Mário Motta, Lisboa
Adicionar legenda |
Timor-Leste já é o orgulho da CPLP no que diz respeito à vigência da democracia, às práticas democráticas em processo absolutamente normal. Assim foi reconhecido e pronunciado pela comunidade internacional que deu azo à notícia em Fevereiro passado: Timor-Leste lidera Índice da Democracia no sudeste asiático. Timor-Leste cresceu, fez-se grande após ter partido do quase nada, da exploração colonialista, da ocupação e da destruição massiva do ocupante indonésio em 1999. Para além de ter perdido cerca de 250 mil dos seus filhos assassinados pelas forças ocupantes da Indonésia. Foi um genocídio que está por julgar e condenar com justiça.
Que a democracia é um processo complicado e com muitas imperfeições é facto, mesmo assim é apresentada como o melhor que pode acontecer se na realidade os eleitos forem competentes e honestos – o que nem sempre acontece. Aliás, acabamos por descobrir que raramente acontece.
Os timorenses continuam a deparar-se com muitas carências alimentares e outras que apesar de básicas não são satisfeitas pelos governos. Falha o setor da saúde e outros mais. A corrupção é enorme, apesar de a justiça timorense atuar e até já ter condenado ministras e ministros a prisão efetiva, para além de outros ex-membros governativos, funcionários do aparelho da administração, etc.
Em cerca de apenas 15 anos de independência Timor-Leste consegue já ser exemplo positivo para muitos países daquela área geográfica, assim como de outras no mundo. Mas ainda muito há a fazer, a aperfeiçoar, a democratizar, a levar ao povo timorense que no interior e na grande urbe da capital é assolado pela pobreza e pela injustiça social. Temos de dar tempo ao tempo e os eleitos têm de atuar com maior incisão sobre os males que vitimam e estigmatizam muitos milhares de timorenses.
Como tem sido noticiado este ano aconteceram as eleições. Primeiro as presidenciais, vencidas por Francisco Guterres Lu Olo, da FRETILIN. Em 22 de Julho ocorreram as eleições legislativas. Não faltaram elogios aos processos eleitorais, apesar de algumas pequenas falhas que não afetaram a credibilidade dos mesmos.
Das eleições legislativas saiu vencedora a FRETILIN, com mais 1.100 votos que o CNRT. Com mais um assento para deputado que o CNRT. Xanana Gusmão, presidente do CNRT, disse que considerou em sua análise que o castigo dos eleitores ao não votarem como de costume no CNRT significou que o partido tem falhado. Demitiu-se do cargo. Outros dirigentes demitiram-se por arrasto. Em breve haverá o congresso que voltará a pôr o CNRT nos carris preferidos por Xanana Gusmão. Será ele certamente a continuidade na presidência CNRT.
A análise de Xanana e a sua demissão não é mais nem menos que a intenção de proceder a uma “limpeza” no partido. E assim afastar dos lugares de liderança e chefia alguns elementos que deixou de aprovar.
Xanana sabe que o CNRT não conseguiu mais votos porque a FRETILIN se remodelou e deu mostras disso aos eleitores timorenses. Também não obteve mais votos porque Taur Matan Ruak formou um novo partido, o PLP, que lidera a partir de ter deixado de ser presidente de Timor-Leste. O PLP conseguiu eleger 8 deputados. A FRETILIN 23 deputados. O CNRT 22 deputados. O PD, fundado pelo falecido Lasama Araújo, 7 deputados, e o novo partido no Parlamento, o KHUNTO, elegeu 5 deputados.
Mari Alkatiri será o novo primeiro-ministro de Timor-Leste, em aliança com outros partidos que não o CNRT. E é exatamente disso que Xanana foge. Não quer aliar-se num acordo com o partido maioritário, a FRETILIN, em notória desvantagem eleitoral. Quando sabe que outros partidos políticos estão dispostos a celebrar acordos com a FRETILIN. Naturalmente que quer ser oposição, fazer a “limpeza” que pretende no CNRT e ressurgir renovado. Pelo menos em teoria.
