
Carlos Eduardo Sodré Lanna
Oque pretende o Sínodo da Amazônia? O seu documento preparatório (Instrumentum laboris) encontra-se disponível e seu conteúdo é alarmante, pois propõe um rompimento com os ensinamentos tradicionais da Igreja Católica em pontos fundamentais e imutáveis, inclusive alterando a doutrina católica para adaptá-la a uma nova realidade.
Os temas incluem desde o modelo de desenvolvimento da região até o celibato sacerdotal, propostas ecológicas e panteístas,a ponto de chamar a atenção do público, mesmo dos não católicos. Os organizadores desse Sínodo pretendem utilizá-lo para lançar uma nova Igreja – mistura de cristianismo e paganismo indígena – dedicada ao culto panteísta da “mãe-terra”, com a preservação da mata virgem e a promoção do tribalismo comunitário, como alternativa à sociedade industrializada, consumista e predatória do meio ambiente.
Pregam uma nova ordem social, fundamentada na organização tribal, pois o índio vive num sistema de comunidade de bens no qual não há patrões, salários etc. Somente a tribo prevalece, observando quase todas as liberdades individuais. Muito diferente do conceito católico tradicional de missões, o objetivo dessa nova missiologia não é a evangelização dos povos e a salvação das almas, mas a criação de uma nova ordem social.
Exemplo disso provém de um missionário italiano responsável pelo Instituto de Missões Consolata em terras dos índios ianomâmis. Em entrevista a um portal espanhol, ele se gabou de dirigir “uma missão na qual há 60 anos ninguém foi batizado”.
O documento preparatório

O “mea culpa” do Papa Francisco
Outra observação que flui do texto divulgado é a posição do Vaticano em relação ao passado colonial da Amazônia. Ao fazer referências às atitudes da Igreja ao longo do século XX para superar seu envolvimento com os conquistadores, o documento afirma que o Papa Francisco “pediu humildemente perdão, não só pelas ofensas da própria Igreja, mas também pelos crimes contra os povos nativos durante a chamada conquista da América”.
O texto ainda assevera, numa linguagem para iniciados, que “no passado a Igreja foi cúmplice dos colonizadores, sufocando a voz profética do Evangelho. Muitos dos obstáculos a uma evangelização dialógica e aberta à alteridade cultural têm um cunho histórico e se escondem por detrás de certas doutrinas petrificadas”.
E vai ainda mais longe: “O anúncio de Cristo se realizou em conivência com os poderes que exploravam os recursos e oprimiam as populações. Mas agora a Igreja considera que até tem a oportunidade de se diferenciar das potências colonizadoras, ouvindo os povos amazônicos para poder exercer com transparênciaseu papel profético”.
Aprender com os povos da Amazônia
Os textos apresentam a região como uma reserva de vida e sabedoria para o planeta: “Os povos amazônicos originários têm muito a nos ensinar. Reconhecemos que desde há milhares de anos eles cuidam de sua terra, da água e da floresta, e conseguiram preservá-las até hoje a fim de que a humanidade possa beneficiar-se do usufruto dos dons gratuitos de Deus”.
E completam: “Os novos caminhos da evangelização devem ser construídos em diálogo com estas sabedorias ancestrais em que se manifestam a sementes do verbo. A Igreja quer aprender a dialogar e responder com esperança e alegria aos sinais dos tempos junto aos povos da Amazônia”.
Para os referidos documentos, tal cenário “exige uma Igreja com capacidade de discernimento e audácia face aos atropelos dos povos e à destruição de seus territórios, que responda sem demora ao clamor da terra dos pobres. É o momento de ouvir a voz da Amazônia, de responder como Igreja profética e samaritana”.
Os textos sugerem uma “conversão ecológica” e apresentam sugestões sobre como tratar os povos tradicionais, “para evitar a repetição dos erros do passado, recuperar mitos e atualizar ritos e celebrações comunitárias que contribuam para o processo e conversão ecológica”.
Como sugestões de ação, os documentos apontam a necessidade de que o Sínodo estabeleça normas para incentivar os religiosos na região a “desmascarar as novas formas de colonialismo presentes na Amazônia e que deveriam identificar as novas ideologias que justifiquem o ecocídio amazônico”.
As doutrinas da nova neomissiologia
Contrário à concepção católica tradicional das missões, esta corrente ideológica de missionários, indigenistas, ecologistas, antropólogos e pseudo-historiadores pregam o desmantelamento da sociedade atual e a volta à taba. Com efeito, o objetivo dessa corrente não é a evangelização dos infiéis e a salvação das almas, mas a criação de uma nova ordem para a sociedade. Ela aponta como adversário o egoísmo, que opera uma inversão entre o indivíduo e a sociedade.
Tal inversão dar-se-ia na medida em que o homem, rompendo sua inteira vinculação com a coletividade, toma por meta criar para si uma situação fruitiva, apropriativa e competitiva. O egoísmo geraria assim uma estrutura injusta, com privilégios, desigualdades, alienações e marginalizações que precisaria ser desmantelada.
Para os fautores dessa ideologia, o índio é um sábio, e sua organização tribal o modelo a ser seguido pelos civilizados. — Razão? As analogias entre a vida tribal e a vida utópica da sociedade comunista: comunidade de bens, ausência completa de lucro, de capital, de salários, de patrões, de empregados e de instituições de qualquer espécie. Só a tribo prevalece com as pessoas vivendo satisfeitas e sem problemas, pois são despojadas de seu “eu”, de seu “egoísmo”.
Segundo esses “missionários”, o Evangelho já impregna completamente a vida tribal, não sendo, pois, necessário anunciá-lo aos indígenas. A meta do missionário “atualizado” é livrar o índio do “contágio” da civilização, imposto pelos colonizadores e missionários de outrora.
Quem está por trás das agitações

O presidente francês Macron recebe índios brasileiros, que são dirigidos por ONGs internacionais
Nosso mundo ainda se lembra das ruínas econômicas, psicológicas e morais deixadas desmantelamento do império soviético. Agora, no entanto, deparamo-nos aqui na América com uma surpresa: um comunismo tribal a ressurgir de suas cinzas e ameaçar a civilização. Desde as neves do Canadá até o sul do Chile, surgem organizações indígenas que se agitam, formam federações e confederações por cima das fronteiras dos respectivos países.
No Brasil, onde os são, no máximo, 800.000, a agitação entre eles é praticamente inexistente, mas uma pressão internacional vem criando um caso ciclópico para o problema deles… E não é por coincidência que aparece nessa esteira a corrente de ideólogos a propor nova utopia. São teólogos da libertação migrados da ortodoxia marxista para o ecotribalismo, e antigas organizações comunistas travestidas de verde. São antropólogos e falsos historiadores ligados a ONGs devidamente inscritas na ONU.
Na verdade, apresentando-se como vanguardeiros, eles recuam indefinidamente nos séculos para fazer apologia da tribo primitiva e pagã como modelo supremo da organização humana para o século XXI… Já na década de 70, nas selvas brasileiras, alguns bispos por meio do Conselho Indigenista Missionário e da Comissão Pastoral da Terra davam os primeiros passos nessa direção. Denunciou-os na época, com lúcida antevisão, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em sua obra Tribalismo Indígena – Ideal comuno-missionário para o Brasil no século XXI.
Com quatro décadas de antecedência, o arguto pensador católico vislumbrou os sintomas nascentes. E com sua costumeira clarividência, lastreado em vasta documentação, traçou a fisionomia ideológica da corrente comuno-tribalista que hoje tenta tomar ares de cidadania.
ABIM
Nenhum comentário:
Postar um comentário