Os oftalmologistas estão a criar uma rede de consultórios em todo o país para facilitar o acesso a “verdadeiros especialistas” e querem atender utentes do SNS, seja através de convenção ou de uma espécie de 'cheque visão'.
A Sociedade Portuguesa de Oftalmologia entende que para resolver as “longas listas de espera” para consultas ou cirurgias em oftalmologia no Serviço Nacional de Saúde (SNS) é necessário “envolver os médicos que estão fora do SNS”, sobretudo na prestação de cuidados de saúde primários.
O presidente da Sociedade, Fernando Falcão Reis, assume que se tem assistido a uma “indisfarçável pressão”, até política, para incluir a classe dos técnicos optometristas na prestação de cuidados de saúde e alerta que “não se pode colocar a saúde das pessoas em risco”.
A Sociedade está a criar uma rede de consultórios que pretende que tenha “efetiva cobertura nacional”, não só para chegar a pontos onde não há grandes unidades privadas, mas também para incentivar consultórios independentes dos grandes grupos da hospitalização privada e de jovens especialistas.
No Dia Mundial da Visão, que hoje se assinala, Fernando Falcão Reis recorda que há zonas com menos de 15 mil pessoas, afastadas dos grandes centros de urbanos e sem oferta de oftalmologia no SNS ou nos hospitais privados, onde a associação agora constituída poderia intervier.
“A associação COESO – consultórios de especialistas em oftalmologia pretende criar uma rede para juntar todos os oftalmologistas que trabalham em regime de profissão liberal pura. A ideia é criar uma rede de consultórios independentes dos hospitais privados. E agregar os pequenos consultórios e garantir uma cobertura nacional”, explicou à Lusa o responsável.
A Sociedade Portuguesa de Oftalmologia quer, por isso, estabelecer um protocolo com o SNS para “garantir uma consulta de proximidade a toda a população portuguesa”.
O acesso dos utentes do SNS a estes consultórios poderia ser feito ou através de convenções ou à semelhança do que acontece com o cheque dentista na saúde oral, admite Falcão Reis.
“É prematuro pensar já na forma de remuneração, porque primeiro queremos garantir que a rede tem um número suficiente de médicos para cobrir todo o país. Mas seria ou um regime de convenção, em que o doente paga uma pequena parte e o SNS complementa, ou uma solução do tipo do cheque dentista”, explicou Fernando Falcão Reis.
A ideia será criar uma “rede nacional de cuidados primários em oftalmologia” e a Sociedade Portuguesa de Oftalmologia considera que o Estado poderia até poupar custos.
“Os custos com deslocações são um fardo para doentes e também têm um grande encargo para o Estado e ultrapassam muitas vezes o custo previsível de uma consulta (…). Grande parte dos doentes que vive em centros urbanos de 10 a 15 mil pessoas não tem hospitais e muitos não têm acesso a transporte. Não sairá certamente mais caro pagar uma consulta no local do que subsidiar o transporte para um centro hospital”, argumenta o médico.
Esta rede de consultórios, se vier a ter parceria com o SNS, poderá funcionar também como uma “triagem pré-hospitalar” mais eficaz e igualmente como um seguimento após as intervenções cirúrgicas.
Além de facilitar o acesso dos utentes e diminuir os tempos e listas de espera no SNS, a Sociedade refere que será também uma forma de reduzir o recurso a “consultas” a optometristas, que muitas vezes se assumem como “especialistas em visão”, deixando na população uma ideia errada das suas funções e competências.
“Há uma espécie de usurpação do termo especialista, que para uma grande faixa da população é confuso e enganador”, indica Fernando Falcão Reis.
O projeto COESO pretende ainda lançar, em janeiro, uma aplicação onde os utilizadores possam pesquisar os consultórios de oftalmologia em todo o país.
Sobre a necessidade de aumentar a formação de oftalmologistas para aumentar a capacidade do SNS, o médico defende que isso não será suficiente para resolver as listas de espera em oftalmologia, até porque muitos acabam por abandonar o serviço público.
Em Portugal há mais de mil oftalmologistas, o que dá um rácio de um médico por dez mil habitantes, bem acima do que recomenda a Organização Mundial da Saúde, que advoga um especialista por 15 mil habitantes.
Lusa
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