quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Relatório sobre o estado das plantas e fungos no mundo publicado pelo Jardim Botânico Real de Kew tem participação da UC

 

O relatório “Kew's State of the World's Plants and Fungi 2020” do Jardim Botânico Real de Kew (RBG, Kew), no Reino Unido, publicado hoje, tem a participação da investigadora Susana C. Gonçalves, do Centro de Ecologia Funcional (Centre for Functional Ecology - Science for People & the Planet), da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC).

Este relatório de referência internacional, que vai já na quarta edição, é um mergulho profundo no estado atual do reino das plantas e do reino dos fungos à escala global. Os novos dados, resultado de uma vasta e inédita colaboração internacional entre 210 cientistas de 42 países, mostram como nós atualmente utilizamos plantas e fungos, quais as propriedades úteis que nos faltam explorar, e o que corremos o risco de perder.

Segundo o documento, «plantas e fungos são os blocos de construção da vida no planeta Terra. Têm o potencial de resolver problemas urgentes que ameaçam a vida humana, mas esses recursos vitais estão a ser comprometidos pela perda de biodiversidade». O relatório alerta para a necessidade premente de «explorar as soluções que as plantas e fungos podem fornecer para lidar com algumas das pressões que as pessoas e o planeta enfrentam».

Este relatório apresenta pela primeira vez uma síntese de novas espécies para a ciência compilada tanto para plantas como para fungos. Os autores descobriram que 1.942 plantas e 1.886 fungos foram nomeados como novos para a ciência em 2019. Entre essas, estão espécies que podem ser valiosas como alimentos, bebidas, medicamentos ou fibras (ver documento em anexo).

A cientista Susana C. Gonçalves participa em dois capítulos do relatório: um dedicado à importância das colaborações para assegurar um futuro sustentável para todos e outro que avalia o risco de extinção de plantas e fungos.

No capítulo que realça a importância das colaborações para assegurar um futuro sustentável para todos, a investigadora partilha o trabalho de conservação que está a ser desenvolvido em São Tomé e Príncipe no âmbito do projeto “Tesouros d’Obô”. A par da inventariação da diversidade de cogumelos, o projeto trabalha com as comunidades locais para valorizar e gerir de forma sustentável estes recursos, melhorando simultaneamente a sua qualidade de vida. «Esta abordagem centrada nas comunidades, só possível com as parcerias existentes, está a abrir caminho para uma solução duradoura na conservação da floresta e dos fungos em São Tomé e Príncipe», conta Susana C. Gonçalves.

No que respeita à avaliação do risco de extinção de plantas e fungos, que enfatiza as lacunas e enviesamentos no conhecimento atual e que comprometem medidas de conservação eficazes, a investigadora da UC, que também é avaliadora do risco de extinção de fungos para a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), indica o muito trabalho ainda por fazer: «Apenas 285 das 148,000 espécies conhecidas de fungos foram avaliadas para a Lista Vermelha da IUCN, correspondendo somente a 0,2 %». Por isso, salienta que a «Ciência Cidadã e ferramentas como a modelação e a inteligência artificial podem contribuir de forma determinante para acelerar este processo».

Quando questionada sobre as ações que podem ser dinamizadas pelos cidadãos individualmente para proteger a biodiversidade fúngica do planeta, Susana C. Gonçalves contextualiza: «se quisermos trazer a conservação dos fungos para o primeiro plano, temos de desmistificar conceitos errados que persistem em toda a sociedade, por exemplo, os fungos ainda são muitas vezes confundidos com plantas ou retratados erroneamente como inimigos, e precisamos de desafiar a indiferença em relação aos fungos. Em última análise, só nos preocupamos em proteger o que amamos».

Mais informação sobre o “Kew's State of the World's Plants and Fungi 2020” segue em anexo.

