No comércio o efeito da pandemia já é visível no dia a dia das empresas, e nos transportes os patrões dizem que nunca viram “tantas baixas a entrar”. Para já, a situação não é de alarme, mas há muita preocupação.
O aumento exponencial de casos ativos de Covid-19 já começa a fazer mossa nas empresas portuguesas. O dia-a-dia está a ficar cada vez mais complicado para que os negócios continuem a funcionar normalmente, numa altura em que, nesta segunda-feira, segundo os dados da DGS há quase 400 mil pessoas em isolamento por estarem infetados com o vírus ou terem sido contatos de risco.
“Existem algumas dificuldades em funcionar, como é uma altura de fim de ano não se nota significantemente, mas há estabelecimento comerciais com dificuldade em ter a porta aberta o dia todo”, relata à Renascença o presidente da Confederação de Comércio e Serviços de Portugal (CCSP), João Vieira Lopes.
Segundo os dados da DGS, há neste momento 207.859 pessoas infetadas com o vírus da Covid-19.
O efeito das festas e as características da variante Ómicron estão a fazer os números da pandemia escalar de forma galopante. Nos últimos oito dias, mais do que duplicaram os casos ativos da doença. No dia de Natal, 25 de dezembro, eram menos de 100 mil.
Os números de pessoas em vigilância por serem considerados contatos de risco, ainda segundo os mesmos dados, quase que chegam aos 200 mil (181.237).
Empresários tentam resolver
Estes valores criam uma pressão adicional às empresas que, segundo Vieira Lopes, estas estão a tentar ultrapassar os problemas de diversas maneiras.
“Estamos numa fase, em que se estendem mais os horários das pessoas que estão presencialmente. Tentam-se distribuir tarefas a pessoas que estão em teletrabalho, e há pessoas que estão assintomáticas e que na prática estão a apoiar. Estamos numa situação que sobre esse ponto de vista é paralisante”, define.
O mesmo responsável associativo, afirma que a medida de baixar de 10 dias para sete dias, o período de isolamento para infetados com o vírus “melhora um bocadinho, mas não altera qualitativamente a situação”.
Absentismo fora do normal
No transporte de mercadorias, a ANTRAM – Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias, diz que as empresas do setor falam de “um absentismo fora do normal”.
O fenómeno já está a levar a alguns atrasos em entregas por falta de meios humanos para acorrer às solicitações.
“Nunca vi na minha vida profissional tantos emails dos recursos humanos a informar-me que o motorista a, b, c ou d está de baixa e vai para isolamento. Hoje, já recebi mais de 20 emails de motoristas que não vêm trabalhar”, afirma à Renascença, o presidente daquela associação Pedro Polónio.
O mesmo garante que este é um problema que já está a ser sentido pelas empresas, mas que “ainda não é catastrófico”.
Em relação ao futuro próximo, o mesmo Polónio avisa que resta aos empresários “navegar à vista, fazer das tripas coração e inventar”.
“Estamos a pôr um motorista a fazer uma carga outro uma descarga. Estamos a tentar otimizar ao máximo os meios. E, às vezes, alguns transportes atrasam um pouco, porque começa a não haver resposta”, lamenta.
Pedro Polónio declara que esta situação já se começou a fazer sentir na semana passada, mas “hoje foi uma brutalidade”. “Começa a sentir-se o efeito das duas festas”, reconhece.
Preocupação
Já a ANTROP, associação que representa as empresas de transporte de passageiros, segundo o presidente Luís Cabaço Martins ainda não tem conhecimento direto da situação no terreno, mas não esconde que considera “preocupante” o que poderá estar por vir.
“Temos duas preocupações: termos um número elevado de motoristas impossibilitados de trabalhar, e isso poder provocar perturbações nos serviços; e o encerramento de serviços”, enumera.
Cabaço Martins afirma que o “absentismo aumentou desde que há Covid, mas ainda não ao ponto de pôr em causa a normalidade dos serviços”.
No final do mês, Portugal poderá ter mais de meio milhão de pessoas confinadas, segundo a estimativa avançada à Renascença por Carlos Robalo Cordeiro, membro do grupo de peritos da Ordem dos Médicos e do Instituto Superior Técnico.
Carlos Robalo Cordeiro aponta para a possibilidade do nosso país chegar a um pico de 100 mil casos diários de Covid-19 entre os dias 20 e 24 de janeiro.
João Carlos Malta
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