domingo, 14 de abril de 2019

Opinião | O Dever

Joaquim Carlos*

O dever! Que força mágica tem esta palavra! O dever bem cumprido enriquece o indivíduo e as nações; o dever desprezado pode arruiná-los. Os povos que cumprem o seu dever alcançam sempre vitória sobre os inimigos; aqueles que são desleixados são condenados a desaparecer. 

Numa velha igreja de um país estrangeiro existe uma imagem interessantíssima que representa as diversas vocações que os homens podem seguir. Ali se via o Papa, em toda a sua pompa, com esta inscrição por baixo: «Sou eu que vos ensino a todos»… um imperador com esta legenda: «Sou eu que nos governo a todos»… um general do exercito, de espada em punho, que anuncia: «Sou eu que vos defendo a todos»… um agricultor que abre um fundo sulco com a charrua e diz «Sou eu que vos alimento a todos»… e, bem ao fundo do quadro, um demónio fazendo esgares e chacoteando: «Sou que eu vos levo a todos, se não cumpris o vosso dever».

Que ideia profunda se esconde atrás destas cores! Que importa que sejas neste mundo imperador ou agricultor, se cumpres o teu dever! A vida humana é uma imensa peça de teatro, e é o próprio Deus quem distribui os papéis. Não depende de ti receber este ou aquele, mas depende de ti desempenhar bem ou mal o teu. O que é importante é como se desempenha, e não o que se desempenha. Pode acontecer que se pateie aquele que faz o papel de imperador porque o desempenhou mal, e que, inversamente, se aclame aquele que fez o papel mais modesto de um aprendiz de sapateiro.

Com frequência oiço os jovens dizerem-me, lamentando-se: «Não sei que carreira seguir! Em todas há gente de mais»! Não temas tu! Em todas as carreiras há sempre penúria de homens hábeis, activos e fiéis ao seu dever!

A fidelidade inabalável ao dever encerra uma grande força educativa. Faz sempre o que a tua situação tem direito a esperar de ti, e, sobretudo, aquilo que não gostas de fazer. Acredita no poeta que nos assegura que o valor da vida não se mede pelos desvios satisfeitos, mas pelos deveres bem cumpridos:
Não ´stá, ó homens, a felicidade,
Nesta vida de amargo sofrer,
Em nossos desejos bem satisfeitos,
Mas no bom cumprimento do dever.

Uma vida sem trabalho assemelha-se a um quadro sem imagem.

Li em algures, que durante a guerra de 1914 a 1918, os dois ocupantes de um avião foram atingidos por um obus no momento em que regressavam à base, após um voo de reconhecimento.

O oficial encarregado de notificar as posições do inimigo morreu imediatamente, mas o piloto, apesar das feridas mortais, conseguiu aterrar à retaguarda das próprias linhas. Correram logo para ele. Queres saber quais foram as suas últimas palavras? Por frases entrecortadas descreveu as posições inimigas registadas no aparelho fotográfico que o seu companheiro apertava ainda na mão crismada. E, à hora em que os dois eram enterrados, foram tomadas as referidas posições. Que herói do dever cumprido até o fim!

Vivemos numa sociedade em que se reclama mais por direitos, em detrimento dos deveres. Porque será? Por acaso não dependemos todos uns dos outros, independentemente da profissão de cada um? Vamos assumir a responsabilidade pelos deveres, porque os direitos vêm por acréscimo.

*Director

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