Jornal da Madeira |
Na vida, tenho-me encontrado com vários psiquiatras, apenas por motivos culturais ou amistosos.
Durante a minha juventude, visitava manicómios, que agora se denominam hospitais psiquiátricos. Dialogava com os internados e com quem tratava deles.
Nestes estabelecimentos, evocava a sabedoria popular: “De médico e louco, todos temos um pouco”. Com ambos havia sempre algo a aprender. Não me apropriava das palavras de Salvador Dali: “A única diferença em relação a um homem louco é que eu não sou louco!”
Um psiquiatra amigo publicou um texto (Idosos aprendem a envelhecer com autoestima), que me enviou e eu reencaminho. O autor tem doutoramento em psiquiatria e muita experiência.
Pela minha parte, deveria ter lido essa reflexão há mais de 40 anos… Chegou tarde para mim; mas, para si, que vive intensamente, talvez traga algum proveito…
Idosos aprendem a envelhecer com autoestima
O dia do idoso (1 out.) pode ser aproveitado para reduzir constrangimentos de idade, melhorar a saúde e promover a ecologia integral (Laudato Si, cap.4).
Desastre seria propor a legalização da interrupção da vida do leitor idoso por ser doente. Mesmo usando palavras bonitas (?), para disfarçar o odioso, como as de interromper a vida de uma criança antes de nascer à maneira de Margaret Sanger. Ou até sugerir a “higienização” do planeta tirando dele os idosos. Se ficou chocado, não fique na panela como a rã, até ser tarde.
Falemos antes da capacidade de os idosos aprenderem a envelhecer; e logo aos 40 anos, para viverem melhor aos 80.
Os idosos aprendem? Sim. Aprendem ou desaprendem. A grande maioria aprende.
A neurociência corrige o preconceito oposto: o cérebro do idoso aprende a esquecer, a lembrar; e aprende mesmo na idade na velhice. Aprender exige repetição dos atos de pensar e agir que se querem aprender: aprende-se saúde e doença.
Aprende-se a desativar hábitos destrutivos, a reativar os úteis e saudáveis; e novos conhecimentos e hábitos de viver com saúde, memória funcional, a fixar e a recordar. E ainda a cultivar o bem-estar, o bem-fazer e o sentido de vida harmoniosa.
Um professor americano de Harvard (Arthur Brooks), num ensaio sobre a reforma e o tapete rolante do envelhecimento, aplica a si o que vai descobrindo. Do cume da sua carreira de sucesso, aos 50 anos, pôs-se a aprender a envelhecer com mais sentido e a aliviar-se de cargos institucionais. Dá dicas curiosas.
Tentar subir sempre no narcisismo de ser o maior será um erro que reduz o bem-estar e traz infelicidade; e mais, se ainda quiser aumentar a riqueza e a fama, os prazeres e as guerrinhas. Teimar alimentar a vaidade e suplantar os outros, adorar o seu ego narcisista, nome que a neurociência dá ao orgulho, não resulta.
A propósito, outro neurocientista num livro com o título estranho de “ciência do pecado” (Jack Lewis) (sobre os sete pecados capitais, imaginem!), explica como todos os pecados têm nomes na psicopatologia e neurociências.
O Prof. Brooks, esse, até chega a dizer que se pode aprender o bem-estar do envelhecimento de forma curiosa: viver como gostaria que se falasse de si mesmo no seu próprio velório!
Mau gosto de pensar na morte, dirão. Não. Ajuda a ser mais saudável e feliz. Os ricaços do Evangelho (Lc 12, 13-21 e 16, 19-31) esqueceram-se de que morriam!
A neurociência começa, e ainda bem, a investigar os objetivos e sentidos de vida das pessoas: dinheiro, fama, luta, prazer, dar-se bem com os outros.
A longevidade e envelhecimento mais saudável e feliz combinam mais com a harmonia de ser bom. Os cientistas do pecado e do cérebro consideram um erro uma velhice narcisista (orgulhosa) para acrescentar dinheiro (avareza) e fama.
Narcisismo será um traço patológico a rimar com soberba, vaidade, avareza, luxúria, inveja e ira, segundo a neurociência do pecado! E alterna com depressão, tristeza, dor de inveja e impulsos de ira.
Muita riqueza tenta o narcisista a consumir em excesso, a comprar, ostentar, envaidecer-se com luxos: “eu tenho mais que tu”!
E que tem tudo isto a ver com aprender a envelhecer? Têm a ver com a verdadeira autoestima equilibrada do bondoso e feliz.
Autoestima falsa, sem equilíbrio, dá em ímpetos de narcisismo e depressão, tristeza.
Sem equilíbrio não há virtude nem saúde; os hábitos bons dão lugar aos maus, esquecem os saudáveis e bons e ficam os vícios. Uns e outros são aprendidos; uns e outros podem ser desativados e reativados.
Os idosos precisam de aprender a esquecer e desativar os dos excessos do ter, consumir, que levam a doenças; e a aprender e reativar os do equilíbrio, de saúde e bondade. A autoestima precisa de equilíbrio.
Já os romanos repetiam: in médium est virtus (a virtude não é extremista). Os bons hábitos e a autoestima evitam os excessos dos vícios e a ausência de ações de bem-fazer e de benevolência para com o maior número de pessoas.
Os bons hábitos são ecologia integral, isto é, para dentro e para fora das pessoas. Partilham recursos abundantes no bem comum; com os pobres e miseráveis, crianças, jovens, adultos e idosos.
Os idosos desde os 40 anos podem perguntar-se e responder: vida para quê? Os idosos aprendem e ensinam!
Funchal, Dia dos Idosos, Outubro 2019 / Aires Gameiro
Portalegre
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