Cristina Pinto

O não aproveitamento da miríade de usos das plantas e fungos está a prejudicar as pessoas e o planeta, diz novo relatório

Divulgado o relatório Kew's State of the World's Plants and Fungi 2020

  • Medicina - 723 das plantas que utilizamos para medicina em risco de extinção

  • Alimentação e combustível - novos dados mostram que utilizamos uma fração minúscula das espécies de plantas e fungos existentes

  • 2 em 5 plantas ameaçadas - o risco de extinção pode ser pior do que se pensava anteriormente

  • 4000 novas espécies - potenciais novos alimentos, medicamentos e madeira encontrados em 2019

  • Corrida contra o tempo - o ritmo de procura, descrição e conservação das espécies de plantas e fungos é demasiado lento

  • Dados de 12 artigos científicos publicados hoje sustentam o relatório

  • Simpósio online de 3 dias sobre os resultados do relatório a seguir em 13-15 de Outubro

O quarto relatório “State of the World” do Jardim Botânico Real, Kew (RBG,Kew), UK, publicado hoje, é um mergulho profundo no estado atual do reino das plantas e do reino dos fungos à escala global. Os novos dados, resultado de uma vasta e inédita colaboração internacional entre 210 cientistas de 42 países, mostram como nós atualmente utilizamos plantas e fungos, quais as propriedades úteis que nos faltam explorar, e o que corremos o risco de perder.

Este relatório combina pela primeira vez plantas e fungos numa avaliação global do “Estado do Mundo”, com os dados subjacentes também publicados hoje numa série de artigos de investigação científica disponibilizados gratuitamente na revista científica “Plants, People, Planet” (https://nph.onlinelibrary.wiley.com/journal/25722611).



Professor Alexandre Antonelli, Diretor de Ciências do Jardim Botânico Real Kew, afirma:

"Os dados emergentes do relatório deste ano pintam um quadro de um mundo que virou as costas ao potencial das plantas e dos fungos para abordar questões globais fundamentais, tais como a segurança alimentar e as alterações climáticas. As sociedades têm estado demasiado dependentes de muito poucas espécies durante demasiado tempo. Numa época de rápida perda de biodiversidade, não estamos a conseguir aceder à arca do tesouro que é a incrível diversidade que nos é oferecida e a perder uma enorme oportunidade para a nossa geração. Ao iniciarmos a década mais crítica que o nosso planeta alguma vez enfrentou, esperamos que este relatório dê ao público, às empresas e aos decisores políticos os factos de que necessitam para exigir soluções baseadas na natureza que possam enfrentar as triplas ameaças das alterações climáticas, da perda de biodiversidade e da segurança alimentar".


Estima-se agora que 2 em cada 5 plantas estejam ameaçadas


O relatório de Kew sobre o Estado das Plantas do Mundo em 2016 estimava que 1 em cada 5 plantas estava em risco, mas novas análises este ano mostram que o risco de extinção pode ser muito maior do que se pensava anteriormente, com 39,4% de plantas ameaçadas de extinção, quase o dobro dos 21 % que se estimavam ameaçadas de extinção em 2016. Este salto na proporção/percentagem deve-se a avaliações de conservação mais sofisticadas e a novas abordagens analíticas para corrigir os enviesamentos nos dados. A contabilização de grupos de plantas e áreas geográficas sob e sobre representadas permitiu aos cientistas estimar com maior precisão o risco de extinção global. Os autores sugerem que a melhor linha de ação agora é 'acelerar' as avaliações de risco para que as áreas chave possam ser protegidas, e as espécies possam ser conservadas sem demora. Para o conseguir, a IA (inteligência artificial) poderia ajudar a identificar prioridades para as avaliações de conservação. Esta nova tecnologia pode detetar se uma área contém múltiplas espécies que não foram avaliadas, mas que são mais suscetíveis de serem ameaçadas, o que ajudará a acelerar as avaliações para áreas com necessidades mais urgentes.


Dra. Eimear Nic Lughadha, Cientista da Conservação do RBG, Kew e autora principal do capítulo de extinção, afirma: “Nós precisamos ter uma ideia aproximada do status de conservação de todas as espécies - e agora temos maneiras de conseguir isso com abordagens de IA que são 90% precisas. As técnicas são boas o suficiente para dizer: "esta área tem muitas espécies que ainda não foram avaliadas, mas quase certamente estão ameaçadas". E saber disso permitir-nos-á identificar as áreas mais importantes para conservar no futuro imediato.”


