terça-feira, 26 de novembro de 2019

Opinião | CONGRESSO CONSERVADOR

Movimento conservador no Brasil demonstra que capacidade de organização não é exclusividade da esquerda

João Gabriel Suhett

Nos últimos dias 11 e 12 de outubro, a Ação Jovem do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira participou da primeira edição brasileira do CPAC (Conservative Political Action Conference), maior congresso conservador do mundo, que vem se reunindo nos EUA desde 1973, tendo já contado em seus encontros anuais com a presença de figuras políticas marcantes como Ronald Reagan, George Bush e Donald Trump. Seu objetivo na capital paulista foi reunir os expoentes do movimento conservador brasileiro para analisar a reação gerada pela “onda conservadora”, que pôs fim a um longo período de governos socialistas e ateus em nosso País, além de apurar o que ainda falta para os valores morais de nossa civilização poderem ser defendidos na esfera política e pública.

Por iniciativa do deputado Eduardo Bolsonaro e da Fundação Indigo (Fundação Instituto de Inovação e Governança), o evento contou com o apoio da American Conservative Union (órgão responsável pela organização de suas edições americanas) e com a presença de mais de mil participantes de todo o Brasil e do exterior.

Duas garras de uma mesma tenaz contra a civilização

Em nome do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, o Príncipe Imperial do Brasil, Dom Bertrand de Orleans e Bragança, ao discursar sobre os interesses ocultos do Sínodo da Amazônia, declarou na conferência inaugural: “Não há crise na Amazônia. Há, sim, uma ofensiva contra a nossa soberania. A Amazônia é uma joia recebida de nossos ancestrais, e não podemos ceder um milímetro sequer nessa questão”.

Para Dom Bertrand, aqueles que procuram no tema Amazônia pretexto para alcançar interesses próprios agem através de dois braços de uma mesma tenaz. Um dos braços difunde uma espécie de ecoterrorismo, verdadeira psicose ambientalista, para fazer acreditar que a floresta amazônica está sendo devastada, com a cumplicidade de nossas autoridades públicas. Qualificando mentirosamente a Amazônia como “pulmão do mundo”, procuram um pretexto para a sua internacionalização, comprometendo assim a soberania nacional nessa região de tantas riquezas naturais. Outro braço ainda mais perigoso da tenaz é formado pela esquerda católica — pouco católica e muito esquerdista — corrente que surgiu do Concílio Vaticano II e da teologia que se diz da libertação, mas que conduz simplesmente para a tirania comunista. De fato, com a pretensa agenda de proteção aos índios, o Sínodo da Amazônia visa implantar novas práticas religiosas, além de criar uma nova situação para a Igreja, a fim de influenciar a mentalidade católica mundial no sentido esquerdista e anticatólico.

Dom Bertrand citou depoimentos de lideranças indígenas, afirmando que os índios não querem viver num “zoológico” natural. Como os demais brasileiros, os brasileiros indígenas almejam prosperidade econômica, independência financeira e verdadeiro progresso intelectual e cultural. Depoimento muito elucidativo sobre esta posição pode ser visto em: www.youtube.com/watch?v=rTAV9a5R2Uk&t=1398

Citando uma concisa expressão francesa — L’histoire, on la fait ou on la subit (a História, ou a fazemos ou a padecemos) — Dom Bertrand esclareceu: “Nós fizemos a história do nosso País com as grandes manifestações em defesa do Brasil e contra a agenda esquerdista. Nelas muito se bradou ‘eu quero o meu Brasil de volta’. Continuemos a fazer a história, defendendo a Amazônia. A Amazônia é um território nosso; a soberania é nossa, e nos foi dada pela Divina Providência. Nós seremos julgados perante Deus e perante o Brasil, se não soubermos defender a nossa Amazônia”.

A íntegra do discurso de Dom Bertrand pode ser encontrada no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=KdPsvl8zoSc).

Outros interesses por trás do ambientalismo

Na reunião da CPAC-Brasil, o chanceler Ernesto Araújo demonstrou que o ambientalismo vem servindo de disfarce para uma intervenção na economia. Da mesma forma que a globalização é um fenômeno econômico capturado por uma ideologia, a esquerda tem também instrumentalizado o ambientalismo.

