Carlos Rebelo |
Para
se conseguir aumentar a produção de energia eólica são
necessárias torres metálicas mais altas do que as atuais, que não
vão além dos 100 a 120 metros, capazes de suportar turbinas mais
potentes. O problema, na construção tubular em aço, é que esse
aumento de altura implica um maior diâmetro do tubo, que vai para
além dos limites permitidos no transporte em vias públicas. Por
outro lado, o custo de instalação aumenta exponencialmente devido à
necessidade de utilização de gruas de maior altura.
Este
grande
obstáculo à evolução da energia eólica poderá ter os dias
contados graças
a uma solução desenvolvida por um consórcio europeu liderado por
Carlos Rebelo, docente e investigador do Departamento de Engenharia
Civil da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de
Coimbra (FCTUC).
O
projeto SHOWTIME,
acrónimo de “Steel Hybrid Onshore Wind Towers Installed with
Minimum Effort”, foi realizado durante os últimos três anos em
parceria com várias instituições europeias de investigação e
empresas ligadas à construção em aço, com um financiamento de
cerca de dois milhões de euros da Comissão Europeia através do
programa Research
Fund for Coal and Steel
(RFCS).
A
solução proposta consiste, tal como o título do projeto sugere,
num sistema eficiente de instalação baseado numa estrutura em forma
de treliça. «Apostou-se numa
solução eficaz e economicamente sustentável alicerçada numa torre
híbrida, constituída por uma parte em treliça e uma parte tubular.
Basicamente, a nossa solução é idêntica à estrutura das torres
de suporte de linhas elétricas, mas muito mais forte e resistente
porque as forças que estão envolvidas são também muito maiores.
Esta estrutura, que inclui um sistema de elevação, permite que as
torres possam ser montadas no local de construção sem a necessidade
de gruas de grande envergadura, dado que os tubos de aço poderão
ter menores dimensões»,
explica o coordenador do projeto SHOWTIME.
As
vantagens das torres treliçadas são várias, refere o especialista
em engenharia de estruturas da FCTUC, principalmente «design
e modelagem simples, bom comportamento dinâmico (ideal para turbinas
eólicas), redução de custos de fabricação e economia de
transporte, já que são mais fáceis e mais leves de transportar
quando comparadas com estruturas tubulares atuais».
Com
esta tecnologia, num futuro
próximo poderemos ter torres eólicas onshore
muito mais altas
– a solução desenvolvida está direcionada para torres com 220
metros-, tornado
exequível a instalação de turbinas com maior potência.
Para se ter uma ideia, a solução desenvolvida pelo consórcio
permite «instalar
turbinas com potência 10 vezes superior à das atuais,
possibilitando que uma só turbina triplique a produção de energia,
ou seja, a produção de energia a partir do vento pode aumentar
significativamente»,
nota Carlos Rebelo, realçando ainda que «o
desenvolvimento de conceitos estruturais inovadores é um passo
decisivo para aumentar a competitividade da energia eólica».
Durante
a execução do projeto foram realizados vários ensaios em
laboratório e construído um protótipo à escala reduzida 1:4, que
foi testado nas instalações de um dos parceiros industriais
portugueses (Martifer). A equipa está agora em contacto com a
indústria do setor eólico para testar a tecnologia à escala real.
Imagens e vídeo do processo de montagem e de elevação do teste
realizado estão disponíveis para visualização: aqui.
O
projeto SHOWTIME teve a participação da Lulea University of
Technology (Suécia), Technical University of Aachen (Alemanha),
University of Birmingham (Reino Unido), Steel Construction Institute
(Reino Unido); e das empresas SIDENOR (Espanha), Martifer (Portugal)
e Friedberg (Alemanha).
Cristina
Pinto
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