Nacional / 10 de Fev de 2016, 17:47
A Sociedade
Portuguesa de Transplantação (SPT) alerta para o défice de transplantações em
Portugal, pois apesar de no ano passado ter havido um aumento no número de
transplantes, ainda não se recuperou a quebra registada entre 2011 e 2012.
As causas para
esta insuficiência são diversas, desde a falta de meios do Instituto Português
do Sangue e da Transplantação (IPST) para coordenar esta atividade, até ao
atraso no arranque do transplante em paragem cardiocirculatória, passando pelas
discrepâncias regionais e pelo pouco aproveitamento que é feito dos rins
recolhidos.
A SPT considera
que os números mais recentes das transplantações dão “positivos”, mas que
“Portugal continua aquém do seu potencial de colheita e transplantação”.
Segundo dados do
IPST, em 2015 o número de transplantes aumentou 11% e número de dadores
aumentou 9,5%, tendo-se realizado 830 transplantes de um total de 381 dadores.
“Se se tivesse
mantido a tendência crescente de 2009 e 2010 seguramente estaríamos melhor, mas
uma discutível reformulação das responsabilidades da tutela na transplantação e
algum desinvestimento em 2011 e 2012 fizeram parar e perder muito do trabalho
que já estava feito pela antiga Autoridade para os Serviços de Sangue e da
Transplantação (ASST)”, afirma em comunicado Fernando Macário, presidente da
SPT.
Segundo o
responsável “ainda hoje não são completamente claras as fronteiras entre as
responsabilidades da Direção Geral de Saúde (DGS) e do IPST”, sendo que o
instituto “reconhece que não tem os meios adequados para coordenar efetivamente
este campo de atividade”.
Na opinião de
Fernando Macário, os números poderiam ser melhores “se o transplante em paragem
cardiocirculatória não tivesse demorado tantos anos a arrancar”.
Fernando Macário
refere também as discrepâncias regionais existentes no que se refere ao
transplante de cadáver, pois há unidades hospitalares que não detetam todos os
potenciais dadores e colhem órgãos muito aquém do que deveriam.
O presidente do
SPT defende também a necessidade de repensar a rede de coordenação da colheita,
considerando que as estruturas oficiais não têm capacidade para auditar e
vigiar esta atividade, os registos da atividade ainda são arcaicos e a
informação não circula entre os profissionais da área.
O desaproveitamento
de órgãos é outro dos problemas identificados, já que continua a haver uma
média de 130 órgãos, principalmente rins, que são colhidos mas não são
aproveitados, devido sobretudo à elevada idade média e morbilidade dos dadores.
Acresce a isto
que a zona de Lisboa, onde está a maioria das unidades de transplantação, não
tem capacidade de resposta para a realização de biópsias do enxerto renal
sempre que necessário, sublinhou.
“Assim, alguns
dos rins de dadores mais idosos ou com patologias que poderiam ser aproveitados
são rejeitados”, explica Fernando Macário.
O responsável
aponta ainda a necessidade de apostar na formação de recursos humanos na área
da transplantação e na melhoria das condições de algumas unidades de
transplantação.
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