03 MAR 2018 / 02:00 H
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O Primeiro-Ministro é capaz ou não de usar esta generosidade de Rio para fazer a política de geometria variável que sempre ambicionou, ora piscando para a esquerda ora virando para a direita?
Os Pactos de Regime, ou sejam os acordos entre partidos para compromissos à volta das grandes questões políticas, económicas e sociais, são positivos e deveriam ser uma regra de uma verdadeira Democracia. Trata-se de encontrar um amplo consenso para levar em frente uma determinada reforma que, pelo seu impacto na vida da sociedade e pelo tempo que demora a implementar, não pode ser ou não deve ser posta em prática por um Governo de um só partido, por uma simples maioria mesmo que absoluta, mas antes deve ser objeto de uma forte vontade política para que essa mudança tenha sucesso, seja aceite pelo povo e perdure no tempo. As Reformas do Estado, da Justiça, da Educação e da Segurança Social, são alguns exemplos de matérias em que é exigível a convergência entre forças políticas e parceiros sociais para que sejam bem-sucedidas, sem lançar o país em confrontos e fraturas entre classes sociais e gerações. Sou adepto destes Pactos desde que todos cedam nas suas posições e se consiga encontrar o maior denominador comum, sem pôr em causa a matriz ideológica de cada um dos intervenientes, bem como os seus Valores e Princípios.
Os Pactos devem ser negociados e assinados nos inícios de Legislatura e fora das épocas eleitorais, pois a não ser assim, ou ficam pelo caminho ou são prejudiciais a uma das partes. Isto quer dizer que o timing e as condições de normalidade política são extremamente importantes para o sucesso das reformas. Não parece ser o caso das negociações que ora decorrem entre o PSD e o Governo do PS.
Rui Rio ganhou o partido por pouca diferença em relação a Santana Lopes; resolveu fazer no Congresso um acordo com o seu opositor, mas as suas controversas escolhas para a direção do partido levantaram um coro de protestos e de votos brancos e nulos; abriu uma guerra desnecessária com o grupo parlamentar e isso viu-se na votação exígua de Fernando Negrão para a liderança dos deputados, e decidiu cortar com o passismo, originando naturais reações negativas no partido. Neste quadro, esta iniciativa de Rui Rio de encetar negociações com António Costa só pode ser uma fuga para a frente para tentar ganhar fora o que não conseguiu no próprio partido. Isto é, abre uma guerra no PSD e lança-se nos braços do PS. Alguém entende esta estratégia? Talvez, se o PSD quiser ser a nova peça da geringonça para o caso de o Bloco ou do PCP falharem no apoio ao Governo, designadamente no Orçamento do Estado para o próximo ano. O PSD esqueceria assim, facilmente, em que circunstâncias e contra quem essa aliança de esquerda foi formada após as eleições de 2015. Custa a acreditar que Rio corra por estas águas turvas apenas para obter alguns ganhos de causa na negociação do próximo quadro comunitário de apoio ou da descentralização de competências para o Poder Local. É pouco, é muito pouco. E por que não põe em cima da mesa as Reformas do Estado, do Sistema Político, da Segurança Social ou o contencioso das Autonomias que mina as relações entre a Madeira e a República?
Uma análise mais fina desta malha política, e eventualmente mais lógica, conduz à conclusão de que o líder do PSD está tentado a reeditar um novo Bloco Central, como em tempos defendeu, sabendo que não ganhará as eleições do próximo ano e tendo em conta que a geringonça do PS com o Bloco e com o PCP é irrepetível. Assim, a sua sobrevivência política passaria por coligar-se ou fazer um acordo parlamentar com os socialistas e com o seu amigo António Costa para viabilizar um novo Governo.
Admito que estas são leituras da sua estratégia possam estar enviesadas e que Rui Rio sabe o que está a fazer e quer mesmo estes Pactos sobre os dinheiros europeus e a descentralização. Mas a convergência entre os partidos, sobre estas matérias, vinha sendo feita e o acordo não tardava e não oferecia grandes dificuldades. Então porquê esta estratégia arriscada de dar a mão ao Governo que liberta, parcialmente, o PS das esquerdas e o lança para uma vitoria nas eleições? O Primeiro-Ministro é capaz ou não de usar esta generosidade de Rio para fazer a política de geometria variável que sempre ambicionou, ora piscando para a esquerda ora virando para a direita? Porquê esta ideia do líder do PSD de desagradar ao seu eleitorado abrindo assim caminho a uma maior afirmação do CDS ao centro? É assim que se constrói uma Alternativa ao Governo das esquerdas a um ano e meio das eleições? As respostas só podem ser dadas por Rui Rio, mas a sorte grande parece ter saído a António Costa e a Assunção Cristas. No entanto, há duas coisas que temos que reconhecer a Rui Rio: a coragem e o gosto pelo risco. Até ver.
Escolhas
Quem?
O Madeira Interactive Technologies Institute (M-ITI) pelo trabalho que tem realizado no âmbito da inovação e da formação na Região e é reconhecido a nível internacional.
O quê?
Os vinhos Barbeito continuam a ganhar distinções e a prestigiar a Madeira. Pelo segundo ano consecutivo, um dos seus licorosos foi considerado o melhor vinho produzido em Portugal.
Onde?
No Teatro Baltazar Dias, a completar 130 anos, os próximos dias e meses serão repletos de uma programação com variados espetáculos e atividades para diferentes públicos. Recomenda-se.
Quando?
Os corredores das ribeiras do Funchal precisam de ser arborizados. Perderam-se as buganvílias, betonizaram-se os muros de pedra, ao menos plantem umas árvores.
Porquê?
Só a 20 de março, no Porto Santo é que será anunciado o programa de comemorações dos 600 anos da descoberta. Já vamos tarde e já perdemos tanto tempo, por pura teimosia política.
Como?
Em dezembro, o CDS propôs o reforço em 700 mil euros da verba para a promoção da Madeira. O PSD e o Governo chumbaram, mas agora vão fazê-lo face à descida no turismo.. Como diz o povo mais vale tarde do que nunca.
Fonte: DN
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