à Câmara do Porto, e a Pedro Abreu Amorim, ex.- Secretário
de Estado da Comunicação Social, agora Ministro dos Assuntos
Parlamentares, desdobrou-se, em 2024, em reuniões com o setor da
comunicação social, conseguindo aprovar, em sede de executivo,
algumas propostas que visavam apoiar o jornalismo, nomeadamente um
maior apoio ao setor regional, que desde sempre tem vivido com
migalhas e ao que parece, nem isso vamos ter daqui para a frente. Mas
com a queda do anterior governo, quase tudo transitou para o próximo.
Quase tudo, disse eu, porque a mama da RTP e o apoio às
assinaturas digitais dos jornais dados apenas aos jornais
nacionais, esses passaram entre os pingos da chuva. Clarinho, sem
se molharem. Só aqui, já é motivo para que o setor da comunicação
regional faça mesmo um grande manguito ao nosso Primeiro-Ministro.
Isto é ou não é compadrio e corrupção?

Muda-se o governo, mudança nas
pastas ministeriais. Afinam-se estratégias pessoais, gostos e
ambições. E dá-se a troca de cadeiras. Pedro Duarte, como já
referido, segue para o Porto e Abreu Amorim é promovido a Ministro,
mas de outra área completamente diferente do que estava no anterior
governo. E o que vai acontecer com a pasta da comunicação
social, e no que ao setor da regionalidade interessa? Provavelmente,
vai ser metida na gaveta e vamos já perceber porquê.
Leitão Amaro é o novo Ministro que
passa a tutelar a área da comunicação social, e o secretário de
Estado vai ser João Valle e Azevedo. Não, não é o anterior
Presidente do Benfica. Felizmente. Sobre Leitão Amaro, tenho toda a
certeza de ser uma pessoa competente, com provas dadas, e o rosto da
comunicação ao país, quando vivemos o recente apagão energético.
Diria mesmo que tem possibilidades de, a seu tempo, chegar mais longe
na sua ambição política. Mas a pergunta que se impõe fazer neste
momento é: quem é este senhor João Valle e Azevedo, o novo
Secretário de Estado da Comunicação Social? Que competências
na área da comunicação social tem? Que formação existe no seu
currículo que o permita ter uma leitura mais alargada dos problemas
da comunicação social? Dele, só se conhece cargos políticos ao
género do “Jobs for the Boys”. Possivelmente, teve nota máxima
na colagem de cartazes com o logotipo do partido ou com a cara do
iluminado de serviço, e agora vai tutelar uma área tão sensível
para o país, como a comunicação social? Bom, sabe-se que em 2023,
em rutura com Mário Centeno, Governador do Banco de Portugal, saiu
da instituição e passado uns meses foi experimentar o que era isto
de ser deputado da nação, sendo logo promovido a Vice-Presidente do
Grupo Parlamentar do PSD. Com um currículo de uns dias apenas na
Assembleia, mostrou qualidades acima da média, indo dirigir
deputados com largos anos de experiência. Mas estas nomeações são
políticas e estou-me a afastar do pretendido, pois na casa do PSD,
manda o PSD. Mas importa referir e seguindo esta linha de pensamento,
bastou-lhe menos que um ano de atividade mais política, e agora
dando a cara como deputado, para ser promovido a Secretário de
Estado e um dia destes vai subir de novo. Neste país sobe-se
rapidamente, mas não pela competência ou currículo, como se pode
perceber.
Continuando a responder à pergunta,
de quem é este senhor e que competências tem nesta área ou
noutras, chega-se rapidamente à conclusão de que e na área da
comunicação social, só lhe reconheço que talvez leia alguns
jornais diários, e duvido mesmo que leia os regionais. Nas outras
áreas, e também analisando o seu currículo, deduzo que passou
metade da sua vida profissional a trabalhar (apetece-me dizer
brincar) às comissões do PSD, participando em reuniões e
grupos de apoio, sendo convidado para dar umas aulitas (talvez na
universidade de verão do seu partido), conseguindo depois entrar no
Banco de Portugal, mas como andava a ajudar o PDS em simultâneo
noutras tarefas, o Mário Centeno correu com ele, tendo o Luís
Montenegro de lhe dar emprego como deputado no ano seguinte.
Entende-se rapidamente que é para
meter na gaveta as alterações que dizem respeito a alguns apoios ao
setor da imprensa regional. Este senhor não tem craveira suficiente
para liderar as alterações que são urgentes fazer. Nem currículo,
nem experiência ou autoridade intelectual para enfrentar este setor,
que o vai comer vivo nos primeiros meses, e fazer com que ele se
afaste rapidamente. Pode até vir com boas intenções, mas não tem
a envergadura que necessita para fazer as reformas necessárias. E o
nosso Primeiro-Ministro sabe disso. No falhanço deste novo
secretário de estado, Luís Montenegro lava as mãos e desculpa-se
com os outros, atingindo também de raspão Leitão Amaro, que vai
ficar assim no amarelo avermelhado, servindo como aviso para uma
eventual reprise da “Revolta na Bounty”.
Em suma, estamos de novo entregues
aos bichos. Serão mais dois anos (pelo menos) de negociações e
reuniões, para não dar em nada. Os diários e os grandes grupos
continuam a mama, pois com esses ninguém se mete, senão levam,
(parafraseando Sócrates – o nosso, note-se). E nos próximos
artigos, prometo explicar mais ao detalhe, como funciona a mama dos
grandes grupos económicos da área da comunicação social, com
algum detalhe. É necessário e urgente desmascarar esta
promiscuidade para que estes senhores do governo (da direita à
esquerda), tenham alguma vergonha na cara, e que parem de brincar com
setores que são essenciais e fundamentais à qualidade da nossa
democracia.
O caricato é que antes de serem
poder, adoram a comunicação social (regional incluída), mas quando
assumem cargos de governação, essa energia positiva e esse estado
de namoro inebriante, logo desaparece. O namoro continua com os
grandes grupos (pois com esses não se brinca, pensam eles), mas os
regionais levam logo com um grande par de cornos e se se puserem a
jeito, umas marradas não estão fora do pensamento destes…senhores
(para não usar outro termo e ser de novo acusado de ser
deselegante).
Mas a culpa também reside nos
órgãos de comunicação social regionais. E faço também a “mea
culpa”. Reconheço que me coloquei a jeito estes últimos anos, mas
acabou-se a paciência. Há que endurecer o discurso, tomar
medidas e ir à luta. Mas a este assunto, voltarei brevemente,
também com mais algum detalhe.
Agora, o momento seguinte é o de ir
convencer alguns patrocinadores a apoiarem com migalhas o nosso
trabalho, enquanto continuo a assistir ao desbaratar de milhares de
euros em órgão de comunicação social nacionais, pelas entidades
vizinhas (câmaras, juntas e outras entidades que gerem os nossos
impostos regionais). E é assim a vida de um órgão regional sério
e isento. Trabalhar em prol da sua comunidade, sem ser valorizado por
de quem de direito. Resta apenas mais outra via para se ganhar
dinheiro no setor regional. O compadrio e a corrução ativa dos
gestores públicos e partidários. Mas pessoas de bem não
corrompem nem se deixam corromper. Como considero-me uma pessoa de
bem, venham as migalhas.
*José Vieira – Jornalista e
Presidente da Mesa da Assembleia Geral da APMEDIO
(Associação Portuguesa dos
Media Digitais Online)
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