Certo é que a nova geração de políticos timorenses continuam a marcar passo e à espera de poderem liderar os destinos do país sem as sombras dos já velhos líderes que tanto lutaram pela libertação e independência do país nas várias frentes de combate. O seu tempo chegará. Provavelmente dentro de dez anos. Se não pouco antes.
Por seu lado Xanana Gusmão quer ressurgir com um novo fulgor e assim deixar à nova geração um CNRT forte. Vamos ver se consegue. É que os velhos líderes já estão na casa dos mais de 70 anos e outros exatamente a pisarem essa “meta” de idade. Verdade também é que os timorenses crêem muito mais neles que nos da nova geração. Mentalidade e prática que vai ter de mudar.
Taur Matan Ruak é um dos mais novos velhos líderes, atualmente com 61 anos. Fundou um partido que colhe absoluta aceitação. Tanto assim que passados poucos meses da sua formação efetiva, com Taur já livre da presidência da República, elege 8 deputados e passou a ser a terceira força político-partidária no Parlamento. Para Taur foi pouco, quase uma desilusão – embora não o confesse – mas o feito foi relevante, quer ele queira quer não. E agora, ao que parece, já aceita ser deputado do PLP em representação dos que o elegeram para isso. Antes anunciou que não seria deputado e ficaria a orientar a vida do PLP. Facto é que os que depositaram nele confiança não foi para isso mas sim para que ponha a sua voz e a sua sabedoria na defesa dos que o elegeram para o Parlamento. Assim será, se corresponder à verdade que recuou na sua decisão de ficar fora do Parlamento.
Sobre Timor-Leste podem ler a seguir três peças de notícias da Lusa, as mais recentes que nos chegaram. No entanto, se estiverem interessados, sugerimos o Timor Agora na secção em português. Está lá quase tudo sobre o que acontece no país, em tétum e em português. Compilações de notícias que muito agradecemos às respetivas fontes. Opiniões de timorenses que fazem parte do coletivo que colabora com Timor Agora. Opinião em tétum mas também em português.
Aproveite este link e boa leitura no Timor Agora. Estão convidados, depois de continuarem aqui a ler. (MM = AV)
RUMO AO CONGRESSO | Quatro dirigentes do partido timorense CNRT apresentaram demissão
Pelo menos três dirigentes do segundo partido timorense mais votado, o CNRT, entre os quais o secretário-geral, apresentaram a sua demissão na conferência nacional do partido que decorre em Díli.
Fonte do Congresso Nacional de Reconstrução Timorense (CNRT) confirmou à Lusa que as demissões foram apresentadas na sequência do pedido de demissão apresentado na sexta-feira pelo presidente Xanana Gusmão no seu discurso de abertura da conferência de três dias.
Além do secretário-geral, Francisco Kalbuady, apresentaram também a demissão Francisco Guterres e Júlio Tomás Pinto, dirigentes de estruturas superiores do partido.
A fonte explicou que em caso de demissão do presidente os estatutos do partido preveem que no prazo de 15 dias a comissão diretiva nacional convoque um congresso extraordinário.
Exceto durante o discurso de Xanana, todos os trabalhos da conferência decorrem à porta fechada com estritas medidas de segurança, incluindo a proibição dos delegados terem consigo os seus telemóveis.
Xanana Gusmão demitiu-se na sexta-feira da presidência do CNRT, assumindo responsabilidade pela derrota do partido nas legislativas timorenses, e defendeu que o partido não deve entrar numa coligação de governo e deve ser oposição.
"Com um sentimento de tristeza, mas que não consegue reduzir um orgulho muito profundo por ter liderado um partido como o CNRT, também eu, obedecendo ao imperativo da minha consciência, tenho que tomar uma decisão sobre mim mesmo", disse o até agora líder do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense.
"Demito-me do cargo de presidente do partido, estando sempre ao dispor desta grande organização política partidária. Nos próximos cinco anos empenhar-me-ei a prestar o meu total apoio para a melhoria e consolidação do partido CNRT, que eu respeito, porque pulsa no meu coração", anunciou.