723 das plantas que utilizamos como medicinais estão em risco de extinção

A procura global de medicamentos de origem natural está a ameaçar algumas espécies.

Novos dados no relatório deste ano mostram que das 5.411 plantas medicinais que foram avaliadas quanto ao seu estado de conservação (entre 25.791 plantas medicinais documentadas), 723 (13%) foram categorizadas como ameaçadas. Para fungos, apenas seis espécies medicinais foram avaliadas, uma das quais, o “Agarikon” (Fomitopsis officinalis), um fungo parasita de árvores que possui propriedades antimicrobianas, está já à beira da extinção (classificado como Em Perigo).



Entre essas espécies ameaçadas está Brugmansia sanguinea, uma planta medicinal usada tradicionalmente para distúrbios circulatórios, que foi listada como "extinta na natureza" pela União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN). Outras espécies medicinais em risco de extinção incluem Nepenthes khasiana, tradicionalmente aplicada para doenças de pele, e a árvore da casca da pimenta preta (Warburgia salutaris), um remédio tradicional para a tosse e constipações.

Acredita-se que o aumento da procura de medicamentos à base de plantas seja impulsionado por diversos fatores, incluindo um aumento da prevalência de certas doenças crónicas, e a procura de novas terapias. A nível mundial, cerca de 4 mil milhões de pessoas dependem de medicamentos à base de plantas como fonte primária de cuidados de saúde e, na China, a medicina à base de plantas representa cerca de 40% dos serviços de saúde1.

A África do Sul está entre os maiores consumidores mundiais de plantas medicinais, com cerca de 27 milhões de pessoas dependendo dos cuidados de saúde tradicionais. A colheita excessiva e o uso insustentável de plantas medicinais silvestres são uma grande preocupação nesse país. Especialistas acreditam que a queda observada no número de espécies comercializadas entre 1998 (700) e 2013 (350) pode ser devida a uma redução na diversidade de plantas disponíveis. A coleta de bolbos, cascas e raízes para venda é particularmente destrutiva pois a planta morre após a colheita em cerca de 86% dos casos.

A Dra. Melanie-Jayne Howes, Química do RBG, Kew e autora principal do capítulo sobre Medicina, afirma: "Os avanços científicos estão a proporcionar oportunidades para formas mais sustentáveis de revelar novos medicamentos a partir da natureza, para harmonizar o uso terapêutico da biodiversidade com a sua conservação pró-ativa através de soluções baseadas na natureza. Estas estratégias fornecem a esperança de salvaguardar o fornecimento de medicamentos valiosos no futuro, ao mesmo tempo que demonstram o valor das plantas e dos fungos como um incentivo adicional para a conservação da biodiversidade".

7.039 plantas comestíveis com potencial para futuras culturas

Estamos demasiado dependentes de uma pequena fração de plantas e fungos para a nossa alimentação e energia, apesar dos milhares de espécies lá fora que têm o potencial de alimentar e abastecer milhões em todo o mundo.

Novos dados no relatório deste ano mostram que existem 7,039 plantas comestíveis com potencial como futuro alimento, mas apenas 15 plantas fornecem 90% do consumo de energia alimentar da humanidade, e quatro bilhões de pessoas dependem inteiramente de três culturas - arroz, milho e trigo1. Contar apenas com um punhado de culturas para alimentar a população global tem contribuído para a subnutrição e deixa-nos vulneráveis às mudanças climáticas. Com a previsão de que a população global aumentará de 7,8 bilhões para 10 bilhões até 2050, os cientistas de Kew e os seus colaboradores pesquisaram que plantas negligenciadas e subutilizadas poderiam ser a chave para a proteção futura dos nossos sistemas de produção alimentar. Identificaram 7039 plantas listadas como "alimento humano" a partir de uma base de dados de plantas úteis de Kew, das quais apenas 417 (5,9%) são consideradas como grandes culturas alimentares.

