terça-feira, 8 de abril de 2025

Portugueses avaliam a política nacional e apontam caminhos para o futuro. 42% dos portugueses considera o combate à corrupção uma prioridade


  • Limite de anos em cargos públicos, mais transparência, inovação e diversidade nas lideranças políticas são também assinalados como prioridades.
  • 66% considera que os políticos não assumem responsabilidades pelos seus erros, refletindo uma cultura de impunidade política.
  • Apenas 12% considera que os políticos portugueses têm formação e experiência adequadas para governar.
  • Para 69% dos portugueses, os políticos preocupam-se essencialmente com os seus partidos e interesses pessoais.
Lisboa, 08 de abril de 2025 – Num momento em que a área política enfrenta desafios significativos, um novo estudo revela a perceção dos portugueses sobre a governação, inovação e o futuro do país. Realizado pela Producto of the Year Portugal o estudo expõe um retrato claro das preocupações da sociedade e quais os caminhos para uma gestão mais eficiente e transparente.
 
Temos uma sociedade crítica, preocupada com a eficiência governativa e a falta de transparência existente, com demasiados casos pessoais a terem palco e a ofuscarem as verdadeiras prioridades como são a saúde e educação. Neste inquérito, os portugueses reforçam a necessidade de reformas estruturais para um futuro mais estável e inovador do país. Sem inovação, não há mudança”, afirma José Borralho, CEO da empresa Produto do Ano.
 
Os resultados apontam para uma perceção predominantemente negativa em relação à atual gestão política em Portugal: 41% dos inquiridos classificam-na como negativa e 13% como muito negativa, sendo que apenas 4% a considera muito positiva e 20% como positiva.
 
A estabilidade política também é motivo de preocupação para os portugueses. 62% vê a sucessão de eleições como reflexo de uma falta de estratégia e de compromisso governativo. Ainda assim, 32% entende que, embora preocupante, trata-se de um reflexo natural da democracia.
 
Os participantes identificaram diversos problemas na política portuguesa, destacando-se a corrupção (23%) e a falta de transparência (23%), ambos vistos como obstáculos centrais ao bom funcionamento do sistema político.
 
reforço da transparência e o combate à corrupção (42%) são prioridades essenciais para o futuro do país. 67% dos inquiridos apoia a implementação de um limite de anos para cargos públicos, visando evitar a formação de políticos de carreira.
 
instabilidade governativa foi também apontada por 19% dos inquiridos, seguida da desconexão entre políticos e cidadãos com 17%. Outros problemas referidos incluem a falta de diversidade nas lideranças políticas (9%) e a falta de inovação e modernização (8%).
Desafiados a clarificarem o que entendem com o conceito de inovação, este é amplamente associado à transformação e eficiência na resolução de problemas (44%). Já para 29%, inovação representa novas formas de organização e gestão.
 
Neste contexto, a maioria dos participantes, 60%, defende que a gestão política deve seguir modelos mais eficientes, semelhantes aos utilizados no setor empresarial. Outros 36% concorda com a aproximação ao modelo empresarial, mas sublinham a necessidade de adaptações que respeitem as especificidades da governação pública.
 
No entanto, a resistência dos partidos à mudança (46%) é vista como a principal barreira à inovação. Para 22%, o problema reside no facto de a política não encarar a inovação como uma necessidade real. 18% refere a complexidade da gestão pública como obstáculo, enquanto 15% destaca a falta de incentivos para inovar como um dos fatores limitadores.
 
Para 39% dos inquiridos, muitos políticos chegam ao poder sem experiência relevante, e 19% aponta uma desconexão entre os políticos e a realidade do país. Apenas 12% afirma que os políticos portugueses têm, na sua maioria, formação e experiência adequadas para governar.
 
De acordo com os participantes, a maioria dos políticos portugueses está mais preocupada com interesses partidários imediatos do que com o futuro do país. Para 39%, os políticos preocupam-se essencialmente com os seus partidos, enquanto 30% acredita que estão sobretudo focados em interesses pessoais. Por outro lado, 26% reconhece um esforço dos políticos em equilibrar os interesses nacionais com os interesses partidários.
 
Considerando maioritariamente os debates políticos como negativos (57%), caracterizados por demasiados ataques pessoais e pouca resolução prática, a maioria dos participantes defende que os políticos deveriam ser obrigados a apresentar um plano estratégico de longo prazo. Para 53%, essa medida é essencial para garantir uma visão clara para o país. Outros 44% concorda com a obrigatoriedade, desde que haja um compromisso transparente e mensurável.
 
Os inquiridos consideram que os políticos raramente assumem responsabilidades pelos seus erros. Para 40%, há uma tendência para se justificarem ou culparem terceiros, já 28% acredita que isso acontece ocasionalmente, mas apenas sob pressão pública. Um total de 26% afirma que nunca há assunção de responsabilidade, refletindo uma cultura de impunidade política.
 
Para 49% dos participantes, os políticos deveriam ter experiência empresarial antes de assumir cargos públicos, pois isso tornaria a gestão mais eficiente, 31% concorda com a importância dessa experiência, mas defende que não deve ser obrigatória. Já 20% acredita que a política enfrenta desafios distintos e que a experiência empresarial não é um requisito necessário.
 
Talvez por isso, a maioria dos intervenientes defende a inclusão de especialistas de diferentes áreas no governo. Para 64%, equipas multidisciplinares trariam melhores soluções para os desafios do país e 33% concorda com essa integração, desde que seja equilibrada com a presença de políticos experientes.
 
Quanto à preparação de Portugal para enfrentar os desafios futuros, a maioria dos participantes considera que as políticas atuais apenas preparam parcialmente Portugal para os desafios futuros que enfrenta, apontando a falta de investimento estratégico como principal obstáculo (47%). Para 29%, o país está demasiado focado no curto prazo, enquanto 19% acredita que Portugal está a perder competitividade.
 
Nesse sentido, a falta de continuidade entre governos (41%) é vista como um entrave ao desenvolvimento sustentável. 19% considera que a política portuguesa vive de improviso e só 8% acredita que há um verdadeiro planeamento estratégico.
 
Segundo os participantes, as principais prioridades para o futuro de Portugal devem centrar-se na saúde e bem-estar social (25%), na educação e qualificação profissional (23%) e na economia e emprego (23%).
 
O estudo demonstra ainda que 46% considera o papel da União Europeia positivo, destacando o seu contributo para o desenvolvimento e estabilidade do país.
 
Questionados sobre as perspetivas sobre Portugal daqui a 20 anos, a maioria dos participantes acredita que Portugal será um país desenvolvido, mas ainda enfrentará desafios estruturais (41%). Para 34%, não haverá grandes mudanças, mantendo-se alguns dos problemas atuais. Já 17% antecipa um cenário mais pessimista, com o país a perder competitividade face a outras nações e apenas 9% tem uma visão otimista, prevendo um Portugal altamente inovador e competitivo a nível global.
 
Os dados revelam um panorama de insatisfação generalizada e a necessidade de mudanças estruturais para garantir um futuro melhor para Portugal. A transparência, a inovação na gestão pública e a colaboração entre políticos e especialistas são apontadas como soluções essenciais para um progresso sustentável.

*Fernanda Teixeira

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