Isabel Torres, deputada do CDS-Madeira, demitiu-se da mesa do Congresso Regional, exonerou o adjunto por falta de confiança política e, sem consultar o partido, nomeou a sobrinha para o cargo.
Primeiro foi a demissão, no início deste mês, da presidência da Mesa do Congresso do CDS-Madeira. Agora, esta semana, a exoneração do adjunto com quem trabalha na vice-presidência da Assembleia Legislativa da Madeira, e a nomeação da própria sobrinha para o cargo.
Isabel Torres transformou-se numa espécie de elefante na sala do maior partido da oposição na Madeira, que, dois meses depois de um congresso que dividiu mais do que uniu, tenta reunir as tropas para combater o PSD de Miguel Albuquerque.
A deputada, docente universitária aposentada, tem causado mal-estar no interior do partido por continuar a acumular a reforma com o vencimento do parlamento madeirense. Se na anterior legislatura, o PSD tinha em Miguel Mendonça, presidente da Assembleia, e em Alberto João Jardim, dois telhados de vidro, já que ambos acumulavam também a reforma com o salário público, desde as últimas regionais, em Março de 2015, que Isabel Torres é a única parlamentar nesta situação.
Num arquipélago que sofreu os constrangimentos de uma dupla austeridade, onde a taxa de desemprego de Janeiro voltou a ser a mais elevada do país, esta duplicação de rendimentos não é esquecida, quer nos debates parlamentares, quer na opinião pública. Nem a garantia de que a pensão de reforma seria doada para instituições de solidariedade social, nem o facto de que quando Isabel Torres entrou na política já estava aposentada, servem para acalmar a contestação interna, e esta semana a forma como conduziu, à revelia do partido, a substituição do adjunto do Gabinete da vice-presidência da Assembleia voltou a ser alvo de censura.
Tudo porque, mesmo sendo a função de adjunto uma nomeação de foro pessoal, na prática é o partido que indica as figuras para determinadas funções no parlamento. Era assim na anterior liderança de José Manuel Rodrigues e seria assim que o actual presidente do partido, António Lopes da Fonseca, pretendia que continuasse.
De acordo com o regimento da Assembleia, o CDS como segundo partido mais votado tem direito a uma vice-presidência, e Isabel Torres foi indicada para esse cargo pelo grupo parlamentar, lembrou ao PÚBLICO uma fonte do partido, mostrando-se surpreendida pela forma como Nelson Mendonça, que era adjunto da deputada centrista desde 2011, foi afastado.
A deputada informou o presidente da Assembleia, o social-democrata Tranquada Gomes, e o líder do partido por email, alegando perda de confiança política. Quatro dias depois, nomeava Francisca Carvalho, uma sobrinha que vinha exercendo funções de assessoria do grupo parlamentar, informando novamente Lopes da Fonseca por correio electrónico.
O presidente do CDS-Madeira tem evitado falar sobre o assunto, assim como a deputada. Lopes da Fonseca apenas confirmou ter recebido o email, enquanto Isabel Torres, com quem o PÚBLICO tentou por diversos meios falar, mas sem sucesso, remeteu-se ao silêncio nas últimas duas semanas. De resto, ninguém fala abertamente sobre o assunto.
Outro dirigente centrista ouvido pelo PÚBLICO sublinhou que a questão nem é o laço familiar, já que existem mesmo no governo da república exemplos mais gritantes - Ana Paula Vitorino, ministra do Mar, é casada com Eduardo Cabrita, ministro-adjunto, e Mariana Vieira da Silva, secretária de Estado adjunta, é filha do ministro da Segurança Social, Vieira da Silva -, mas sim a forma como substituiu um adjunto sem consultar o partido.
Logo no início do mês, alegando motivos pessoais, Isabel Torres bateu com a porta e demitiu-se da presidência da Mesa do Congresso do partido, cargo para o qual tinha sido eleita em Dezembro passado.
As principais figuras do partido, Lopes da Fonseca e o líder parlamentar Rui Barreto, têm-se colocado estrategicamente à margem destas polémicas, mas o ‘assunto’ Isabel Torres vai ser abordado na próxima reunião da comissão política do CDS-Madeira, agendada para a próxima semana.
Eleito com a promessa e intenção de unir o partido depois do desaire eleitoral das últimas legislativas, em que o CDS perdeu o deputado que tinha em São Bento e viu o líder histórico José Manuel Rodrigues apresentar a demissão, Lopes da Fonseca não tem tido a vida facilitada nestes dois meses de liderança.
O congresso foi fracturante, com quase metade dos congressistas a abandonar a reunião em protesto por uma moção de revisão estatutária não ter sido discutida. Ricardo Vieira, que levou esse projecto ao congresso, foi muito crítico, e há quem oiça nas recentes movimentações de Isabel Torres ecos dessas diferenças de sensibilidade.
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