João Fernando Ramos |
O debate tem rodado, aceso, à volta dos fogos deste começo de verão, com a procura de culpados, com comunicações que falharam, com os guardas da GNR que não seriam suficientes, mas agora também com a urgência de ordenar a floresta. O entendimento entre o Governo e o Bloco de Esquerda vai desbloquear parte da legislação que se arrasta no Parlamento, nomeadamente na sensível e fulcral questão do eucalipto.
Ontem, no Jornal 2, Vitor Poças da AIMMP lembrava que o sector da madeira, com mobiliário e derivados, é mais valioso que o das celuloses, incluindo o eucalipto, lembrando a urgência de garantir uma floresta saudável que possa fazer crescer ainda mais uma indústria fulcral para o país.
A imensa mancha negra em Figueiró dos Vinhos, Castanheira e Pedrógão é uma oportunidade para se aplicar já a tão adiada reforma séria da floresta. Mas é preciso mobilizar proprietários, fundos, afastar os grupos de pressão que tentam sempre que tudo fique na mesma e ter uma intervenção inteligente e eficaz no terreno.
O país tem que perceber que esta é a altura de olhar para o interior de outra forma, de aproveitar o imenso potencial que temos ali para explorar, para além do turismo.
O debate terá que nos indicar por que aconteceu tamanha tragédia, mas na base de tudo está o problema que todos conhecemos. Ali estava uma imensa e contínua mancha de eucaliptos, sem ordenamento, sem linhas corta fogo, sem a limpeza junto às estradas e casas, sem o cuidado que a floresta deve ter para ser um local de vida.
As temperaturas que ali se atingiram na combustão destas árvores, o vento que esse inferno acaba por gerar, aliado a uma pequena tempestade de verão, são o caldo que se derramou com a dimensão que conhecemos.
Mas o verão só agora começou e há milhares de locais iguais em tantos pontos do país. Se não agirmos, todos, já, podemos voltar a chorar numa tragédia igual antes que chegue a chuva e o frio, que adiam sempre a reforma da floresta.
Teremos depois novos culpados, faremos romarias solidárias, mas nesses dia, se nada se fizer na floresta, carregaremos ainda mais uma culpa maior por não exigirmos que se faça já o óbvio.
Fonte: RTP
29 Jun, 2017, 16:12 / atualizado em 29 Jun, 2017, 16:12
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