Transformação do território pelas artes na Lousã, Miranda do Corvo, Penela e Vila Nova de Poiares
A cultura é o fio condutor entre os concelhos da Lousã, Miranda do Corvo, Penela e Vila Nova de Poiares. Já unidos pela tradição da chanfana (constituem as Terras da Chanfana), os quatro integram um vasto programa de cultura em rede, que se estende até final de 2022 e é cofinanciado pelo Centro 2020, Portugal 2020 e pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional.‘Artes à Rua’, ‘Do xisto à Chanfana vai um Mundo’ e ‘Entre Deus e o diabo – o sagrado e o profano’ são as três candidaturas aprovadas e constituem os vetores principais deste programa, subdivididos nas mais variadas formas e expressões artísticas que percorrem todo o território das Terras da Chanfana. Representando um investimento de cerca de novecentos mil euros, esta rede cultural pretende transformar cada um dos municípios, criando espírito crítico nos seus habitantes e um novo olhar e apreço sobre as artes: Uma transformação territorial pelas artes.
Unidos há muito pela tradição gastronómica da chanfana, os municípios da Lousã, Miranda do Corvo, Penela e Vila Nova de Poiares decidiram dar um passo maior e ligaram-se, também, pela cultura. Por isso, criaram a Rede Cultural Terras da Chanfana que visa promover e valorizar a cultura e o património da região, de forma a ampliar o acesso das populações à fruição cultural e artística.
Este projeto, resultante de três candidaturas cofinanciadas pelo Centro 2020, Portugal 2020 e pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional, contempla um conjunto de atividades inseridas num vasto programa cultural que se estende até final de 2022, procurando dinamizar culturalmente o território, com a missão de, por um lado, despertar os vários públicos para os mais diversos tipos de arte, capacitando as estruturas culturais já existentes no território e, por outro, envolver de vida e animação as populações, atraindo novos públicos e combatendo o isolamento.
Os quatro municípios são unânimes: no final deste projeto em rede, nada ficará igual.
Lousã: “Circulação de públicos”
“Os benefícios da atividade cultural pesam só por si, independentemente de estar em rede ou em atividade de planificação do próprio Município. Mas uma rede tem uma vantagem grande que é dar escala aquilo que é a atividade dos municípios, potenciando a rentabilidade do investimento e permitindo uma coisa muito interessante que é a circulação de públicos”. É desta forma que Henriqueta Oliveira, vereadora da Lousã, vê a participação do município nesta rede cultural.
Recorda as restrições impostas pela pandemia de Covid-19, defendendo que “a retoma da atividade cultural bem organizada é imprescindível, não só porque é essencial à nossa vida, mas também porque é fundamental para os agentes culturais e para os artistas”.
“A cultura foi dos setores mais afetados pela pandemia e era fulcral ser retomada, até como um sinal positivo de algo que é essencial às populações: de esperança e normalidade”, sublinha.
O município abraçou o projeto, integrando esta programação cultural numa rede articulada que, defende, “promove este território que, em si, já tem vários fatores que o unem, mas trazendo um enorme conjunto de vantagens para a comunidade”.
Cada um dos concelhos contribui com o seu fator cultural identitário, dando palco aos artistas locais e levando-os a percorrer o território, divulgando e valorizando o que já era feito localmente.
“Por um lado, promovemos a coesão territorial, mas vamos mais além, ao introduzir novas apostas que, ao circularem por esta região, vão permitir uma complementaridade cultural”, sustenta.
E no final, não tem dúvidas de que esta rede fará a diferença. E que deixará ações que serão “sustentáveis” e afirmar-se-ão como “marcas do território”, junto de um conjunto alargado de públicos, que se estende da idade infantil aos mais idosos.
“A rede vem potenciar a visão da cultura de cada município e permitir duplicar, ou mesmo triplicar, a oferta que tínhamos”, considera.
Miranda do Corvo: “Esbater assimetrias e desigualdades”
Marilene Rodrigues, vereadora de Miranda do Corvo, é perentória: “Parece-nos muito importante, a nível destes municípios, promover a coesão territorial e, dessa forma, divulgar a cultura e o património (o material e o imaterial)”.
Assim justifica a importância da adesão à rede cultural Terras da Chanfana.
Reforça que esta é composta por “um programa eclético”, abrangendo os mais variados tipos de artes, num total de mais de duas centenas de atividades que circulam pelo território.
Isto, no seu entender, permite “realizar uma grande diversidade de espetáculos de cultura e arte, possibilitando que a população possa usufruir deles, deixando cair por terra aquela ideia preconcebida de que ‘a cultura só está nas grandes cidades’. Através da cultura, procuramos esbater as desigualdades e as assimetrias”.
Mas não só. A presença na rede, salienta, possibilita também “estimular a área da cultura e ter uma nova visão do território, com uma programação que incentiva a deslocação de artistas e públicos entre os quatro concelhos, e ainda envolver a comunidade como sujeito ativo desta oferta cultural”.
E no futuro, quando o projeto terminar, acredita que será possível “aproveitar esta rede para promover novos projetos, seja na área da cultura seja noutras áreas, promovendo a coesão territorial, mas também como forma de trazer alguma inovação aos quatro concelhos”.
Ao integrar a rede, o município fê-lo com o objetivo de “poder dar à população uma variedade enorme de espetáculos e intervenções”. E mostra-se convicta de que a resposta tem sido “muito positiva”, por parte do público.