Os critérios para chegar a estas 7k plantas comestíveis foram rigorosos - tinham de ser: nutritivas, para lidar com milhões de pessoas subnutridas em todo o mundo, suficientemente robustas para um clima em mudança, com baixo risco de extinção, e com um historial de serem utilizadas como alimentos, pelo menos a nível local. Os alimentos da futura despensa incluem: o feijão “morama”, uma leguminosa sul-africana tolerante à seca, com sementes que, quando torradas, têm um sabor semelhante ao do caju e podem ser cozidas ou moídas em pó para usar em papas ou bebidas; e uma espécie de Pândano tolerante à seca que cresce nas planícies costeiras do Havai às Filipinas e produz um fruto que pode ser comido cru ou cozinhado.

O Dr. Stefano Padulosi, antigo Cientista Sénior da Alliance of Biodiversity International e do Centro Internacional de Agricultura Tropical, e co-autor do capítulo alimentar, afirma: “Os milhares de espécies de plantas subutilizadas e negligenciadas são a tábua de salvação para milhões de pessoas na Terra atormentadas por alterações climáticas sem precedentes, insegurança alimentar e nutricional generalizada, e fragilidade económica. O aproveitamento deste cabaz de recursos inexplorados para tornar os alimentos e os sistemas de produção mais diversificados e resistentes à mudança, deveria ser o nosso dever moral para com as gerações atuais e futuras".

2.500 plantas que poderiam fornecer energia limpa para milhões de pessoas em todo o mundo

Entretanto, para efeitos de produção de energia, existem 2.500 plantas identificadas que poderiam ser utilizadas para combustível ou bioenergia, mas apenas seis culturas - milho, cana-de-açúcar, soja, óleo de palma, colza e trigo - geram 80% do biocombustível industrial global. Com 840 milhões de pessoas (principalmente na África subsariana, Ásia e Oceânia) sem acesso a eletricidade e três mil milhões sem acesso a combustíveis e tecnologia não poluentes para cozinhar, são urgentemente necessárias novas culturas bioenergéticas.


Até agora, a investigação tem-se concentrado em algumas espécies cultivadas para cadeias de fornecimento de energia industrial. Numa tentativa de colmatar esta lacuna de conhecimento, Kew e os seus colaboradores realizaram uma avaliação aprofundada das plantas e fungos que poderiam ser utilizados como fonte de energia, avaliando as espécies com potencial para serem ampliadas com tecnologias inovadoras.


Como fontes renováveis de bioenergia, as plantas e os fungos têm um enorme contributo a dar para reduzir tanto as emissões de carbono como a pobreza energética. Os fungos, em particular, têm muito potencial inexplorado no sector da bioenergia e são abundantes e renováveis como um recurso. Contudo, em vez de ajudar a reduzir os gases com efeito de estufa e a aliviar a pobreza energética, alguns dos métodos atualmente utilizados para produzir bioenergia estão a prejudicar o ambiente e as pessoas. Por exemplo, em 2019, foi levantada uma proibição do cultivo de cana-de-açúcar na Amazónia, o que pode ampliar as taxas de desflorestação, libertando dióxido de carbono para a atmosfera e ameaçando espécies.


A equipa encontrou várias iniciativas bioenergéticas que poderiam ser implementadas a nível local como uma solução para a pobreza energética. Um desses exemplos é uma microempresa, EcoFuels Kenya, que produz anualmente mais de 3k toneladas de frutos secos colhidos na natureza. Processam os frutos secos para extrair óleo para substituir o gasóleo nos motores dos geradores, enquanto as cascas são convertidas em rações e fertilizantes para o gado. Os autores sugerem que é necessário um esforço combinado para aumentar com sucesso este tipo de inovação a fim de fornecer energia limpa para todos: os investigadores e os órgãos de financiamento precisam de aumentar os esforços para encontrar espécies locais de biocombustíveis em países de baixo rendimento; os governos precisam de encorajar a diversidade da agricultura juntamente com a conservação da biodiversidade; e a indústria precisa de investir em tecnologias desenvolvidas para as espécies locais.



Dra. Olwen Grace, Botânica do RBG, Kew e autora principal do capítulo sobre energia, afirma: “Penso que a pobreza energética pode ser abordada de forma sustentável dentro de uma década se houver vontade política, visto que temos um conjunto diversificado de plantas e fungos para explorar e uma vasta gama de tecnologias emergentes adequadas. Há um potencial real para aproveitar os avanços da engenharia para apoiar paisagens diversas, sustentáveis e resilientes que atendam às necessidades humanas mais essenciais - alimentos, água e energia.”




