Por Natasha Romanzoti, em 9.07.2018
De acordo com uma equipe internacional de pesquisadores de 17 países, o aumento da temperatura como resultado do aquecimento global pode ser o dobro do que foi projetado pelos modelos climáticos.
Como resultado, o nível do mar pode subir seis metros ou mais, causando a submersão de grandes centros urbanos, além de muitas outras mudanças profundas no nosso ecossistema, mesmo se atingirmos a meta de um aumento máximo de temperatura de 2 graus Celsius, conforme estabelecido pelo Acordo Climático de Paris.
Não estamos fazendo o suficiente
As descobertas foram baseadas em evidências de três períodos quentes nos últimos 3,5 milhões de anos da Terra, em que as temperaturas globais estavam 0,5 a 2 graus Celsius acima das temperaturas pré-industriais do século XIX.
Isso pode significar que o acordo climático – que visa limitar o aquecimento global a 2 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais – pode não ser suficiente para evitar uma catástrofe.
A taxa de aquecimento global também é notável: “As mudanças que vemos hoje são muito mais rápidas do que qualquer coisa encontrada na história da Terra”, explicou uma das autoras do estudo, Katrin Meissner, da Universidade de New South Wales, na Austrália.
O passado quente
Ao olhar para o passado da Terra, os cientistas podem prever como será o seu futuro. No estudo, eles analisaram três períodos naturalmente quentes documentados na história do planeta: o máximo térmico holocênico, que ocorreu 5.000 a 9.000 anos atrás, o último interglacial, que ocorreu 116.000 a 129.000 anos atrás, e o período quente do Plioceno médio, que ocorreu 3 a 3,3 milhões de anos atrás.
Combinando uma ampla gama de medições de núcleos de gelo, camadas de sedimentos, registros fósseis, datações usando isótopos atômicos e muitos outros métodos paleoclimáticos estabelecidos, os pesquisadores reuniram os principais impactos dessas mudanças climáticas.
No caso dos dois primeiros períodos examinados, o aquecimento foi causado por mudanças na órbita da Terra. O evento do Plioceno médio foi o resultado de concentrações atmosféricas de dióxido de carbono que estavam em níveis similares aos atuais.
Em cada caso, o planeta aqueceu a uma taxa muito mais lenta do que está aquecendo hoje, como resultado do aumento das emissões de gases causadores do efeito estufa como resultado da atividade humana.
Efeitos esperados
No geral, os pesquisadores descobriram que o aquecimento sustentado de um a dois graus Celsius vem acompanhado por reduções substanciais das camadas de gelo da Groenlândia e da Antártida e aumentos do nível do mar de pelo menos seis metros – vários metros acima do que os modelos climáticos atuais podem prever até 2100.
A pesquisa também revelou como grandes áreas das calotas polares poderiam entrar em colapso e mudanças significativas nos ecossistemas poderiam fazer com que o deserto do Saara se tornasse verde e as bordas das florestas tropicais se transformassem em savanas dominadas por incêndios.
Meissner disse que “não podemos comentar até que ponto no futuro essas mudanças ocorrerão”. Segundo a cientista, “modelos climáticos parecem ser confiáveis para pequenas mudanças, como para cenários de baixas emissões em curtos períodos, digamos nas próximas décadas até 2100. Mas à medida que a mudança se torna maior ou mais persistente, parece que eles subestimam a mudança climática”.
“As observações dos períodos de aquecimento anteriores sugerem que vários mecanismos amplificadores, que são mal representados nos modelos climáticos, aumentam o aquecimento a longo prazo para além das projeções do modelo climático”, concluiu Hubertus Fischer, da Universidade de Berna, na Suíça, um dos principais autores do estudo.
Um artigo com os resultados do estudo foi publicado na revista científica Nature Geoscience.
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