quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Religião | “Guerra ao Natal” na tentativa de abolir esta magna celebração


  • Plinio Maria Solimeo

    Infelizmente, nos últimos tempos, com a decadência religiosa que grassa em todo o mundo, a comemoração do Natal — a festividade mais popular do calendário católico e mesmo do profano — foi gradativamente perdendo seu sentido religioso, até chegar em nossos dias, a se transformar num acontecimento praticamente comercial.

    Já vem de longe a oposição à comemoração do Natal. Por exemplo, no século XVII, os protestantes puritanos o proibiram a seus membros. Mais tarde, na França, durante a ímpia Revolução Francesa — que substituiu o culto ao verdadeiro Deus pelo da “deusa razão” — essa festa foi banida. Já no século XX, as celebrações de Natal foram também proibidas não só na ateia Rússia soviética, mas em quase todos os países do bloco comunista.

    A esse respeito, temos a salientar um fato que mereceu realce na campanha eleitoral de Ronald Reagan para a presidência dos Estados Unidos. Numa de suas inúmeras transmissões de rádio ele comentou um fato que ocorreu na Ucrânia quando sob jugo comunista:

    Havia naquele país uma canção favorita de Natal, Nova Radist Stala (Notícias felizes chegaram até nós), que começava com estas palavras: Chegaram até nós as boas notícias que nunca o foram antes. Sobre uma gruta, acima de uma manjedoura, uma estrela brilhante iluminou o mundo, onde Jesus nasceu de uma donzela Virgem.

    Ora, os dirigentes comunistas, que queriam apagar no povo a noção de Natal, mas que não ousavam enfrentar o clamor público caso suprimissem essa tradicional melodia, procuraram então secularizá-la, relacionando-a de algum modo com sua seita atéia. Assim, num primeiro momento, alteraram a letra da música para: Chegaram as alegres notícias, que nunca o foram antes. Uma estrela vermelha com cinco pontas iluminou o mundo.

    Entretanto só isso não satisfazia à sanha atéia dos soviéticos. Eles queriam ser mais específicos. Por isso alteraram finalmente a letra da música para: Chegaram as alegres notícias que nunca o foram antes. A tão esperada estrela da liberdade iluminou os céus em outubro (Revolução Comunista). Onde antigamente viviam os reis e tinham suas raízes seus nobres, hoje em dia, com pessoas simples, paira a glória de Lenin.

    Contudo, tanto na Ucrânia quanto em toda a União Soviética, muitos cristãos desafiavam os dirigentes comunistas, cantando nas ruas canções de Natal, mesmo com risco de serem presos. Foi o que ocorreu na Romênia comunista, quando um sacerdote católico romano, Pe. Geza Palffy, depois de um sermão em 1983, no qual protestava contra o fato de o dia 25 de dezembro ter sido declarado dia de trabalho, foi preso pela polícia secreta, espancado, e morto.

    Citando esses fatos, o futuro presidente americano concluiu afirmando que, no entanto, dentro e fora da Cortina de Ferro, os ucranianos nunca cessaram de cantar: Nós vos imploramos, Senhor nosso, e hoje oramos a vós: Concedei-nos liberdade, devolvei a glória à nossa Mãe Ucrânia.

    O que levou Reagan, no término de sua transmissão, a afirmar: “Acho que todos esperamos que a oração deles seja atendida”. O que de fato sucedeu.

    Mais recentemente, no início do século XXI, começou nos Estados Unidos, no Canadá, e em parte no Reino Unido, uma verdadeira campanha para banir os símbolos do Natal dos lugares públicos, inclusive das grandes lojas do país como Wal-Mart, Macy’s e Sears. As decorações com algum sentido religioso foram abolidas, e os funcionários instruídos a não dizer mais Feliz Natal aos clientes, mas apenas Boas Festas, ou Saudações da Estação (Inverno).

    Isso apesar de, por motivos comerciais mais que religiosos, manterem ainda alguns aspectos da festa, como luzes e alguma decoração, mas associando-os a “feriados”, e não mais especificamente à festa do nascimento do Menino Jesus. Pelo que Feliz Natal tornou-se então o grito de guerra de milhões de americanos que lutavam contra essa mutação politicamente correta do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo.

    Sob essa pressão atéia, mesmo órgãos do Governo e escolas foram forçados a banir as comemorações do Natal com conotação religiosa. A “União Americana das Liberdades Civis” por exemplo, uma ONG que defende o “casamento” homossexual e os direitos dos LGBTs de adotarem crianças, o controle da natalidade e o aborto, a discriminação contra as mulheres e as minorias LGBTs, argumentou que exibições e imagens de Natal financiadas pelo Governo violam a Constituição americana, sobretudo a Primeira Emenda, que proíbe o estabelecimento pelo Congresso de uma religião nacional. O que foi refutado sobejamente pelos movimentos conservadores.