A demissão de Xanana, que surpreendeu os dirigentes e militantes do partido, surgiu no final de um discurso em que fez uma primeira análise à derrota do partido nas eleições legislativas de 2017.
Participam na Conferência Nacional do partido cerca de 240 conferencistas, incluindo os elementos da Comissão Política Nacional (CPN) da Comissão Diretiva Nacional (CDN) e das estruturas máximas ao nível municipal e dos postos administrativos.
A reunião terminará com uma declaração final, não estando ainda confirmada a realização de uma conferência de imprensa.
ASP // SB // LUSA
Xanana Gusmão demite-se do CNRT, defende que partido deve ser oposição timorense
Díli, 04 ago (Lusa) - Xanana Gusmão demitiu-se hoje da presidência do CNRT, assumindo responsabilidade pela derrota do partido nas legislativas timorenses, e defendeu que o partido não deve entrar numa coligação de governo e deve ser oposição.
"Com um sentimento de tristeza, mas que não consegue reduzir um orgulho muito profundo por ter liderado um partido como o CNRT, também eu, obedecendo ao imperativo da minha consciência, tenho que tomar uma decisão sobre mim mesmo", disse o até agora líder do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense.
"Demito-me do cargo de presidente do partido, estando sempre ao dispor desta grande organização política partidária. Nos próximos cinco anos empenhar-me-ei a prestar o meu total apoio para a melhoria e consolidação do partido CNRT, que eu respeito, porque pulsa no meu coração", anunciou.
A demissão de Xanana, que surpreendeu os dirigentes e militantes do partido, surgiu no final de um discurso em que fez uma primeira análise à derrota do partido nas eleições legislativas de 2017.
Depois de se ter estado afastado da vida pública desde a votação - período em que diz ter estado a fazer uma reflexão sobre as eleições - Xanana Gusmão disse que o voto mostrou que a população timorense "não confia no CNRT para governar" e quer "alternância" no Governo.
O CNRT, disse, deve ser fiel ao seu compromisso e, por isso, Xanana Gusmão defende que a conferência que decorre até domingo aprove uma resolução em que confirma que será oposição e não integrará o próximo Governo liderado pela Fretilin.
"O partido CNRT decide estar no Parlamento Nacional como oposição, querendo, deste modo, continuar a contribuir no processo de construção do Estado e de construção da Nação, para consolidar a transição democrática neste país", disse Xanana Gusmão.
O líder histórico timorense foi taxativo, afirmando que "o partido não aceitará propostas, de ninguém, nem convidará nenhum partido para formar coligações, porque não pretende participar no governo" e que não se vai repetir o que ocorreu em 2007, quando o CNRT foi o segundo mais votado atrás da Fretilin mas "para resolver a crise que o país vivia", optou por formar uma aliança de maioria parlamentar.
"Hoje, todos desfrutamos de um ambiente diferente - um ambiente de paz e estabilidade! Por esta mesma razão, temos que reconhecer que a situação de 2017 não é a de 2007", afirmou.
Congratulando a Fretilin pela vitória nas eleições, Xanana Gusmão disse que durante a campanha só ouviu "críticas de que o CNRT não tinha capacidade de governar e foi, por isso, que teve que chamar outros partidos para o ajudar".
"Também ouvimos, durante todo o mês, que, durante o mandato do CNRT, houve muita corrupção, pelo que a maioria do povo deixou de confiar no partido", afirmou.
"Este é o momento certo para a FRETILIN, como o partido vencedor das eleições de 2017, assumir, e com plena legitimidade, as rédeas do Governo", disse ainda.
A Conferência Nacional de quadros do partido CNRT decorre sob fortes medidas de segurança, com os jornalistas autorizados apenas na abertura e todos os participantes a terem que deixar os telefones no exterior.
"A conferência é fechada e limitada apenas às estruturas superiores do partido", explicou à Lusa um dos vice-presidentes do partido, Vergílio Smith.
Participam no encontro cerca de 240 conferencistas, incluindo os elementos da Comissão Política Nacional (CPN) da Comissão Diretiva Nacional (CDN) e das estruturas máximas ao nível municipal e dos postos administrativos.
