O mote foi deixado por Ricardo Rio, presidente da Câmara Municipal de Braga e da InvestBraga, na abertura oficial da conferência “Fórum Turismo de Negócios – a retoma”. A conferência, promovida pela InvestBraga para assinalar o 2º aniversário do Altice Forum Braga, realizou-se esta manhã, 11 de setembro.
Perante uma plateia reduzida, face às limitações resultantes do cumprimento das recomendações de distanciamento social, Ricardo Rio lembrou o impacto que este equipamento tem tido na cidade e na região, recordando que, mesmo durante o confinamento o espaço foi vital para o apoio à comunidade, quer como espaço de formação para os profissionais de saúde, quer como espaço para acolher o centro de rastreio à COVID-19. E se atualmente considera que o Altice Forum Braga “tem mais visitantes ao centro de rastreio aqui instalado do que aos eventos que foram sendo promovidos, o fenómeno não tem de continuar a ser assim”. Com um trabalho conjunto entre entidades de saúde e os intervenientes no setor do turismo “é possível promover essa retoma” dos eventos, afirmou.
Já Lídia Monteiro, diretora coordenadora da Direção de Apoio à Venda do Turismo de Portugal, indicou que a realização de eventos tem de ser feita de acordo com “aquilo que as empresas precisam, o que a procura impõe e o que as circunstâncias admitem”. Assim, e entre o que considera serem cinco fatores para a recuperação, referiu os mecanismos já existentes, como o Selo Clean & Safe ou o despacho 7900-A/2020 (que fixa os princípios e orientações aplicáveis à realização de eventos corporativos) como elementos geradores de confiança.
Para contrariar a retração da procura é também necessário, como referiu de Lídia Monteiro, trabalhar para repor ligações aéreas, embora este trabalho seja feito “num contexto volátil que exige monitorização diária”. Ainda assim, o nível de recuperação de ligações aéreas foi, segundo a diretora coordenadora do Turismo de Portugal, de 30% em julho e 47% em agosto. Prevê-se que sejam atingidos os 57% em setembro e 64% em outubro. A centralidade no cliente, manter contactos com decisores e com trade, bem como ações comerciais e promocionais são, na sua opinião, formas importantes de promover a retoma.
A responsável falou também nas linhas de apoio do Turismo de Portugal - a grandes eventos e a eventos com interesse turístico – que estão a ser criadas, lembrando igualmente o apoio direto à tesouraria.
A “inadiável digitalização do setor” é outro fator determinante para a retoma. “As empresas e marcas estão a mudar e quem estiver mais apto terá mais oportunidades”, sublinhou também, destacando que, nos eventos, “a coexistência entre o digital e o humano é cada vez mais afinada e disponível”. A sustentabilidade é outro fator fundamental. Lídia Monteiro citou mesmo o secretário-geral da ONU, António Guterres, que recordou que “a ameaça climática é muito mais grave do que a pandemia” para reforçar a importância de eventos mais sustentáveis.
Por último, referiu como fator essencial a experiência vivida pelos participantes em eventos. “A força de atração dos eventos reside na partilha de conhecimento, na promoção do networking e na valorização pessoal e profissional. São espaços de formação, descoberta, difusão de novidades e transformação da sociedade. São janelas de conhecimento que não podemos deixar que se fechem. Mas, por mais sofisticada que seja a via digital não substitui a experiência de estarmos juntos”.
Na sua última mensagem, a responsável deixou quase um desafio: “é importante trabalharmos em conjunto”.
Pensar e agir coletivamente
No primeiro painel de discussão, sob o tema “O novo normal”, Pedro Cardoso, fundador da The House of Events, Cristina Gouveia, da Citur, e Vasco Noronha, da FactorChave, partilharam a sua experiência de trabalho no atual contexto e as perspetivas para os próximos tempos.
“Pensar e agir coletivamente, para mim, é o novo normal”, defendeu Pedro Cardoso, referindo-se à forma como, depois de um adiamento, resolveu avançar para a realização do Congresso de Medicina Interna, que decorreu no Altice Forum Braga.
Destacando a coragem da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna em decidir realizar o evento, recordou que “o momento para uma retoma foi enquadrado de uma forma relativamente tranquila”.
“O trabalho foi juntar à nossa volta as melhores cabeças, reunir todos os envolvidos e ver quais as melhores soluções para resolver os problemas dentro do quadro que existia”, contou. Na sua opinião, a pandemia trouxe “um espírito muito mais aberto” e maior disponibilidade para “aprender e colaborar”.
Uma opinião em parte partilhada por Cristina Gouveia, diretora da Citur no Porto, que, embora admitindo que os últimos meses não têm sido fáceis, “devido à falta de confiança no destino e no que pode acontecer”, sublinhou: “Com a vontade e ajuda de todos os parceiros e fornecedores é possível que determinadas coisas sejam feitas. Estamos todos do mesmo lado e havendo boa vontade é possível”.
Vasco Noronha viria também a expressar uma visão semelhante: “[a pandemia] Uniu mais as pessoas, demonstrou que são importantes boas parcerias, que temos de estar preparados para ceder um pouco e encontrar a melhor solução para todos os intervenientes no processo”.
Um setor diferente, mas a que não se pode ser indiferente
Já o painel “Desafios da retoma” contou com as intervenções de Luís Pedro Martins, presidente do Turismo Porto e Norte, Vítor Costa, presidente do Turismo de Lisboa, e João Fernandes, presidente do Turismo do Algarve, tendo o último optado pela participação remota.
O responsável pelo Turismo Porto e Norte considerou importante que uma linha de apoio não se esgote num evento e disse “acreditar que estas verbas avultadas que vão chegar [da União Europeia] tenham em consideração este setor”.“É um setor com capacidade de arrastamento e, quanto mais depressa recuperar, mais depressa outros vão recuperar”, afirmou, pedindo uma discriminação positiva não só para uma região, mas para todo o setor.
João Fernandes, por sua vez, lembrou a importância do turismo na economia nacional, até porque na balança entre importações e exportações não é deficitário: “Não tenho dúvidas de que quem nos vai fazer sair desta crise será o turismo”, garantiu. “Há que diversificar a oferta, atrair público para um território mais vasto. Não temos turismo a mais, temos é outros setores a menos”.
Já Vítor Costa recordou que “O primeiro desafio é manter a estrutura económica do turismo, que não é igual em todas as atividades económicas. Há um reconhecimento que tem de ser feito desta especificidade”, considerou, alertando para a necessidade de “medidas e um programa específico para o turismo”.
Um olhar internacional e um estudo para fazer pensar
Sjoerd Weikamp, editor da Event Branche, revista holandesa dedicada aos eventos, foi o convidado internacional da conferência. O orador partilhou com a audiência que o setor na Holanda vive momentos complicados: "Há um pacote de ajuda do governo, que foi estendido no tempo, até março de 2021". Lá, como cá, várias empresas de eventos enveredaram pelos eventos online, havendo, neste momento, ainda poucas iniciativas presenciais. "Em termos do live, o corporate, as marcas, as instituições que sabem que os eventos são os momentos mais poderosos em termos de comunicação e marketing pensam: as pessoas estão a trabalhar de casa, não vamos fazer eventos", lamenta. Na Holanda é possível fazer eventos, desde que com regras apertadas de distanciamento, "mas quase não se vê marcas a arriscarem".
Quanto ao futuro imediato da indústria, a opção deverá recair sobre os eventos mais pequenos, cabendo às as agências demonstrar que estes podem ser realizados.
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