Estudos conduzidos por Joanne Wood, professora de psicologia da Universidade de Waterloo, no Canadá, mostram que o uso das afirmações, também conhecidas como auto-sugestões positivas, não apenas não é eficaz, como pode também ser prejudicial.
Sua pesquisa afirma que, "entre voluntários com alta autoestima, aqueles que repetiram uma frase ou tentaram ativamente acreditar nela se sentiram melhor do que aqueles que não o fizeram, mas até certo ponto. Embora as auto-sugestões positivas possam beneficiar algumas pessoas, elas podem prejudicar aqueles que mais 'precisariam' delas." E quem são essas pessoas? Aqueles com baixa autoestima.
"Quando pessoas com baixa autoestima repetiram a frase, 'eu posso ser amado', ou focaram naquilo que mostrava que essa afirmação era verdadeira, nem seus sentimentos nem seu humor melhoraram — na verdade, houve uma piora significativa", escreve Wood em seu artigo.
"Esses resultados indicam que a autossugestão positiva só funcionou, ainda que minimamente, para aqueles com autoestima alta — quem já se sentia bem consigo mesmo." Em outras palavras, a não ser que você já esteja se sentindo confortável com quem você é, a autossugestão positiva, além de não fazer com que você se sinta melhor, pode te deixar ainda mais para baixo.
Mas por quê? Por que repetir mensagens positivas — um ritual defendido por gurus de autoajuda de todo o mundo — pode não funcionar?
"Nem todas as afirmações positivas são iguais. Quando achamos uma afirmação exagerada, ela não só pode não funcionar, como pode também ter um efeito negativo. Uma afirmação não pode ser otimista demais. Ela não pode fugir da realidade da pessoa que irá usá-la", diz Sherry Benton, diretora de pesquisa da TAO Connect (uma plataforma digital que oferece acesso a tratamentos para depressão, ansiedade e outros transtornos) e professora emérita da Universidade da Flórida. nos EUA.
Ela me diz que cerca de 70% do nosso diálogo interno tende a ser negativo. "Essa negatividade vêm protegendo nossa espécie há milhares de anos. Nunca chegaremos num ponto em que nosso fluxo de pensamentos será totalmente positivo. E quanto mais julgamos nossos próprios pensamentos, pior eles ficam."
Benton diz que, se você disser algo que vai contra suas crenças para você mesmo, seu cérebro irá se recusar a aceitar essa sugestão. Resumindo, você irá entrar em conflito com você mesmo e, em seguida, você irá se sentir mal por estar em conflito e ficará ainda pior do que no início.
Além disso, como diz Gary John Bishop, autor do do best-seller Unfuck Yourself: Get Out of Your Head and Into Your Life, muitas pessoas "usam a afirmação positiva como um curativo, um remendo para suas vidas ". Em seguida, ele completa, "o papel dessas afirmações é te ajudar a superar algo que você não acredita ser capaz de superar. Não conheço muitas pessoas bem-sucedidas que construíram uma vida baseada em afirmações positivas."
Bishop sugere que é preciso agir para mudar nossas vidas. A ação começa com a linguagem, ou, como diz Bishop, "ao sair da sua boca, as palavras se tornam vida". Mas isso não significa que as palavras podem, por si só, mudar a realidade. "Se você não está feliz, você precisa se focar no que te faz crescer e investir nisso."
No entanto, nem Bishop nem meus outros entrevistados afirmaram que as afirmações positivas são completamente inúteis. Ilene Ruhoy, neurologista e fundadora do Centro de Neurologia Curadora, diz que "as afirmações positivas podem ser poderosas e benéficas. Elas podem nos ajudar a alcançar nossos objetivos."
Então qual é a diferença entre uma boa afirmação e uma afirmação neutra ou prejudicial?
Benton diz que "quando as pessoas criam suas próprias afirmações com base em suas experiências e em sua realidade, elas podem ter um impacto positivo, desde que o sistema de recompensa cerebral seja estimulado". Ruhoy concorda, dizendo que afirmações devem ser "críveis, possíveis e realistas".
LEIA DE NOVO: Benton diz que "quando as pessoas criam suas próprias afirmações com base em suas experiências e em sua realidade, elas podem ter um impacto positivo, desde que o sistema de recompensa cerebral seja estimulado". Ruhoy concorda, dizendo que afirmações devem ser "críveis, possíveis e realistas". Isso mesmo!
A ideia de que falar coisas gentis para si mesmo pode fazer com que você se sinta bem é um pouco óbvia. Mas para que isso aconteça, você deve acreditar em si mesmo. É preciso se ver como uma pessoa confiável. E para ser uma pessoa confiável, você deve falar coisas razoáveis.
Não adianta repetir, na esperança de libertar sua fera interior, que você é um tigre. Sobre isso, Gary John Bishop escreve em Unfuck Yourself que "primeiro, você não é um tigre. E segundo, você não é um tigre".
Então nada de afirmações grandiloquentes. E muito menos afirmações que não resultam em nenhuma ação. "O ideal é usar o próximo passo do seu plano como afirmação", diz Ruhoy. "Quando você concluir esse próximo passo, você se sentirá encorajado".
Em outras palavras, sua mente não irá deixar você pular do ponto A para o ponto Z. Se você não tem o corpo de uma modelo hoje, você não terá o corpo de uma modelo amanhã. Mas você pode começar penteando seu cabelo.
Você pode até se visualizar escovando seu cabelo ou autosugerir o ato de escová-lo, já que esse objetivo não é muito ambicioso. Desde que seus objetivos sejam alcançáveis, tudo vale. "Podemos reconstruir nossos circuitos cerebrais, mas para fazer isso, precisamos dar um passo de cada vez".
Se você quer mudar sua vida ou seus padrões de pensamento, você vai ter que ser honesto com você mesmo.
"A maioria das afirmações positivas não leva em conta a realidade em que vivemos. Se você ganha um salário mínimo, o mantra 'o dinheiro flui até mim' é um insulto à sua rotina de trabalho".
“Por que não afirmar nossos esforços diários em vez de tentar mentalizar um futuro fantasioso que pode nunca ser acessível para a maioria das pessoas por causa da sociedade racista, capitalista e patriarcal em que vivemos?”, completa.
Resumindo, se as afirmações positivas funcionam para você, sinta-se livre para usá-las. Só se certifique de que elas estejam próximas o suficiente da realidade — caso contrário, elas podem criar novo padrão de auto-depreciação.
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