Os proprietários de terrenos localizados na faixa de gestão de combustível de cem metros em redor da aldeia da Mó vão plantar este sábado, 7 de março, as árvores - a maior parte das quais frutícolas - nas suas propriedades recentemente mobilizadas, afirmando o processo de reconversão de áreas florestais em áreas agrícolas que começou em 2019, depois do Município de Proença-a-Nova ter regulamentado o apoio e de a aldeia ter sido a primeira, no concelho, a associar-se nesse sentido. O objetivo deste projeto pioneiro é garantir que não existe floresta ao redor do aglomerado populacional, dando cumprimento ao exigido no Decreto Lei 124/2006, de 28 de junho, e garantindo a segurança de pessoas e bens que já passaram pela experiência de estar completamente cercadas por chamas no grande incêndio de 2003. 17 anos depois, a existência da densa mancha florestal, resultado da regeneração natural, volta a provocar sobressaltos pelo risco de eventuais incêndios florestais.
Carlos Pinto Gomes, professor auxiliar com agregação do Departamento de Paisagem, Ambiente e Ordenamento da Universidade de Évora, visitou a aldeia da Mó para aconselhar os proprietários quanto às espécies que melhor se adaptam às características edafoclimáticas do local. Felicitando as pessoas pelo envolvimento neste projeto, Pinto Gomes alertou que a intervenção nos cem metros é insuficiente pela densidade da floresta mesmo ao lado. “Então qual é a melhor estratégia? É prevenir, e no fundo é o que vocês já estão a fazer”. Na sua perspetiva, é fundamental criar descontinuidades no mosaico florestal, optando por espécies como os carvalhos, sobreiros e medronheiros e reforçando a aposta no olival.
A plantação de novas espécies, não apenas nos cem metros de faixa de gestão de combustível, terá de ser complementada com outras atividades como a pastorícia, a apicultura ou a micologia, que permitem retirar rendimento da floresta. Será este rendimento que possibilitará, por sua vez, atrair mais população para o interior do país. “É necessário termos pessoas aqui e para termos pessoas aqui elas têm que ganhar dinheiro, tem que haver sustentabilidade económica e é por esta sustentabilidade económica que temos que lutar com os nossos políticos”, referiu Carlos Pinto Gomes. Quando os proprietários são apoiados, criam-se novas oportunidades no mundo rural e na biodiversidade ambiental.
Quanto a conselhos práticos, Carlos Pinto Gomes incentivou à plantação de oliveiras – a galega que melhor se adapta a estes territórios, devendo ser podadas no interior para evitar, em anos húmidos, o surgimento da gafa que será reduzido se a oliveira for arejada. “Para ter azeite de qualidade é preciso um lagar de alta tecnologia e os produtores têm que meter na cabeça que é colher hoje a azeitona e amanhã estar no lagar”, acrescenta. No caso do medronheiro, este tem de ser podado pois pode crescer até aos 10 ou 20 metros, “e não produz fruto, produz tronco”. Os sobreiros para a produção de cortiça devem ser valorizados, ainda que nos primeiros dois anos após o descortiçamento não estejam protegidos contra os incêndios. As plantas que nascem espontaneamente, como as urzes ou a erva das sete sangrias e também a flor de medronheiro, são excelentes para a produção de um mel de qualidade. Como resposta à criação de riqueza através das novas plantações, e para quem quiser aderir desde já, está em execução projeto de agricultura biológica, através da Associação Pinhal Maior, e que envolve os concelhos de Proença-a-Nova, Oleiros, Mação, Sertã e Vila de Rei. Este apoio será dado a conhecer com maior profundidade em novo ciclo de ações que percorrerão o concelho.
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