Dra. Mary Suzan Abbo, Diretora Geral do Centro de Pesquisa em Energia e Conservação de Energia, Universidade Makerere, Uganda afirma: “Todos os anos, como resultado da combustão insustentável de madeira e carvão vegetal no Uganda, milhares de hectares de floresta são perdidos e milhares de pessoas sofrem de inalação do fumo. A colaboração internacional pode ajudar-nos a identificar as plantas e os fungos que tornarão a energia limpa e sustentável acessível a todos. As tecnologias dos biocombustíveis têm o potencial de apoiar tanto a biodiversidade como a vida humana.”


Os alimentos, medicamentos e madeira novos para a Ciência em 2019

O relatório deste ano apresenta pela primeira vez uma síntese de novas espécies para a ciência compilada tanto para plantas como para fungos. Os autores descobriram que 1.942 plantas e 1.886 fungos foram nomeados como novos para a ciência em 2019. Entre essas, estão espécies que podem ser valiosas como alimentos, bebidas, medicamentos ou fibras. Os destaques incluem:


Alimentos e bebidas:

  • Seis novas espécies de Allium, o género a que pertencem o alho, a cebola, o alho-porro e o cebolinho, foram encontradas pela primeira vez por cientistas na Turquia, Albânia, Grécia e China

  • 10 parentes não descritos de espinafre, do género Chenopodium ,surgiram na Califórnia

  • 30 espécies de Camellia, o género a que o chá pertence, anteriormente sem nome, foram encontradas na China e no sudeste da Ásia continental

  • O Brasil revelou dois parentes selvagens da mandioca (Manihot esculenta), a raiz vegetal que é um ingrediente essencial em muitas cozinhas latino-americanas e caribenhas

  • Oito novas espécies de fungos foram nomeadas a partir do género do cogumelo comestível "Homem Velho da Floresta" (Strobilomyces strobilaceus)


Dr. Martin Cheek, botânico do RBG, Kew e autor principal do capítulo Novas espécies afirma: “Estas novas espécies selvagens de mandioca têm potencial para ser realmente importantes para a cultura da mandioca, que é um alimento básico para cerca de 800 milhões de pessoas em todo o mundo. Os genes presentes nos parentes selvagens podem ser úteis para ajudar a tornar a cultura atual resistente a pragas ou doenças, ou para permitir que cresça noutros habitats com diferentes padrões de pluviosidade ou de fertilidade do solo.”



Madeira:

  • Foi descrita uma nova árvore da família do mogno e é uma possível nova fonte de madeira

  • Oito novas espécies do género da palmeira que fornece vime para o comércio de móveis também foram descritas



Medicina:

  • Eryngium arenosum, encontrado por cientistas no Texas, EUA, pertence a um género que contém plantas utilizadas no tratamento de inflamações, elevados níveis de açúcar no sangue e picadas de escorpião

  • Artemisia baxoiensis, localizada no Tibete, está intimamente relacionada com a espécie antimalárica Artemisia annua

  • Três novas espécies do género Oenothera (também conhecido como onagra) foram recentemente descritas - outras plantas neste género produzem ácidos gama-linoléicos usados para tratar esclerose, eczema e psoríase



Outros cabeçalhos do relatório deste ano incluem:


  • Necessidade de acelerar o ritmo de descoberta das espécies É uma corrida contra o tempo para encontrar, identificar, descrever e conservar as espécies antes da sua extinção. Não podemos proteger uma espécie se não soubermos que ela existe - isto torna encontrar, descrever e dar nome às espécies uma tarefa crítica. Os autores do relatório apelam a mais investigação e financiamento em todo o mundo para resolver urgentemente o desfasamento entre taxonomia e conservação.

