As brasileiras Flora Lahuerta e Mayra Sergio estão a recolher informações sobre o ritual da Encomendação das Almas junto de alguns grupos do concelho de Proença-a-Nova que ainda mantêm viva esta tradição, realizada habitualmente na altura da Quaresma, no âmbito o projeto “Performing Loss”. A artista Mayra Sergio encontra-se a realizar a mesma pesquisa no Brasil e na Nigéria onde também existem cantos fúnebres e tradições rituais de luto com o objetivo de se inspirar para, a partir do material recolhido, criar uma instalação artística que, neste caso, poderá incluir um coro. “É o uso da voz que me interessa”, revela a artista que reside atualmente na Holanda.
Um exame ao seu código genético revelou ligações aos três países que fazem parte desta investigação. Para além da performance, Mayra Sergio irá também escrever um livro que retrata a viagem, a pesquisa que está a realizar e as pessoas com quem se tem encontrado. Uma das perguntas a que tentará dar resposta é “como é que sem religião podemos construir rituais?”, tendo em conta o facto de vivermos em sociedades cada vez mais laicizadas. “A arte tem um importante papel a este nível”, acrescenta, nomeando a importância do canto, da dança e da expressão do lúdico. Flora Lahuerta, aluna de mestrado em Antropologia na Universidade Nova de Lisboa, está a auxiliar no projeto que recebeu financiamento do fundo Mondriaan da Holanda. A expetativa é que no decorrer do próximo ano tanto o livro como a instalação sonora estejam concluídos.
Esta já não é a primeira vez que o ritual da Encomendação das Almas serve de inspiração artística. João Pereira, que recentemente realizou a exposição de pintura “O Olhar das Coisas” na Galeria Municipal, ofereceu a pintura “O Cantar das Almas” ao Município (e que está presente na fotografia com Flora Lahuerta e Mayra Sergio). Também os alunos da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa já realizaram uma residência artística de medalhística tendo como inspiração a Encomendação das Almas. O tema da última edição do Prémio Literário Pedro da Fonseca incidiu precisamente neste ritual e no do Cantar das Janeiras. O livro com os textos premiados será apresentado publicamente no dia 7 de dezembro (às 17h00, na Casa das Associações) e conta igualmente com um texto introdutório de Pedro Antunes, que se encontra a realizar o doutoramento em Antropologia: Políticas e Imagens da Cultura e Museologia sobre a encomendação das almas, tendo chegado a residir na aldeia de Corgas para acompanhar mais de perto esta dinâmica local.
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