José Félix Morgado disse ontem adeus à presidência executiva da caixa económica Montepio, na qual será substituído por Carlos Tavares. O antigo líder da CMVM acumulará as funções de “chairman” com as de presidente executivo, sendo que ao fim de seis meses ficará apenas no primeiro cargo.
Celso Filipe | cfilipe@negocios.pt21 de março de 2018 às 23:00 |
Pelo caminho ficou Nuno Mota Pinto, apontado como o primeiro candidato ao lugar de Félix Morgado, o qual acabou por tropeçar numa história de incumprimento de um crédito, motivo por que entrou na lista de devedores do Banco de Portugal.
Não era segredo para ninguém que a associação mutualista Montepio, liderada por Tomás Correia, estava há muito desavinda com a gestão da caixa económica Montepio, comandada por Félix Morgado. Neste quadro, o desfecho da história era previsível, acabando na saída deste último.
Antes disso, as partes foram trocando argumentos através dos jornais, a cobro de um anonimato, manifestamente insuficiente para esconder as origens dos mesmos.
Ontem, na hora da despedida, numa mensagem aos trabalhadores, Félix Morgado deu a cara às críticas. Diz que sai do Montepio por não ter cedido a "interesses" (nas entrelinhas pode ler-se associação mutualista e Tomás Correia). Elogia o Banco de Portugal, sempre "bastante presente na instituição" e omite a associação mutualista. "Saio porque fui fiel aos meus princípios éticos e profissionais, sem ceder a interesses que não sejam os da instituição e dos trabalhadores. Teria sido mais fácil acomodar pedidos ou ceder a promessas", sublinha o ex-presidente executivo da instituição. Mas há mais nesta mensagem-desabafo: "É difícil ser vertical, sério, honrado e garantir um governo societário rigoroso."
Na prática, Félix Morgado faz uma defesa da honra (tem todo o direito a isso), mas a sua mensagem acaba por trair aquilo que classifica como a sua principal enquanto gestor do Montepio, defender os interesses do banco e dos trabalhadores. Paradoxalmente, o ex-presidente executivo faz precisamente o contrário. Esta sua mensagem, que além de se constituir como desabafo, é enfaticamente um ajuste de contas e fragiliza a instituição ao olhar da opinião pública e, sobretudo, dos sócios da mutualista.
Ou seja, Félix Morgado colocou-se em primeiro lugar, acabando por trair o espírito da sua missiva, na medida em que projecta o holofote das suspeitas sobre a liderança da mutualista, enfraquecendo a caixa económica . O Montepio ficou para o fim.
Fonte: Jornal de Negócios
Nenhum comentário:
Postar um comentário