  • Falta de estratégias de plantação de árvores nas cidades – As árvores urbanas que plantamos agora precisam de ser capazes de resistir às mudanças globais ao longo dos séculos, mas a baixa diversidade atual está deixa-as vulneráveis a secas, pragas e doenças. As árvores são os heróis anónimos das nossas cidades: elas capturam poluentes para limpar o ar, amenizam o impacto da chuva nos solos, reduzem as inundações e ajudam a mitigar as mudanças climáticas ao reter carbono. Mas, para assegurarmos que obtemos o maior benefício dos serviços ecossistémicos que as árvores proporcionam, precisamos de planear sabiamente as futuras paisagens urbanas. Dados da organização OpenTrees.org mostram que, globalmente, apenas um pequeno número de espécies e géneros dominam as paisagens urbanas - as 10 espécies mais comuns de quase sete milhões de árvores em 67 locais representavam 39,5% das árvores, das quais oito géneros representam quase 80%. Não apenas a diversidade de géneros e espécies é limitada, mas também a diversidade genética dentro das espécies, porque as espécies cultivadas em viveiros para plantação são frequentemente clones. Para satisfazer a procura de árvores robustas, são necessárias mudanças nas estratégias de plantação. Atualmente, as autoridades municipais são motivadas por metas de redução de gases de efeito estufa, mas para que as árvores sobrevivam a pragas, doenças e mudanças climáticas, é necessário visar tanto a qualidade como a quantidade. Os autores do relatório sugerem que um ponto de partida para a seleção de espécies para esquemas de plantação urnbana é avaliar os serviços ecossistémicos necessários e escolher diversas espécies para fornecer esses serviços e garantir que as árvores sejam geneticamente diversas, o que poderia significar a plantação de espécies raras e não tradicionais.


  • A apicultura nas cidades é insustentável – Os níveis atuais de apicultura nas cidades estão a ameaçar outra biodiversidade, principalmente abelhas selvagens, em vez de as salvar, descobriram novos dados no relatório deste ano. Cada vez mais evidências mostram que não existe néctar e pólen suficientes para sustentar o número atual de colmeias em Londres. Este é um problema para a conservação das abelhas, uma vez que as abelhas melíferas estão a competir com as populações de abelhas selvagens por alimento e também podem transmitir-lhes doenças. Por isso, a apicultura para “salvar as abelhas” pode estar a ter o efeito oposto.

  • A apicultura nas cidades é insustentável - Os atuais níveis de apicultura nas cidades estão a ameaçar outras biodiversidades, principalmente abelhas selvagens, em vez de a salvar, novos dados encontrados no relatório deste ano. Cada vez mais provas mostram que não existe néctar e pólen suficientes para suportar o atual número de colmeias em Londres. Este é um problema para a conservação das abelhas, uma vez que as abelhas estão a ultrapassar as populações de abelhas selvagens para se alimentarem e podem também transmitir-lhes doenças. Assim, a apicultura para salvar abelhas poderia estar a ter o efeito oposto.
    Professor titular Phil Stevenson, cientista do RBG, Kew e autor prinipal do capítulo sobre Serviços ecossistémicos, afirma: “Esta revelação irá surpreender muitos daqueles que pensam que a criação de abelhas é uma grande ajuda para o meio ambiente. Infelizmente, nem sempre é o caso. O público precisa estar muito mais ciente da importância da diversidade de polinizadores e de como os organismos interagem, para que possamos conservar toda a vida selvagem urbana de forma mais eficaz.”


  • Apenas 6,2% das plantas e 0,4–5,4% dos fungos estão associados a patentes – A comercialização de produtos derivados de plantas e fungos através de patentes tem o potencial de gerar riqueza, reduzir a pobreza, melhorar o bem-estar humano e aumentar a consciência sobre a biodiversidade para incentivar sua conservação. No entanto, novos dados no relatório deste ano mostram que uma percentagem muito pequena de espécies está associada a patentes. É necessária uma melhor infraestrutura de registo de patentes, incluindo mais investigação sobre os recursos naturais de cada país e fortes acordos de partilha de benefícios implementados a nível mundial para aumentar o desenvolvimento de produtos baseados na natureza.

