Apesar da ligeira melhoria no número de transplantes efectuados, há muitas melhorias a fazer. O desinvestimento de 2011 e 2012 provocou abrandamento e perdas no trabalho já desenvolvido nesta área.
A Sociedade
Portuguesa de Transplantação (SPT) alerta para o défice de transplantações em
Portugal, pois apesar de no ano passado ter havido um aumento no número de
transplantes, ainda não se recuperou a quebra registada entre 2011 e 2012.
As causas para
esta insuficiência são diversas, desde a falta de meios do Instituto Português
do Sangue e da Transplantação (IPST) para coordenar esta actividade, até ao
atraso no arranque do transplante em paragem cardiocirculatória, passando pelas
discrepâncias regionais e pelo pouco aproveitamento que é feito dos rins
recolhidos.
A SPT considera
que os números mais recentes das transplantações são "positivos", mas
que "Portugal continua aquém do seu potencial de colheita e
transplantação".
Segundo dados do
IPST, em 2015 o número de transplantes aumentou 11% e número de dadores
aumentou 9,5%. Realizaram-se 830 transplantes de um total de 381 dadores.
"Se se
tivesse mantido a tendência crescente de 2009 e 2010 seguramente estaríamos
melhor, mas uma discutível reformulação das responsabilidades da tutela na
transplantação e algum desinvestimento em 2011 e 2012 fizeram parar e perder
muito do trabalho que já estava feito pela antiga Autoridade para os Serviços
de Sangue e da Transplantação (ASST)", afirma em comunicado Fernando
Macário, presidente da SPT.
Segundo o
responsável "ainda hoje não são completamente claras as fronteiras entre
as responsabilidades da Direcção Geral de Saúde (DGS) e do IPST", sendo
que o instituto "reconhece que não tem os meios adequados para coordenar
efectivamente este campo de actividade".
Na opinião de
Fernando Macário, os números poderiam ser melhores "se o transplante em
paragem cardiocirculatória não tivesse demorado tantos anos a arrancar". O
responsável pela SPT refere também as discrepâncias regionais existentes no que
se refere ao transplante de cadáver, pois há unidades hospitalares que não
detectam todos os potenciais dadores e colhem órgãos muito aquém do que
deveriam.
O presidente do
SPT defende também a necessidade de repensar a rede de coordenação da colheita,
considerando que as estruturas oficiais não têm capacidade para auditar e
vigiar esta actividade, os registos ainda são arcaicos e a informação não
circula entre os profissionais da área.
O
desaproveitamento de órgãos é outro dos problemas identificados, já que
continua a haver uma média de 130 órgãos, principalmente rins, que são colhidos
mas não são aproveitados, devido sobretudo à elevada idade média e morbilidade
dos dadores.
Acresce a isto
que a zona de Lisboa, onde está a maioria das unidades de transplantação, não tem
capacidade de resposta para a realização de biópsias do enxerto renal sempre
que necessário, sublinhou.
"Assim,
alguns dos rins de dadores mais idosos ou com patologias que poderiam ser
aproveitados são rejeitados", explica Fernando Macário.
O responsável
aponta ainda a necessidade de apostar na formação de recursos humanos na área
da transplantação e na melhoria das condições de algumas unidades de
transplantação.
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