sexta-feira, 3 de outubro de 2025

COMUNICADO: Gradiva | Guerra e Paz

 

O editor Guilherme Valente, 45 anos após a criação da Gradiva, entendeu ter chegado a hora de se jubilar. Foram 45 anos de dedicação a essa galáxia a que se chama livro, à descoberta de autores, à invenção de títulos. A Gradiva, editora multifacetada, abriu-se a uma ideia original e singular na edição portuguesa, a de uma entusiástica e surpreendentemente bem sucedida divulgação científica, que despertou vocações e fez nascer cientistas. Foi também extraordinariamente bem-sucedida na ficção, editora do Nobel da literatura Kazuo Ishiguro, de Ian McEwan e de outros grandes nomes da ficção contemporânea. 

Tudo isso teve a mão e a mente de Guilherme Valente. Editor também de Eduardo Lourenço, reunindo e recuperando  toda a sua obra, tal como já fizera com a de António José Saraiva, figura indelével da cultura portuguesa, e está a fazer com os livros do tão lúcido e criativo Umberto Eco ou com a obra singular de Luís Filipe Thomaz, magistral autor da história da expansão portuguesa. A Gradiva foi também, até há pouco, a casa de acolhimento de José Rodrigues dos Santos, o autor preferido dos leitores portugueses, de quem Guilherme Valente percebeu os méritos e os efeitos, esteio, em boa verdade, de duas décadas da vida editorial portuguesa, atraindo leitores, criando tráfego nas livrarias, projectando a ficção portuguesa em mais de 20 países. 

Não é este o lugar para se esboçar, sequer, o que seria uma biografia rica de histórias, de batalhas, de muitas glórias. Ciente do património editorial que edificou, do seu valor literário e científico, Guilherme Valente fez uma escolha para o futuro que agora começa: integrar a Gradiva num projecto editorial que garanta a autonomia da sua editora como empresa e seja fiel à identidade editorial que a caracteriza. 

Pelas razões que Guilherme Valente explica, essa escolha recaiu na Guerra e Paz editores e em Manuel S. Fonseca: «Se eu tivesse menos 10 anos veria seguramente  a crise que vivemos – crise  de cultura, de conhecimento, de exigência intelectual, de leitura de obras de qualidade, que  é por isso uma crise da verdade e de liberdade – como um desafio e um estímulo para novos combates. Hoje vejo-a como uma razão reforçada para entregar o bastião do que fizemos na Gradiva a quem reúne condições de talento, entusiasmo e, digamos, vitalidade, para prosseguir o mesmo combate e  os mesmos ideais. Tal como nós, sem cedências ao lixo, editando agora o que é preciso e for viável editar hoje. Passo, pois, a obra e o desafio a um Amigo que é um Editor, um dos raros a quem atribuo esse título e essa dignidade: Manuel S. Fonseca, à  sua culta e dinâmica Guerra e Paz. Fica com o melhor da Gradiva, os livros imperdíveis, vivos e actualíssimos do nosso fundo editorial singular. Contando com o apoio, a competência, de várias das pessoas admiráveis que fizeram comigo o que milagrosamente pudemos fazer. A Gradiva continuará a ser, assim, na sua essência,  sem solução de continuidade, o que foi sempre.» 

Manuel S. Fonseca, o editor da Guerra e Paz, é claro: «O desafio que Guilherme Valente me põe nas mãos parece-me um sonho. Publiquei, em tempos, um belo ficcionista americano, Delmore Schwarz, o escritor favorito de Lou Reed. O título do livro era: Nos Sonhos Começam as Responsabilidades. A minha responsabilidade é, a partir de hoje, hercúlea. Assumo um compromisso: manter a identidade da Gradiva como uma casa editorial de referência. E tenho, para ser fiel ao espírito de Guilherme Valente, de fazer nascer novos projectos editoriais como novíssimos foram, até agora, a Ciência Aberta, os Feynman, os Steiner, os magníficos Fiolhais e Buescu, projectos e autores de que o Guilherme foi o demiurgo.»

Manter viva a Gradiva, preservá-la como um dos agentes mais criativos da paisagem editorial portuguesa é a preocupação maior de Guilherme Valente e é o que, com o seu gesto generoso, ele quer deixar aos seus autores e aos milhões de leitores que a Gradiva gerou, embalou e fez crescer, em colecções que vão do infantil à BD, culminando nas ciências e na matemática.   

A Gradiva e a Guerra e Paz formalizarão, em breve, o acordo que entrega à Guerra e Paz a gestão da Gradiva. Desse acto darão a devida notícia.

Lisboa, 3 de Outubro de 2025

Gradiva Publicações
Guerra e Paz editores

Nenhum comentário:

Postar um comentário