A Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) lançou nesta segunda-feira (20) a Oferta Pública de Venda (OPV) das suas acções numa corrida contra o tempo para garantir o cumprimento da promessa de Filipe Nyusi, que está a pouco meses de terminar o seu 1º mandato. Porém ,em vez dos 7,5 prometidos em 2017 pelo Chefe de Estado, estarão disponíveis na Bolsa de Valores de Moçambique (BVM) apenas 2,5 por cento do capital social da HCB cujos Administradores deram a entender não estarem muito preocupada com o valor que poderão obter dessa venda que é destinada apenas a cidadãos e empresas nacionais.
Enfim arrancou o processo público que irá culminar a 12 de Julho com a admissão da Hidroeléctrica de Cahora Bassa na Bolsa de Valores de Moçambique. “Tem início hoje o processo de comunicação, divulgação desta operação, estendendo-se por um período de 4 semanas, a partir de 17 de Junho até 12 de Julho de 2019, todos os cidadãos, empresas e instituições nacionais com apetência e que sejam elegíveis poderão fazer a sua subscrição para a compra de acções da HCB”, declarou o Presidente do Conselho de Administração (PCA) da empresa, Pedro Couto.
Esta OPV, que segundo Couto pretende alcançar “maior inclusão económica dos moçambicanos e acrescentar valor a expressão muito conhecida Cahora Bassa é nossa” e tornar a empresa “, é apenas para moçambicanos que sejam trabalhadores da HCB, pequenos investidores singulares, grandes investidores singulares, empresas onde os capitais nacionais sejam superiores a 50 por cento e fundos de pensão.
O custo inicial de cada acção é de 3 Meticais. Investidores da BVM ouvidos pelo @Verdade garantem que é um bom investimento, a possibilidade de lucro é garantido e muito grande, comparando por exemplo com empresas de dimensão bem menor mas cujas acções estão hoje cotadas em 160 Meticais, caso das Cervejas de Moçambique, ou 900 Meticais, que é quanto valorizaram cada acção da Companhia Moçambicana de Hidrocarbonetos.
No entanto esta Oferta Pública de Venda inicial contraria a promessa que Filipe Nyusi fez a 26 de Novembro de 2017, no Songo, de dispersar 2.060.661.944 acções correspondentes a 7,5 por cento do capital social da Hidroeléctrica de Cahora Bassa. Nesta primeira tranche a hidroeléctrica que produz energia para os sul-africanos vai apenas colocar no mercado 686.887.315 acções ordinárias, nominativas e escriturais, correspondentes a 2,5 por cento do seu capital social.
HCB não revela quando pretende obter com Oferta Pública de Venda
Couto explicou a jornalistas que após esta primeira tranche, “segue-se após um processo de avaliação como foi executado e analisa-se o momento de realização das tranches subsequentes”.
“As razões que levaram a definição de uma tranche inicial são sobejamente conhecidas, o mercado de capitais ainda é inicial e a operação da HCB com 7,5 por cento da acções cotadas em bolsa é uma mudança grande em termos de envergadura e complexidade de acção, e a necessidade de inclusão obriga-se que se faça um processo de divulgação e aprendizagem dos cidadãos ou dos investidores nacionais”, tentou explicar o PCA.
No discurso que fez durante a cerimónia pública que aconteceu na Cidade de Maputo, Pedro Couto afirmou que a cotação da HCB em Bolsa “representa um pilar adicional da consolidação do processo de gestão deste empreendimento, alicerçando-se assim cada vez mais a transparência e aderência às boas práticas internacionais de gestão corporativa, visto que passará a estar mais exposta ao escrutínio público”.
Porém a Hidroeléctrica de Cahora Bassa continua a não revelar completamente várias nuances da sua gestão a começar pelo preço de venda de energia a Eskom, o @Verdade apurou que ronda os 0,51 cêntimos do Dólar por quilowatt/hora, dez vezes menos do que o preço que vende à Electricidade de Moçambique.
Paradoxalmente a participação de 85 por cento do Estado Moçambicano na HCB é feita através da Companhia Eléctrica do Vale do Zambeze (CEZA), uma Sociedade Anónima que tem como único accionista a deficitária Electricidade de Moçambique e que foi criada para a gestão do serviço da dívida com os credores da reversão. Oficialmente a reversão ficou concluída em 2017.
Além disso, questionado pelo @Verdade sobre quanto dinheiro a empresa que dirige pretende obter com esta OPV, o Presidente do Conselho de Administração da HCB passou o microfone primeiro para o representante do Banco BIG, Joel Rodrigues que afirmou que “é difícil falar dos 7,5 por cento”.
Resultados da HCB em 2018 são o dobro do valor base da venda de 2,5 por cento de acções
Diante da insistência do @Verdade, afinal a abertura do capital na BVM é divulgada como uma fonte de financiamento alternativa aos bancos, o Administrador Financeiro da hidroeléctrica, Manuel Gameiro, começou por esclarecer que: “fonte de financiamento alternativa é um dos objectivos, entretanto a empresa persegue outros objectivos com esta transacção, para além da inclusão temos a questão, que é fundamental para uma empresa da dimensão da HCB, que é a consolidar o processo de aderência da empresa as boas práticas internacionais, que é um pilar fundamental para o crescente aumento da credibilidade da empresa junto de financiadores, fornecedores”.
“Há-de recordar que a HCB é uma empresa de capital intensivo, a demanda recursos financeiros avultados quer para realizar investimentos de manutenção, de modernização, como para realizar investimentos de expansão e diversificação do seu negocio. Só para lhe dar uma ideia, só para o Capex Vital, que é o projecto imediato de modernização, estamos a falar de uma magnitude de cerca de 500 milhões de Euros. Portanto não existe outra alternativa para uma empresa como a HCB senão ter acesso permanente ao financiamento no mercado financeiro internacional, hoje a questão da credibilidade é fundamental”, acrescentou Gameiro.
Manuel Gameiro admitiu que “é verdade que hoje a empresa pode não ter uma grande necessidade como tal, financeiramente a empresa está numa posição bastante saudável, mas tem projectos e tem ambições de médio e longo prazo de tornar-se numa empresa de referencia internacional, significa demandar fundos avultados para suportar os seus projectos. Portanto começar a criar hoje esse mercado de capitais para que a empresa a médio e longo prazo se beneficie da liquidez que será criada nesse segmento de mercado”.
Ainda não foram tornadas públicas as Demonstrações Financeiras de 2018 da HCB contudo a empresa indica que fechou o exercício com um resultado líquido de 4,6 biliões de Meticais, o dobro do valor base a ser arrecada com a venda de 2,5 por cento de acções a 3 Meticais. Ademais a Hidroeléctrica de Cahora Bassa prevê duplicar esse resultado líquido em 2019, para 8,6 biliões de Meticais, e chegar a 2021 com lucros de 10 biliões de Meticais.
Fonte: Jornal A Verdade, Moçambique
Nenhum comentário:
Postar um comentário