O Ministro das Relações Exteriores ressaltou que o Brasil é responsável por apenas 2 a 3% das emissões de CO2 do mundo, enquanto a China lidera o ranking com aproximadamente 25% do total. Salientou ainda que, no acordo de Paris, a China se comprometeu a diminuir sua emissão de CO2 somente a partir de 2030.

Para ilustrar a política de dois pesos e duas medidas, Araújo fez a comparação entre duas personagens do mundo contemporâneo: uma é a jovem sueca de 16 anos, Greta Thunberg, bastante divulgada pela mídia internacional, que discursa nas Nações Unidas e exige das autoridades políticas medidas de redução de CO2 no planeta. A outra é uma jovem venezuelana de 14 anos, que pesa 14 kg por culpa de um sistema político que só gera miséria, fome e desolação. E prosseguiu: “Greta tem quase a mesma idade da garota venezuelana. Greta, bem alimentada, bem nutrida, é acolhida nas Nações Unidas. A mesma ONU ignora a menina venezuelana de 14 anos e 14 quilos […]. A mesma ONU nada faz contra Maduro e aceita a candidatura dele no seu Conselho de Direitos Humanos. Eu pergunto: How dare you? (Como ousas?) […]. O esquerdismo é e sempre foi global. Como reação, é importante a criação de redes conservadoras, não globais, mas mundiais, respeitando as individualidades e as nacionalidades. Precisamos recuperar a bandeira da economia de mercado, não caindo no erro de achar que a economia é tudo, mas sim trabalhando na cultura, e a partir daí se chegar à economia”.

Para o chanceler, uma das essências do movimento conservador é a convicção de que a reordenação das tendências humanas segundo os bons princípios é a única força capaz de remodelar a sociedade. Se nós a modelarmos ignorando esses valores, favoreceremos um sistema de valores errados, contrários à verdadeira liberdade. Precisamos empunhar a bandeira da fé em Nosso Senhor Jesus Cristo, a bandeira da Virgem.

Muito aplaudidos também por suas exposições foram a Ministra dos Diretos Humanos, Damares Alves; o Ministro da Educação, Abraham Weintraub; e o Ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.

Nos intervalos do Congresso Conservador

Chamaram a atenção, no hall de entrada, os conhecidos estandartes do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira no seu stand, que na ocasião divulgou a edição especial da revista Catolicismo [setembro/2019] dedicada exclusivamente ao tema do Sínodo Pan-Amazônico. Em torno do stand transcorreram animadas conversas e troca de endereços entre os jovens membros dos vários movimentos conservadores, que tiveram marcante presença no congresso.

O livro Psicose Ambientalista, de autoria de Dom Bertrand, esgotou-se rapidamente, tendo muitos dos interessados em adquiri-lo deixado seus endereços para recebê-lo por ocasião da próxima edição, já no prelo. Outro livro muito procurado no stand foi Tribalismo indígena, ideal comuno-missionário para o Brasil no século XXI, em que Plinio Corrêa de Oliveira denunciou, há mais de 40 anos, um projeto indigenista — precisamente o que se está propondo no Sínodo Pan-amazônico.

Ser autenticamente conservador, o que é?

Os que acompanharam o desenvolvimento do congresso puderam perceber a capacidade do movimento conservador de se organizar, pois todos anelamos pelo reatamento do Brasil de hoje com a Terra de Santa Cruz de ontem, ao mesmo tempo em que rechaçamos a manutenção do primitivismo que impede os brasileiros indígenas de usufruir os benefícios da civilização.

Um país nascido à sombra da Cruz, e tendo uma Santa Missa como seu primeiro ato oficial, com toda certeza é um país abençoado pela Divina Providência, que tem em relação a ele desígnios de glória. Somente trilhando o caminho da fidelidade a esse desígnio poderá o Brasil se projetar para o almejado futuro da paz de Cristo no reino de Cristo. Sejamos conservadores, no autêntico sentido da palavra. Não basta sermos apenas anticomunistas ou antissocialistas, mas devemos ir além, pois precisamos resgatar todo um modo de ser católico, que corresponde às nossas raízes cristãs e às nossas tradições, fazendo delas o ideal da vida. E com as maternais bênçãos de Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil, nós o conseguiremos.

ABIM

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