sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Bebeto ganhou, Romário perdeu. E como seria Carlos Kaiser, o maior futebolista de sempre que não jogou futebol, como candidato?

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Desporto

Por Bruno Roseiro, Editor de Desporto
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Domingo, 15h15, Barcelona-Real Madrid. Mais convidativo do que isto é complicado e nem o facto de ser o primeiro clássico sem Messi nem Ronaldo desde 2007 arrefece o que quer que seja na relação com a TV, num dia que se prevê bem mais frio do que aquela temperatura amena a que nos estávamos habituar. Mas atenção, convém ficar com o comando perto de si: pouco depois, começa o Manchester United-Everton. E depois o FC Porto-Feirense. E pelo meio está a haver o jogo decisivo do ATP de Basileia e do WTA Finals. E depois o Grande Prémio do México em Fórmula 1. E o Nápoles-Roma. E o Sporting-Boavista. Barrigada de desporto num dia que deverá acabar com um olhinho na segunda volta das eleições presidenciais brasileiras.
Goste-se mais ou menos de política, ligue-se mais ou menos à realidade do Brasil, é inevitável centrar atenções a partir das 23h no que se está passar naquele sítio tão longe e tão perto de nós. De um lado está Jair Bolsonaro, do outro Fernando Haddad. No meio, um sem número de histórias que, no final, terão impacto a vários níveis e em diversas formas. E futebol, claro, com os inevitáveis efeitos colaterais. Exemplo? O Barcelona não demorou a afastar-se dos embaixadores Ronaldinho e Rivaldo quando estes manifestaram o seu apoio ao primeiro, candidato do Partido Social Liberal. Antes, na rodada inicial, Romário ficou de fora da corrida a governador do estado do Rio de Janeiro (quarto mais votado), ao passo que Bebeto, que também concorria pelo Podemos, foi reeleito deputado estadual no Rio de Janeiro. Quem não se mete nisso é um amigo de ambos: Carlos Henrique Raposo, mais conhecido como Kaiser. Mas lá que podia, podia.
Aos 55 anos, Kaiser é descrito como “o maior futebolista de sempre que nunca jogou futebol”. O nunca é exagerado, porque quando era mais novo foi visto como tantos outros miúdos por olheiros do Botafogo num jogo de rua e convidado para fazer testes nas camadas jovens do clube carioca. Ainda assim, não demorou a perceber que gostava de facto daquela vida de futebolista mas que não queria jogar futebol. A partir daqui, foi passando por diversos clubes de países diferentes durante mais de duas décadas onde procurava (e arranjava) todas as formas de ficar de fora das opções. A história, que tem sempre uma linha muito ténue entre a realidade e a ficção – ninguém consegue ao certo detalhar onde começa uma e acaba outra –, virou livro, escrito pelo jornalista inglês Rob Smyth com base não só em Kaiser mas também em dezenas de relatos de ex-jogadores e figuras com quem se foi cruzando. O livro virou documentário, produzido por Louis Myles e apresentado com sucesso no Festival de Tribeca. Agora, como destacou o The Guardian, chega a divulgação internacional.
Numa semana particularmente marcada pela discussão sobre a influência das redes sociais nas eleições do Brasil, com o Estado de São Paulo a escrever que 70% dos tweets do PSL foram escritos por contas automáticas que utilizam a inteligência artificial, a Folha de São Paulo a noticiar que quatro agências foram notificadas pela rede Whatsapp para deixarem de enviar mensagens em massa através de números de telemóveis obtidos pela internet e o Facebook a remover dezenas e dezenas de páginas de apoio ao PSL por violarem as políticas de autenticidade e spamaté onde poderia ter chegado Carlos Kaiser e a sua carreira de ‘171’ nesta nova era dominada pelo digital? Não passava dos primeiros seis meses ou chegaria ainda mais alto, ao nível dos melhores dos melhores? Depois do livro e do documentário, fica a ideia para o filme. Porque, verdade seja dita, a distinção entre realidade e ficção neste caso é sempre um exercício complicado de fazer.
Por cá, também se pode olhar parte da realidade através das redes sociais, sobretudo alguns dos pontos que marcaram esta semana de regresso às competições europeias. Porque elas também explicam, contam e justificam algumas das coisas que se foram passando. Na terça-feira, dia em que a Juventus foi ganhar a Old Trafford frente ao Manchester United e Ronaldo ainda tirou uma selfie com um fã que invadiu o campo, o Benfica perdeu em Amesterdão com o Ajax por 1-0 no fatídico minuto 90+2′ mas explicou, através de um vídeo na sua conta oficial no Twitter, o trabalho que Vlachodimos realiza para poder atravessar o grande momento que mais uma vez demonstrou; na quarta-feira, dia em que houve golos, autogolos e penáltis falhados e cometidos por jogadores portugueses na Champions, o FC Porto foi a Moscovo ganhar por 3-1 diante do Lokomotiv num momento de sonho para Ivan Likhmanov, o sócios dos dragões que vive em Krasnodar e teve a sua história contada nas plataformas azuis e brancas; na quinta-feira, dia em que a homenagem prevista a Luís Boa Morte ao intervalo acabou por ser cancelada (e a justificação para tal pode estar no que se escreveu na blogosfera), o Sporting perdeu por 1-0 com o Arsenal em Alvalade. Para o ranking, fica mais uma semana aquém. E esse tem tudo menos de virtual.
Agora, é hora de decisões. No futebol espanhol, com Julen Lopetegui a ter uma espécie de “vai ou racha” na deslocação do Real Madrid a Barcelona para o clássico depois de Florentino Pérez ter ponderado a demissão do técnico logo depois do triunfo no Santiago Bernabéu com o Viktoria Plzen; na liga francesa, com um PSG dividido pelo braço de ferro entre Antero Henrique e Thomas Tuchel a poder igualar o recorde de vitórias consecutivas a abrir nos principais campeonatos europeus; na Fórmula 1, com Lewis Hamilton a necessitar apenas dos serviços mínimos para garantir o quinto título mundial no México depois do terceiro lugar no Grande Prémio dos Estados Unidos; no Moto 2, com Miguel Oliveira a ter uma última oportunidade de aproximar-se de Francesco Bagnaia na luta pela primeira posição do Mundial no Grande Prémio da Austrália; e no hóquei em patins feminino, com Portugal a ter cerca de dois minutos para tentar igualar a final do Europeu frente à Espanha que tinha sido interrompida por falta de luz no Pavilhão da Mealhada.
Antes, e se a vaga de frio que se aproxima chegar mais cedo, ainda há um aperitivo em forma de prato principal na Primeira Liga: esta sexta-feira há dérbi do Minho entre V. Guimarães e Sp. Braga no Dom Afonso Henriques (21h15). E as coisas já começaram a aquecer fora das quatro linhas, com comunicados à mistura. Bom futebol, isso, está garantido.

EU, A TV E UM COMANDO

O JOGO EM PALAVRAS

PÓDIO

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A REPORTAGEM

FotografiaCRISTIANO RONALDO

Manchester. A velha glória e o elefante na sala /premium

O Observador esteve na cidade dos red devils, assistiu ao Manchester United-Juventus, percebeu que já ninguém quer José Mourinho e que Ronaldo consegue ser ídolo e tabu. Leia a reportagem.

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