Diogo Queiroz de Andrade, Director adjunto
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É verdade que o dia amanheceu triste, com a notícia da morte do extraordinário Stephen Hawking. Mas o próprio certamente teria preferido uma abordagem mais, digamos, relativa: tivemos o prazer de conviver com um dos mais extraordinários exemplares de toda a espécie humana, de aprender com ele e de nos maravilharmos com os mundos que ele nos deu. Celebremos pois Hawking e celebremos também a humanidade que, muito de vez em quando, nos oferece uma surpresa destas.
A equipa do Público começou logo a meio da madrugada a construir um perfil do cientista extraordinário, a tomar nota de algumas das suas frases mais marcantes e também a captar as primeiras reações à notícia da morte. Ao longo do dia vamos continuar a actualizar estes trabalhos e a tentar a tarefa hercúlea de perceber quão mais ricos nos tornámos por ter tido acesso a esta mente extraordinária. Podemos também aproveitar para valorizar o método científico de aquisição de conhecimento, que vai garantindo a nossa sobrevivência mesmo contra a ignorância e a estupidez.
Por falar em ignorância, a Natália Faria mostra bem como uma ameaça política leva a comportamentos desmesurados: as atrocidades que se cometeram durante a campanha de limpeza das florestas começam agora a ser entendidas, ainda antes do período de fiscalização que ainda pode levantar vários problemas. Ainda sobre os incêndios, o governo já cedeu e confirmou que vai gastar mais do que queria, embora fique com menos serviços aéreos – a Liliana Valente explica como os atrasos do executivo prejudicaram o negócio e os meios à disposição.
Ainda dentro do tema ignorância, convém valorizar a importância científica das vacinas, numa altura em que um possível surto de sarampo volta a ocorrer. Será um caso de impacto limitado e fruto de contacto com um cidadão estrangeiro não vacinado, que poderá ter espalhado a doença num grupo de funcionários hospitalares. Na mesma área, também vale a pena perceber a importância do doutoramento do médico Paulo Simões em que resume os 50 anos do Serviço Nacional de Saúde. Transitando para o próximo capítulo, é importante notar que a polémica com a pseudo-presença em Berkeley do novo vice-presidente do PSD já chegou à Procuradoria-Geral da República.
Passemos à estupidez. Donald Trump voltou a mexer nas equipas próximas do poder: escolheu para secretário de estado Mike Pompeo, um homem que não acredita nos acordos para combater as alterações climáticas, que recusa a diplomacia para negociar com o Irão e que quer a pena de morte para Edward Snowden. Logo a seguir anunciou para directora da CIA Gina Haspel, uma mulher que liderou um centro de tortura em que os presos dormiam em caixões (quando dormiam) e em que o waterboarding era prática corrente. Para compensar, os eleitores da Pensilvânia deram durante a madrugada uma estrondosa vitória ao Partido Democrata na eleição de um lugar para a câmara dos representantes numa zona onde Trump tinha vencido claramente as presidenciais. E como as acusações de nepotismo não ficam só por Washington, também em Bruxelas se investiga a estranha (e meteórica) ascensão de Martin Selmayr a secretário-geral da União Europeia. Combatendo também decisões desprovidas de inteligência, o Ministério Público fez questão de impôr recurso da absolvição de Manuel Maria Carrilhoquando foi julgado pela acusação de violência doméstica. Fechando o capítulo da estupidez, foi apresentado no Festival de Chocolate de Óbidos um bombom de 7728 euros, que é revestido a ouro – felizmente o bilhete para o Festival só custa seis euros e meio e vale mesmo a pena provar muito do que lá está.
Antes do fecho, notas rápidas para mais leituras: a nova exposição do Mude que que cruza o Atlântico para encontrar o português plural, a nova revista Electra que chega ao mercado pela mão de António Guerreiro e uma interessante proposta de Jorge Faustino para melhorar uma outra actividade cultural conhecida como futebol.
E termino, como não poderia deixar de ser, com ciência: uma grande investigação permitiu esclarecer um dos mistérios da evolução das espécies e clarificar o papel do Archaepterix, o animal que estava entre os répteis e as aves. A Teresa Serafim guia-nos pelo mistério quase policial que ficou agora desvendado e que serve para lembrar a importância do método científico para a aquisição do conhecimento.
Recordemos, pois, Stephen Hawking, fazendo mais do que ele nos pediu: olhemos para as estrelas. Até amanhã.
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