segunda-feira, 11 de outubro de 2021

CRISTO REDENTOR — (1931 – 2021)

 Inaugurada no alto do Corcovado em 12 de outubro de 1931, portanto há 90 anos, a estátua do Cristo Redentor reina sobre o Brasil inteiro, a Terra de Santa Cruz, que também poderia ser apropriadamente chamada Terra do Cristo Redentor.

Em memória do 90º aniversário da monumental imagem, transcrevemos abaixo os principais trechos de um discurso de Plinio Corrêa de Oliveira no auditório do Hotel Hilton, na capital paulista, em 17 de outubro de 1978. A transcrição do discurso — pronunciado de improviso — foi feita a partir de uma gravação em fita magnética, não tendo passado pela revisão do autor. De nossa parte, adaptamos o texto apenas o suficiente para transpô-lo da linguagem falada para a escrita.

Dr. Plinio, então com a idade de 23 anos, esteve presente à providencial inauguração no Corcovado, a convite do cardeal-arcebispo do Rio de Janeiro na época, Dom Sebastião Leme da Silveira Cintra. E sempre falava com entusiasmo do Cristo Redentor, bem como das maravilhas criadas por Deus para a contemplação de seus filhos naquela cidade, com “a mais bela baía do mundo, a mais magnífica, a mais extraordinária, com o seu Pão-de-Açúcar, com seu Corcovado, reservado por Deus para ser um dia pedestal de uma magnífica imagem de Nosso Senhor Jesus Cristo”.

Neste aniversário, supliquemos especialmente ao Divino Redentor e a Nossa Senhora Aparecida, Rainha do Brasil, que abram seus braços a todos os brasileiros, os abençoem e iluminem especialmente na atual e difícil quadra histórica que atravessa o País.

Da Redação de Catolicismo

[Edição Nº 850, Outubro/2021]

A fibra anticomunista do Brasil

  • Plinio Corrêa de Oliveira

Pelo brilho desta solenidade, vejo novamente confirmada uma convicção que tenho há muito tempo: a respeito do Brasil, os comunistas se enganam. Talvez tenham eles a impressão de que podem tomar conta facilmente do País, mas isso não é verdade. Há pujanças anticomunistas no Brasil, muito maiores do que eles supõem, e das quais os senhores são uma expressão. Uma expressão local, paulista, paulistana, de um fato imenso que se estende — para usar a expressão do hino das congregações marianas — “do Prata ao Amazonas, do mar às cordilheiras”.

Realmente, meus caros, nosso povo é muito inteligente, e ao mesmo tempo muito cordato e pacífico. Tem no mais alto grau o senso da improvisação. Muitas vezes, vê aproximar-se de longe o perigo, e o encara com olhar manso, com atitudes displicentes, com o ar despreocupado de quem não vê. Dá assim a impressão de que nada fará. Mas quando se sente de fato ameaçado, esse povo sabe se levantar como um só homem e dar o revide à agressão, neste caso à agressão comunista.

Estandartes da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade – TFP,  homenageando o Cristo Redentor, nos anos 70 do século passado

Nós vimos isso em 1964. A fibra brasileira é a mesma e talvez o Brasil ainda seja mais anticomunista do que outrora.

Não o digo por uma patriotada de salão, enunciada na comodidade desta poltrona da qual tenho a honra de vos dirigir a palavra no momento, mas pela experiência das caravanas da TFP brasileira. São jovens que consagram boa parte das suas vidas percorrendo o território nacional em kombis; e quando retornam a São Paulo, me atestam a boa acolhida que tiveram por toda parte do imenso Brasil.

Não nos enganemos com o comunismo

A acolhida se refere à aceitação sôfrega do material de propaganda que a TFP põe à venda. Mas, muito mais do que isso, é o oferecimento do auxílio desinteressado, com aquela gentileza toda brasileira, toda espontânea: um lhes oferece o hotel onde pousar, outro o alimento, outro a gasolina para os carros, outro ainda o pneumático que está gasto ou o serviço da oficina mecânica. Esta é a receptividade que encontram os propagandistas anticomunistas da TFP.

Um resultado verdadeiramente plebiscitário é o enorme escoamento de certas obras da TFP, cujas edições atingem mais de 100 mil exemplares. Tanto esta receptividade para as nossas obras quanto o auxílio espontâneo oferecido por solidariedade e entusiasmo, me permitem aferir o que é a fibra anticomunista do Brasil inteiro.