A reunião terminará com uma declaração final, não estando ainda confirmada a realização de uma conferência de imprensa.
ASP // ANP
Fretilin abre a porta a diálogo com todos os partidos
Díli, 03 ago (Lusa) - O secretário-geral da Fretilin disse hoje que o partido vai dialogar com as restantes forças políticas eleitas para o parlamento para formar um Governo que respeite a vontade expressa pelo eleitorado a 22 de julho.
Mari Alkatiri considerou que, depois da votação, o povo renovou a confiança nos partidos mais antigos, Fretilin e CNRT, mas que também introduziu "variáveis novas", ao eleger duas novas forças políticas, que têm que ser tidas em conta.
"A mensagem do povo é que o entendimento tem dado resultados, pelo menos na consolidação da paz e estabilidade (...) e esse entendimento deve continuar, entre o CNRT e o bloco de coligação com a Fretilin", disse aos jornalistas no Palácio Presidencial em Díli.
"Mas o povo diz que 'vocês não são os únicos'. Há dados e variáveis novas, o PLP e o KHUNTO. Se houver entendimento não se pode excluir esses novos atores", afirmou.
Mari Alkatiri falava aos jornalistas depois de uma reunião, de cerca de uma hora, com o Presidente timorense, Francisco Guterres Lu-Olo, que iniciou os contactos com os partidos políticos para a formação do Governo.
O Tribunal de Recurso validou esta semana os resultados das legislativas de 22 de julho que deram à Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) 23 lugares no parlamento, 22 ao Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), oito ao Partido Libertação Popular (PLP), sete ao Partido Democrático (PD) e cinco ao Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO).
"A orientação do Presidente é de respeitar a Constituição e para respeitar a Constituição o partido mais votado tem que liderar o processo de formação do Governo. Mas compreendemos a mensagem do povo, expressa no voto", afirmou.
"O entendimento desde 2012 até 2017 (entre CNRT e Fretilin) tem que continuar. Mas temos novos partidos, o PLP e o KHUNTO, com preocupações e aspirações legítimas", considerou.
Alkatiri disse que, até ao momento, ainda não conseguiu falar com o presidente do CNRT, Xanana Gusmão, mostrando-se convicto que essa conversa ocorrerá e insistindo que não está preocupado com calendários ou prazos.
"Eu penso que ninguém consegue falar com o meu compadre Xanana e eu que sou compadre ainda não consegui. Mas, como compadre, a minha esperança mantém-se", disse.
A Fretilin deverá reunir nos próximos dias o Comité Central do partido e vai enviar, em breve, uma carta para todos os partidos, que pretende definir o que fazer "com a nova equação política" saída do voto.
"Estamos perante uma nova equação política em Timor-Leste. Temos que ver como encontrar um denominador comum. Essa é a base: vai ser incidência parlamentar, um Governo de coligação, um Governo amplo de inclusão. O que é?", disse.
"Compete-nos definir bem esta equação e ver as variáveis que existem e encontrar uma solução. Penso que não é tão simples assim, mas também não é algo tão complexo que não possamos ultrapassar", afirmou.
Questionado pela Lusa sobre Xanana Gusmão ter prometido, durante a campanha, que se o CNRT não vencesse deixaria o partido na oposição, Mari Alkatiri disse que "uma coisa são promessas", outra que "a mensagem do povo tem que ser entendida".
Alkatiri admitiu que gostaria que a negociação estivesse concluída "dentro de uma semana", mas sublinhou não estar preocupado se demorar mais tempo, garantindo que o Governo e o Parlamento nacional estão a funcionar.
"O país não vai entrar em crise por causa do prazo. Não estou muito preocupado com isso", afirmou.
Independentemente do resultado das negociações, o próximo Governo tem que apostar na governação aberta "para consultar sempre que precisa, a Igreja católica, confissões religiosas e a sociedade civil", disse.
Lu-Olo recebe ainda, durante o dia, as lideranças do CNRT e do PLP, e na sexta-feira os responsáveis do PD e do KHUNTO.
ASP // EJ
Nenhum comentário:
Postar um comentário