quinta-feira, 19 de julho de 2018

A farsa orçamental

A negociação do Orçamento do Estado para 2019 vai ser uma farsa com vários actos, característica que os factos recentes se têm encarregado de demonstrar.
Celso  Filipe
Celso Filipe 18 de julho de 2018 às 23:00

Neste teatro que se vai fazendo, o PCP recusa as "pressões inaceitáveis" de António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa e o Bloco de Esquerda vai dizendo que um acordo no pacote laboral é decisivo para as negociações do Orçamento para o próximo ano. Enquanto isso, o primeiro-ministro avisa que o próximo OE terá de ser de continuidade.

Isto é o que se passa no domínio da semântica, porque a realidade é outra e mostra que o entendimento entre a geringonça, para a viablização do Orçamento de 2019, é uma inevitabilidade. Um sinal evidente disto mesmo é o facto de o Bloco e o PCP terem chumbado as propostas do PSD e do CDS de redução do ISP (Imposto Sobre Produtos Petrolíferos). Se o PCP e o Bloco fossem simplesmene oposição, este desfecho seria possível? Claro que não. O que vai acontecer é que essa descida será efectuada em sede de Orçamento, tal como o Governo já tinha admitido, permitindo que tanto o Bloco como o PCP, nessa altura, possam reclamar vitória.

Um outro sinal de que estes arrufos são cénicos é visível na decisão do PS em aprovar, na generalidade, as propostas daqueles partidos em matéria laboral, uma visando facilitar a contestação de despedimentos e outra criando novas restrições ao trabalho temporário. Ao mesmo tempo, a proposta do Governo de alteração ao Código do Trabalho será viabilizada com a abstenção do PSD. Todas elas baixam à especialidade e serão debatidas depois do Verão, com tempo, e, eventualmente, cirúrgicas derrapagens de calendário.

O Orçamento será viabilizado porque é o único caminho possível para toda a geringonça. O PS, que é Governo, não se pode dar ao luxo de ser apontado como criador de instabilidade política, porque isso o penalizaria eleitoralmente e daria ao Presidente da República um espaço de acção que poderia ser fatal para António Costa. O Bloco e o PCP sabem que, contribuindo para a fragilização dos socialistas, poderiam ser acusados de abrir caminho para o regresso do PSD ao poder. Aliás, nunca antes influenciaram tanto a governação.

Dito de outra forma, o Orçamento será aprovado porque constitui o mal menor para os membos da geringonça e as suas ambições eleitorais. Entretanto, vão todos representando pequenas farsas para quem ninguém pense que são favas contadas. Ao PSD e CDS resta-lhes batalhar para mostrarem a incoerência ideológica desta solução governativa.

Fonte: jornaldenegocios

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