quinta-feira, 22 de março de 2018

O Montepio fica no fim

José Félix Morgado disse ontem adeus à presidência executiva da caixa económica Montepio, na qual será substituído por Carlos Tavares. O antigo líder da CMVM acumulará as funções de “chairman” com as de presidente executivo, sendo que ao fim de seis meses ficará apenas no primeiro cargo.
Celso  Filipe
Celso Filipe 21 de março de 2018 às 23:00
Pelo caminho ficou Nuno Mota Pinto, apontado como o primeiro candidato ao lugar de Félix Morgado, o qual acabou por tropeçar numa história de incumprimento de um crédito, motivo por que entrou na lista de devedores do Banco de Portugal.


Não era segredo para ninguém que a associação mutualista Montepio, liderada por Tomás Correia, estava há muito desavinda com a gestão da caixa económica Montepio, comandada por Félix Morgado. Neste quadro, o desfecho da história era previsível, acabando na saída deste último.


Antes disso, as partes foram trocando argumentos através dos jornais, a cobro de um anonimato, manifestamente insuficiente para esconder as origens dos mesmos.


Ontem, na hora da despedida, numa mensagem aos trabalhadores, Félix Morgado deu a cara às críticas. Diz que sai do Montepio por não ter cedido a "interesses" (nas entrelinhas pode ler-se associação mutualista e Tomás Correia). Elogia o Banco de Portugal, sempre "bastante presente na instituição" e omite a associação mutualista. "Saio porque fui fiel aos meus princípios éticos e profissionais, sem ceder a interesses que não sejam os da instituição e dos trabalhadores. Teria sido mais fácil acomodar pedidos ou ceder a promessas", sublinha o ex-presidente executivo da instituição. Mas há mais nesta mensagem-desabafo: "É difícil ser vertical, sério, honrado e garantir um governo societário rigoroso."


Na prática, Félix Morgado faz uma defesa da honra (tem todo o direito a isso), mas a sua mensagem acaba por trair aquilo que classifica como a sua principal enquanto gestor do Montepio, defender os interesses do banco e dos trabalhadores. Paradoxalmente, o ex-presidente executivo faz precisamente o contrário. Esta sua mensagem, que além de se constituir como desabafo, é enfaticamente um ajuste de contas e fragiliza a instituição ao olhar da opinião pública e, sobretudo, dos sócios da mutualista.


Ou seja, Félix Morgado colocou-se em primeiro lugar, acabando por trair o espírito da sua missiva, na medida em que projecta o holofote das suspeitas sobre a liderança da mutualista, enfraquecendo a caixa económica . O Montepio ficou para o fim

Fonte: Jornal de Negócios

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