Realmente, meus caros, o comunismo se engana com o Brasil. Mas eu devo acrescentar que o Brasil se engana com o comunismo. Porque se isso não for verdade, pelo menos muitos brasileiros se enganam com o comunismo. Pensam que em relação a esse inimigo ultra-adestrado, solerte, falso, especializado em aproveitar as menores circunstâncias para desferir seu ataque, valem as velhas contemporizações cheias da simpática bonomia de outrora. Isto, meus patrícios, acabou.

Condições para se alcançar uma vitória

Nós não estamos diante de um adversário qualquer, mas de uma onça ardilosa que tenta nos pegar na noite, no meio das trevas da selva para nos devorar; que nos pega talvez nas ilusões de nossa bonomia, e que nos cria em determinado momento certa situação consumada, que com previsão, com articulação, com energia, nós poderíamos ter evitado.

O comunismo não tomará conta do Brasil — eu creio nisso — devido à inteligência, à força e à fé do povo brasileiro. Mas quanto isto pode custar se esse povo não for previdente! Às nossas qualidades naturais falta a previdência, falta aquele senso de luta continuamente mobilizado e a disposição de intervir em todas as ocasiões difíceis, numa época dura e complicada como a nossa.

É preciso estar de sobreaviso a respeito de tudo para não ser derrotado. A condição da vitória não é apenas a coragem. É também a previsão, a luta oferecida no primeiro momento, a defesa oferecida na primeira circunstância que for necessária. Isto é indispensável para que o Brasil vença o adversário enorme que tem diante de si.

O bom combate associado a um ato de fé

Generaliza-se entre nós um clima como se o perigo comunista não tivesse mais razão de ser, não existisse mais no Brasil. Como se houvesse uma razão para uma verdadeira desmobilização psicológica e intelectual.

Meus caros, nós devemos caminhar para esta perspectiva com mais audácia, com mais previsão, com mais senso de luta do que nunca, e é para esse senso de luta que eu vos conclamo associado a um ato de fé!

Nós não podemos nos deixar tomar de improviso, temos de abandonar a nossa posição daquele laissez-faire tradicional do bom temperamento antigo brasileiro. E a militância anticomunista tem de marcar cada vez mais a nossa presença por toda parte. A fé leva a prever e esperar vitórias nas circunstâncias mesmo mais difíceis e mais penosas com que talvez nos defrontemos no futuro.

Cristo Redentor no horizonte do brasileiro

Não posso me esquecer da noite em que eu estava no Rio de Janeiro, noite em que a neblina levantada do mar cercava a estátua do Cristo Redentor no Corcovado. Não posso me esquecer, tinha os olhos fixados nele.

Durante algum tempo era apenas um foco de luz, no qual eu não discernia nada; em determinado momento, batia o vento, fazia-se um pouco de claridade, eu percebia um dos braços e depois uma das mãos do Cristo Redentor, iluminado com aquela luminosidade especial que a pedra sabão de que é revestido o monumento absorve a luz que sobre ele se projeta.

Pouco depois o vento soprava novamente e era a face do Cristo Redentor que aparecia, em seguida era o seu peito onde pulsa o seu Sagrado Coração, mais adiante eram os seus pés divinos que todos gostaríamos de oscular.

Eu prestava atenção e em nenhum momento — por mais densas que fossem as névoas — a luz deixava de encontrar certo ponto de apoio no monumento. De maneira que apenas sendo uma luz fixa sobre uma silhueta, ou sobre uma mão que protege, uma mão que abençoa, um coração que palpita de amor ou uma face que contempla cheia de solicitude, em nenhum momento a neblina conseguiu apagar a figura do Redentor.

Esta é a fé com que caminhamos para o futuro, quaisquer que sejam as circunstâncias. Poderá ser que provações muito difíceis toldem a nossos olhos as perspectivas da vitória; pode ser que circunstâncias imprevistas coloquem para nós problemas que hoje ainda não são os nossos. Mas, para além das névoas, para além de tudo aquilo que pode tapar a verdade, no horizonte visual do brasileiro há algo que nada tira: é a imagem do Cristo Redentor, a fé em Nosso Senhor Jesus Cristo. Esta fé há de nos salvar!

O Brasil há de vencer, qualquer que seja a situação. E é rumo a esta vitória que todos caminhamos com o passo resoluto e a alma cheia de fé.

ABIM

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