Professora titular Monique Simmonds, Vice-Diretora de Ciências do RBG, Kew e autora principal do capítulo Comercialização, afirma: “As patentes aumentam o valor económico da biodiversidade. Com as patentes, mais pessoas perceberiam o potencial das plantas e dos fungos porque muitas dessas patentes resultariam em alguma forma de comercialização. E, desde que os sistemas apropriados estejam implementados, isso resultaria em retorno monetário para o lugar de onde a biodiversidade veio.”


RECURSOS E DESDOBRAMENTOS



  • Para descarregar uma cópia do Relatório do Estado Mundial das Plantas e Fungos, por favor clique aqui.

  • O relatório estará disponível publicamente a partir das 00:01 (Horário de verão Britânico) de Quarta-feira, 30 de setembro de 2020 aqui.

  • Para saber mais, solicitar uma entrevista ou para aceder a imagens e filmagens B-roll de Kew, por favor contacte: Heather McLeod, Assessora sénior de imprensa, RBG, Kew por email pr@kew.org / h.mcleod@kew.org / ou telefone 020 8332 3703 / 07464 938860


Simpósio Virtual sobre o Estado das Plantas e Fungos: 13–15 de outubro de 2020

Em conjunto com a publicação do relatório, Kew acolherá o primeiro simpósio de sempre sobre o “Estado Mundial” centrado tanto em plantas como em fungos. Junte-se a cientistas internacionais, representantes da indústria e decisores políticos de 13 a 15 de outubro de 2020 para discutir ações de proteção e utilização sustentável da diversidade mundial de plantas e fungos para o benefício das pessoas e do planeta. O simpósio terá lugar online, permitindo a participação global de entre um leque diversificado de competências, experiências e origens étnicas. O programa baseia-se em seis sessões temáticas nas quais especialistas convidados abordarão uma questão atual através de apresentações e de um painel de perguntas e respostas. Para obter mais informações e se inscrever para participar, por favor clique aqui.



Notas para Editores

Sobre o Jardim Botânico Real, Kew

O “Royal Botanic Gardens, Kew” é uma organização científica mundialmente famosa, respeitada internacionalmente por suas coleções extraordinárias, bem como por sua experiência científica em diversidade de plantas e fungos, conservação e desenvolvimento sustentável no Reino Unido e em todo do mundo. Os Jardins Botânicos são uma grande atração internacional e uma das principais atrações turísticas de Londres. Os 132 hectares de jardins paisagísticos dos Jardins de Kew e Wakehurst, o Jardim Botânico Selvagem de Kew, atraem mais de 2,5 milhões de visitas todos os anos. Kew Gardens foi declarado Patrimônio Mundial da UNESCO em julho de 2003 e celebrou o seu 260º aniversário em 2019. Wakehurst é a casa do Millennium Seed Bank de Kew, o maior banco de sementes de plantas selvagens do mundo. O Centro de Conservação Kew Madagascar é o terceiro centro de pesquisa de Kew e o único escritório no estrangeiro. O RBG Kew recebe aproximadamente um terço de seu financiamento do governo por meio do Departamento de Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais (Defra) e conselhos de pesquisa. O financiamento adicional necessário para apoiar o trabalho vital de RBG Kew provém de doadores, membros e atividades comerciais, incluindo a venda de ingressos.


Sobre os relatórios do “Estado Mundial” de Kew


  • 2016: Primeiro Estado Mundial das Plantas – Foco Regional Brasil

  • 2017: Estado Mundial das Plantas – Foco Regional Madagáscar

  • 2018: Primeiro Estado Mundial dos Fungos– Foco Regional China

  • Kew não divulgou um relatório do “Estado Mundial” em 2019


O projeto Estado Mundial das Plantas e Fungos foi possível graças a uma significativa doação da Fundação Sfumato, que foi complementada por custos de pessoal básicos existentes.


Sobre Plants, People, Planet

Plants, People, Planet é uma revista científica multidisciplinar de Acesso Livre, de propriedade da New Phytologist Foundation e publicado pela Wiley. A revista promove a investigação de mais alta qualidade focada nas plantas no seu sentido mais amplo e celebra tudo o que é novo, inovador e empolgante na pesquisa com foco em plantas, e relevante para a sociedade e a vida diária das pessoas.


1 FAO (Food and Agriculture Organisation of the United Nations)

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