Na história da anatomia sexual, o clitóris certamente é um personagem e tanto. Já foi ignorado, diminuído e mal compreendido. Apesar de ser conhecido desde a Grécia Antiga – e mesmo que metade da população do mundo tenha um -, levou mais de 2.000 anos para os humanos finalmente entendê-lo.
O clitóris não mudou quase nada desde então, mas nosso conhecimento dele mudou enormemente. Conheça um pouco da história desse pequeno órgão erétil polêmico, o incrível centro de prazer feminino.
Descoberta
Ao longo da história, diversos anatomistas (todos homens) brigaram por créditos de quem teria descoberto o clitóris. (Fato: a melhor descoberta de um clitóris é a que qualquer mulher faz em algum ponto da sua vida, as mais felizardas mais cedo do que outras).
Quando um médico francês dissecou esse órgão pela primeira vez em 1545, o nomeou “membre honteux”, algo como “membro vergonhoso”, declarando que sua única função era a micção.
As origens da palavra “clitóris” são ainda mais obscuras. Clitóris parece vir da palavra grega “kleitoris”, que ambiguamente já foi traduzida como “pequena colina” e “esfregar”.
Dito tudo isso, pode até parecer que fizemos progresso, mas o clitóris em sua integridade ainda é retratado de forma inadequada em muitos livros de anatomia.
O órgão
Primeiro de tudo, o clitóris parece muito pequeno, mas o que você vê é apenas uma parte dele. Cerca de 90% desse órgão fica dentro do corpo da mulher.
Nesse “reino subterrâneo”, correm muitos nervos e vasos sanguíneos. Essa parte abaixo da superfície é uma espécie de forma gorda que circunda a vagina, com braços que se abrem até nove centímetros na pelve.
E todas essas partes abaixo da superfície são feitas de tecido erétil, o que significa que elas incham com sangue quando excitadas, tornando-se ainda maiores. Além disso, são cheias de conexões.
Por fim, o clitóris é intimamente ligado a todas as estruturas pélvicas ao seu redor, incluindo a uretra, a vagina e os lábios.
Avanços recentes
Felizmente, alguns pioneiros estão melhorando cada vez mais nosso conhecimento do clitóris. Podemos agradecer imensamente, por exemplo, a urologista australiana Helen O’Connell, que em 2005 levou a anatomia completa do clitóris à público.
Para isso, ela utilizou microdissecção de cadáveres e ressonância magnética de mulheres, revelando o que poucos anatomistas tiveram coragem de explorar no passado.
Uma vez que notou do que realmente se tratava, O’Connell comparou o clitóris a um iceberg: abaixo da superfície, era dez vezes maior do que pensávamos, com duas a três vezes mais terminações nervosas do que o pênis. Sua forma única só podia ser realmente apreciada em três dimensões.
Hoje, a maioria dos programas de anatomia está começando a incorporar esse conhecimento expandido do que antes era considerado apenas uma “pequena colina” – ou seja, a glande do clitóris.
Implicações
A anatomia do clitóris tem implicações na cama, na sala de aula e na sala de operações.
Compreender sua real forma ajuda os médicos e cientistas a ensinar corretamente, a entender melhor o orgasmo feminino (a mitologia grega, baseada na história do profeta Tirésias que passou sete anos transformado em uma mulher, jura que são elas que experimentam mais prazer no sexo) e a realizar cirurgias mais eficazes e precisas.
Por exemplo, os médicos podem poupar nervos cruciais durante a cirurgia pélvica, melhorar os procedimentos de afirmação de gênero e reparar com sucesso os clitóris de mulheres que sofreram mutilação genital.
Ou seja, estudar esse pequeno órgão é mais do que apenas necessário – é um prazer.
[Scientific American]
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