Já foi diretor do Jornal do Fundão e tem vários livros de ficção, contos e crónicas publicados: Fernando Paulouro foi o mais recente convidado do Clube de Leitura Aristóteles Lusitano que reuniu no último dia de outubro na Biblioteca Municipal. João Manso, vice-presidente da Câmara Municipal, destacou a colaboração de Fernando Paulouro na conferência realizada em 2009 no Centro Ciência Viva da Floresta e que deu origem à publicação “Os Territórios de Baixa Densidade em Tempos de Mudança”. Do texto de sua autoria, Fernando Paulouro recuperou um provérbio que ouviu de Eduardo Lourenço: “«quem vê o seu povo, vê o mundo todo». O Mestre falava do território mítico de uma beira espectral, é certo, mas de «larga e funda memória», como é este espaço que nos coube em sorte como casa comum”.
Ao longo da conversa informal que manteve com os participantes do Clube de Leitura, o autor de “Os fantasmas não fazem a barba” defendeu a necessidade de se articularem as valências regionais. “Já escrevi que os autarcas se odeiam todos cordialmente”, referiu, defendendo a necessidade de se planear em conjunto e de promoverem parcerias entre todos os agentes deste território onde as pessoas continuam a resistir.
Não existindo a figura do escritor profissional nos anos 60, a maioria dos escritores era jornalista ou trabalhava em áreas afins. “O que levavam do jornalismo? Uma capacidade de observação porque o jornalista tem que saber selecionar a realidade e saber contá-la”, referiu. Atualmente, Paulouro tem o blog “Notícias do Bloqueio”, onde alimenta o vício da escrita. Do jornalismo atual lamenta o foco no que é “mais sórdido”, relembrando a necessidade de se fazer uma certa pedagogia quando se faz o relato dos acontecimentos, ou seja, não dar apenas o que é negativo, ir atrás do que é realmente notícia. A literatura também é feita da observação das coisas e do que se diz, comenta Fernando Paulouro, dando o exemplo dos seus próprios livros, alguns com histórias com as quais se cruzou e depois ficcionou.
Defende a importância das Bibliotecas e da partilha do conhecimento. “Sou de um tempo em que havia uma certa solidariedade na leitura”. Recorda professores que faziam da partilha do saber uma cumplicidade: “hoje conhecimento é poder”. A importância de se ler em voz alta para cultivar o bicho da leitura é, para si, fundamental. O seu próximo livro passa-se na Beira do século XVIII, falando de inquisição, autos de fé e cristãos novos. Apesar de requerer muita investigação histórica, é um livro de ficção, garante o autor que foi distinguido com o Prémio Gazeta de Mérito do Clube dos Jornalistas em 2014 e com o Prémio Eduardo Lourenço em 2017.
A próxima sessão do Clube de Leitura Aristóteles Lusitano, com entrada livre, está agendada para 29 de novembro (a partir das 21h00 na Biblioteca Municipal) com a presença da jornalista e escritora Inês Cardoso.
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