terça-feira, 12 de junho de 2018

Eu, Psicóloga | O mito da metade da laranja: quando entrego a chave da minha felicidade para o outro.




A metade da laranja é uma música cruel que nos contaram e infelizmente acreditamos.

Eu sei, não começou com o pobre Fábio Júnior esse mito. Na verdade, o mito da alma gêmea ( vulgo metade da laranja) foi criado por Platão que em seu livro O Banquete tentando definir o que é o amor. 

O mito foi descrito assim: no início dos tempos os homens eram seres completos, de duas cabeças, quatro pernas, quatro braços, o que permitia a eles um movimento circular muito rápido para se deslocarem. Porém, considerando-se seres tão bem desenvolvidos, os homens resolveram subir aos céus e lutar contra os deuses, destronando-os e ocupando seus lugares. Todavia, os deuses venceram a batalha e Zeus resolveu castigar os homens por sua rebeldia. Tomou na mão uma espada e cindiu todos os homens, dividindo-os ao meio. Zeus ainda pediu ao deus Apolo que cicatrizasse o ferimento (o umbigo) e virasse a face dos homens para o lado da fenda para que observassem o poder de Zeus.Dessa forma, os homens caíram na terra novamente e, desesperados, cada um saiu à procura da sua outra metade, sem a qual não viveriam.

Parece lindo e romântico. Mas a realidade é bem outra. Isso porque , a alma gêmea ou a metade da laranja nos trouxeram uma perda da identidade. Sim, porque se eu sou uma pessoa incompleta , esperando a outra metade cid me preencher , eu sou alguma metade perambulando pelas ruas sem ser inteiro. Que mito perigoso! Passamos a vida inteira acreditando que não somos um ser inteiro, capaz de encontrar a felicidade em nós e por nós mesmos. 

Passamos a acreditar que para ser feliz precisamos sempre da presença do outro na nossa vida, como se a felicidade não fosse algo interno, que deve vir de dentro de nós independente de ter ou não alguém. Ter alguém é bom demais, mas isso não faz com que seja um contrato de felicidade. Conheço muito casal infeliz que estão juntos pela aparência ou porque não conseguem ficar um tempo a sós , somente com a sua companhia.

Deixe eu te fazer uma pergunta um tanto quanto boba: você  nasceu colocado em quem? A menos que você tenha nascido colado em alguém, como os bebês siameses, acredito que você veio ao mundo sozinho. Mesmo que você seja gêmeo cada um teve seu momento e hora de nascer. Para dar os seus primeiros passos, falar as primeiras palavras , correr no parque , se divertir com os amigos, você estava colado em alguém? Não é possível que em todos esses anos você não tenha tido um momento de felicidade. Então de onde vem essa neura agora? Por que você se permitiu acreditar em algo que te faz tão incompleto, dependente do amor de outro para ser feliz?

Eu sei, podemos culpar a Disney e seus terríveis filmes onde a princesa precisa ser salva. Podemos culpar as musicas que quando nos apaixonamos parece ter tido sentido. Podemos achar vários culpados, mas no final , Devemos nos perguntar o porquê de ainda acreditarmos nisso.

Aprenda isso: você não é metade de ninguém. Você não é uma pessoa incompleta que só encontrará a felicidade quando alguém te completar. Amor , não é isso. Amor é soma onde cada um tem que entrar inteiro em um relacionamento e não buscando no outro o pedaço que falta.

Não importa quantas pessoas ao seu redor, quantos amigos estão namorando e casando. Aprenda a ser feliz sozinho, aprenda a se cuidar, para quando a pessoa chegar você possa entrar inteiro em uma relação. Sem cobranças. Sem medo. Sem dependência emocional. Não de a chave da sua felicidade para ninguém. Aprenda a ser feliz sozinho para depois se somar à alguém e então dividir a felicidade. 

Como diria Arnaldo Jabor : “Não acredito em pessoas que se complementam. Acredito em pessoas que se somam.
Às vezes você não consegue nem dar cem por cento de você para você mesmo, como cobrar cem por cento do outro?”

Debora Oliveira

Psicóloga Clínica e Neuropsicóloga 


Nenhum comentário:

Postar um comentário