Por isso, não tem dúvidas de que “todas as intervenções culturais vão deixar um rasto no território que podemos vir a aproveitar de futuro” e, ao mesmo tempo, “permitir que mais pessoas fiquem a conhecer o nosso território e venham usufruir dele, quer a nível cultural, quer a outros níveis, como a gastronomia, as aldeias de xisto ou a natureza e o património”. Ou seja, “a cultura a catapultar para o desenvolvimento de outras áreas”.
Penela: “Promover para valorizar o património”
“Juntos somos mais fortes”. Se a expressão se aplica a várias áreas, Edite Simões, vereadora de Penela, não tem dúvidas de que resume, na perfeição, a enorme vantagem da Rede Cultural Terras da Chanfana para os quatro municípios. “Só desta forma, conseguimos criar um conjunto de atividades que rodam pelos municípios, permitindo levar aos vários públicos uma oferta variada que, cada concelho por si só não conseguiria”.
E a partir da cultura, sustenta, será possível criar condições para desenvolver outras atividades. através de uma nova forma de olhar o local que se habita. “As pessoas percebem a importância de valorizar o que é seu, o seu património, as suas artes, as suas tradições. Se nada disto for divulgado, esquece-se, desaparece”, afirma.
E isto, reforça, aplica-se não apenas aos habitantes, mas também aos visitantes de fora que, com uma correta divulgação, passam a conhecer o que o território tem de mais valioso.
Um dos exemplos disso, destaca, é “abrir o património a iniciativas culturais, associando o prazer da atividade com a valorização do espaço”.
No final do projeto, “tornar este território mais conhecido, mas também mais apetecível”, é uma das mudanças que acredita ser possível de alcançar.
Depois, salienta, há outros importantes benefícios associados aos artistas locais que, desta forma, promovem a sua arte e a estendem por um território maior do que o seu concelho. E, sublinha, até para os artistas de fora este projeto traz mais vantagens. “Com esta lógica da rede, não se limitam a fazer um espetáculo: terão vários palcos onde atuar”, explica.
Já o público, remata, beneficia com a quantidade e a qualidade da oferta, passando a “interiorizar a arte como uma rotina e a ‘consumir’ a cultura como um hábito”.
Vila Nova de Poiares: “Interação entre agentes culturais”
A ligação histórica e tradicional entre os concelhos das Terras da Chanfana é agora “reforçada pela força da cultura”, considera a vereadora Lara Henriques de Oliveira, de Vila Nova de Poiares, que afiança não ter dúvidas de que o resultado será “extremamente benéfico para todos”.
“Tínhamos alguns pontos comuns e já fazíamos coisas em parceria, mas não desta forma regular, intensa, territorialmente definida como está neste momento, e por um período prolongado de tempo, com toda a programação feita em conjunto, devidamente combinada e articulada entre todos, de forma que os públicos possam circular entre os territórios”, explica, considerando serem estas as principais vantagens desta ligação em rede.
A forma como as ações estão planeadas evidencia um outro aspeto que, no seu entender, deixará sementes para o futuro: “o nascimento de um hábito, o de saber que há sempre algo a acontecer, se não no meu, no município vizinho, e ter curiosidade de conhecer”.
Ou seja, a criação de públicos assíduos, atentos e interessados.
Por outro lado, salienta, a programação possibilita dar resposta a uma que foi das maiores preocupações deixadas pela pandemia de Covid: a atividade dos agentes culturais. “Fizemos questão que essa fosse a preocupação principal da rede: fazer com que as associações e artistas tenham palcos para atuar, mas também que se conheçam e possam interagir uns com os outros”, conta. Para além disso, pretende abrir portas aos artistas para que “não se fechem nos seus próprios concelhos, mas que alarguem o seu território, conquistem outros espaços e públicos”.
E no futuro, espera que esta rede se possa manter, independentemente do final dos projetos, permitindo a rotatividade de atividades, mas também de públicos. Só dessa forma, defende, será possível “ter pessoas mais ativas, mais críticas”. É que, sublinha, “a fruição cultural possibilita a formulação de espírito crítico que outras áreas não têm tanta capacidade de conseguir”.
“O que esperamos é que as experiências que durante este tempo se vão criando, muito com este apoio das candidaturas e o esforço dos municípios e dos técnicos, possam permanecer, seja nas relações entre artistas e associações ou agentes culturais, seja na vontade e hábito de consumir cultura neste ou nos concelhos vizinhos”, conclui.
Alegria e orgulho
Estes quatro municípios apostam na Cultura como meio para combater a interioridade, despertar alegria e orgulho nos seus habitantes e cativar visitantes ao território. A Rede Cultural Terras da Chanfana centra-se nas pessoas e no seu (insubstituível) papel, seja na valorização dos recursos patrimoniais do território, ou através da sua capacidade de promover o reforço da notoriedade do património físico e humano, ou ainda pela transformação qualitativa da experiência dos visitantes, da reinvenção das narrativas associadas a cada lugar e do incremento do sentido de pertença das comunidades locais.
A Rede Cultural Terras da Chanfana - Programação Cultural em Rede, um projeto conjunto dos municípios Lousã, Miranda do Corvo, Penela e Vila Nova de Poiares contempla um conjunto de atividades inseridas num vasto programa cultural que se estende até final de 2022.
A Rede Cultural Terras da Chanfana é cofinanciada pelo Centro 2020, Portugal 2020 e Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional.
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