    Desse modo foram suprimidos as árvores de Natal e os presépios em lugares públicos e nos grandes shopping centers, enquanto que o “menorah” judeu e outros símbolos religiosos eram permitidos. Em muitas escolas, também as canções natalinas foram abolidas.

    Essa campanha organizada contra a comemoração do nascimento do Menino Jesus, e a controvérsia suscitada, foi descrita pela mídia como uma “Guerra ao Natal”.

    Isso, como dissemos, suscitou muita reação, principalmente nos Estados Unidos, onde foi fundada uma associação com o nome de Liberty Counsel (“Conselho da Liberdade”), para combater essa iniciativa malsã. Seu presidente, Mat Staver, afirmou então: “A guerra contra o Natal não é novidade. As forças repressivas sempre tiveram o mesmo objetivo: primeiro secularizar, e depois eliminar o Natal. Vemos que isso vai aumentando a cada ano, quando grupo de ateus tentam proibir qualquer representação do Natal. Precisamos conhecer nossos direitos, e nunca tomar nossa liberdade como garantida”.

    O Liberty Counsel juntou-se à American Family Association, para pedir o boicote às grandes cadeias do varejo que tinham sucumbido à pressão atéia, exigindo que se voltasse a usar o termo “Natal” em vez de “Festas” na publicidade impressa, televisiva e on-line dessas lojas.

    E isso surtiu efeito, pois no dia 9 de novembro de 2006, o gigante Wal-Mart anunciou estar novamente endossando o Natal em suas lojas, imprensa, rádio e televisão. Em uma de suas campanhas publicitárias, podia-se ver crianças brincando perto de um Presépio e de uma árvore de Natal. Sua “loja de férias” tornou-se então a “loja de Natal”. Seu porta-voz confessou: “Aprendemos nossa lição do ano passado, e estamos usando o Natal este ano no Wal-Mart. Vamos usá-lo mais cedo, e com frequência!”.

    Além do Wal-Mart, outros grandes varejistas, como Dillards, JC Penny, L.L. Bean, Linens ‘Things, Target, Kohl’s, Sears, Kmart e Macy, colocaram o Natal claramente de volta em suas mensagens aos consumidores. Embora nem todos os varejistas tenham aderido à onda, a mensagem tornou-se clara: o Feliz Natal estava de volta nos shoppings!

    Mas nem todos cantaram no mesmo tom. Seguindo a onda anti-Natal tardia, a rede de cafeterias Starbucks, em novembro de 2015, em vez da alusão à festa em suas xícaras e copos, como fazia sempre nos anos anteriores, apresentou xícaras somente vermelhas, com seu logotipo.

    O que foi visto pelo público como um combate ao Natal, e provocou muitas reações nas redes sociais, chegando mesmo à campanha eleitoral de 2016. Com efeito, o candidato republicano Donald Trump uniu-se aos que pediam o boicote à Starbucks, afirmando que “se eu me tornar presidente, todos nós iremos dizer novamente ‘Feliz Natal’”.

    Ele cumpriu a promessa quando eleito, com o retorno do “Feliz Natal” na Casa Branca, bem como do tradicional presépio que não havia sido usado no ano anterior.

    Continuando coerente com esse seu propósito, o presidente Trump, no dia 6 de dezembro deste ano de 2019, no dia dos Santos Reis, ao acender a iluminação da “National Christmas Tree”, disse a uma multidão diante da Casa Branca: “Há mais de dois mil anos, uma estrela brilhante apareceu no Oriente. Homens sábios [Reis Magos], vieram de longe, e se puseram sob a estrela, onde encontraram a Sagrada Família em Belém. Como a Bíblia nos conta, quando os Reis Magos entraram na gruta, viram o infante Menino com Maria, sua Mãe, e ajoelharam-se e O adoraram. Os cristãos dão graças porque o Filho de Deus veio ao mundo para salvar a humanidade. Jesus Cristo nos inspira a amarmos uns aos outros, com corações cheios de generosidade e graça”.

    O presidente concluiu: “No Natal nós lembramos essa verdade eterna: cada pessoa é um filho amado de Deus. Como uma nação agradecida, louvamos a alegria da família, as bênçãos da liberdade, e o milagre do Natal. Em nome de Melânia e de toda minha família, Feliz Natal, e Deus vos abençoe a todos”.

    Isso poderia ter sido dito por um sacerdote, mas muito mais raramente por outro presidente da República de nossos dias, que dificilmente teriam a coragem de serem tão impoliticamente corretos…
ABIM
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