sábado, 16 de setembro de 2017

Opinião | Quando o lixo cheira bem

Paulo Baldaia
A dívida pública, que tanto tem pesado no bolso dos portugueses, continua a ser lixo para alguns (Moody"s e Fitch), deixou de ser para a Standard & Poor"s e nunca foi para a canadiana DBRS. Não é preciso ser de extrema-esquerda para reconhecer que a avaliação que estas agências fazem é um mero exercício de especulação. Elas presumem que determinada economia vai ter uma evolução num determinado sentido e que isso terá implicações na capacidade de esse país ou essa empresa pagar o serviço de dívida. Se o risco aumenta, os mercados determinam que o preço do dinheiro também aumenta. E quando há muita gente ao mesmo tempo a dizer que o risco é grande, o preço do dinheiro aumenta muito.

Para os grandes investidores em dívida pública este é, aliás, o melhor dos mundos. É quando o lixo cheira bem. Estas agências ajudam os investidores a ganhar muito dinheiro. É o verdadeiro toque de Midas, o de alguém que consegue comprar "lixo" e transformá-lo em ouro, com juros a rondar os 7% e 8% ao ano.

Descontando se está bem ou mal, é o que há. São os mercados a funcionar, quem quer compra, quem não quer previne-se e não tem de comprar. Olhemos para o caso português e para 2011, altura em que Moody"s, Standard & Poor"s e Fitch nos colocaram na categoria de lixo. Para ir pagando (lembram-se?) tivemos de ir ao mercado, pagando juros cada vez mais altos, até que os juros se tornaram insuportáveis e tivemos de chamar a troika.

Quem nos emprestou dinheiro durante esse espaço de tempo comprou "lixo", porque corria o sério risco de não receber a totalidade ou parte (como aconteceu a muitos investidores na Grécia). A verdade é que recebeu, a verdade é que Portugal nunca falhou os pagamentos devidos, embora durante algum tempo só tenha conseguido pagar com dinheiro que a "odiada" troika emprestou. Seja como for, quem nos comprou o "lixo" fez um grande negócio, porque muitos portugueses se sacrificaram e andaram eles mesmo ao lixo para isto resultar. Convinha que isto nunca mais voltasse a acontecer.

Fonte: DN
16 de Setembro 2017

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