sábado, 3 de novembro de 2018

Ladainha para a boa morte

Os Sete Sacramentos, a Extrema-unção (detalhe) Rogier van der Weyden, 1464. Museu Real de Belas Artes de Antuérpia, Bélgica.
Senhor Jesus Cristo, Deus de bondade, Pai de misericórdia, ante Vós me apresento com o coração humilhado, contrito e arrependido. Recomendo-vos a minha última hora e o que há de segui-la.
Quando os meus pés imóveis me advertirem que a minha carreira neste mundo está próxima a terminar;
— Ó misericordioso Jesus, tende compaixão de mim.
Quando as minhas mãos trêmulas e entorpecidas não puderem mais apertar a vossa imagem sobre o meu coração; e, a meu pesar, deixarem-na cair sobre o meu leito de dores;
— Ó misericordioso Jesus, tende compaixão de mim.
Quando os meus olhos, embaciados e espantados pelo horror da morte iminente, lançarem sobre Vós olhar incerto e moribundo;
— Ó misericordioso Jesus, tende compaixão de mim.
Quando os meus lábios frios e trêmulos pronunciarem pela última vez o vosso Nome adorável;
— Ó misericordioso Jesus, tende compaixão de mim.
Quando as minhas faces pálidas e lívidas inspirarem aos circunstantes a compaixão e o terror, e os meus cabelos, banhados do suor da morte, arrepiando-se na minha cabeça, anunciarem estar próximo o meu fim;
— Ó misericordioso Jesus, tende compaixão de mim.
Quando os meus ouvidos, próximos a cerrar-se para sempre às falas dos homens, se abrirem para escutar a vossa voz, que então pronunciará a irrevogável sentença, que fixará a minha sorte por toda a eternidade;
— Ó misericordioso Jesus, tende compaixão de mim.
Quando a minha imaginação, agitada de horrendos e temerosos fantasmas, estiver submergida em mortais tristezas, e o meu espírito, perturbado pela lembrança das minhas iniquidades e pelo temor da vossa justiça, lutar contra o anjo das trevas, que há de querer privar-me da consoladora vista das vossas misericórdias e precipitar-me no abismo da desesperação;
— Ó misericordioso Jesus, tende compaixão de mim.
Quando o meu débil coração, oprimido pelas dores da enfermidade, estiver tomado dos horrores da morte, e extenuado pelos combates contra os inimigos da minha salvação;
— Ó misericordioso Jesus, tende compaixão de mim.
Quando eu derramar as minhas últimas lágrimas, sintomas da minha morte, recebei-as em sacrifício expiatório, para que expire como uma vítima de penitência e nesse terrível momento;
— Ó misericordioso Jesus, tende compaixão de mim.
Quando os meus parentes e íntimos amigos, estando em torno de mim, se enternecerem à vista do meu lastimoso estado, e por mim Vos invocarem;
— Ó misericordioso Jesus, tende compaixão de mim.
Quando eu tiver perdido o uso de todos os sentidos, o mundo inteiro tiver desaparecido diante de mim, e eu gemer nas angústias da extrema agonia e nas aflições da morte;
— Ó misericordioso Jesus, tende compaixão de mim.
Quando as últimas ânsias do coração forçarem a minha alma a sair do corpo, aceitai-as como nascidas duma santa impaciência de chegar a Vós; e Vós,
— Ó misericordioso Jesus, tende compaixão de mim.
Quando a minha alma por entre os meus lábios sair para sempre do mundo, e deixar o meu corpo pálido, gelado e sem vida, aceitai a destruição do meu ser como uma homenagem que presto à vossa divina Majestade; e então,
— Ó misericordioso Jesus, tende compaixão de mim.
Finalmente, quando a minha alma comparecer ante Vós, e vir pela primeira vez o resplendor imortal da vossa Majestade, não a expulseis da vossa presença; dignai-vos de receber-me no seio da vossa misericórdia, para que eternamente cante os vossos louvores;
— Ó misericordioso Jesus, tende compaixão de mim.
Oremos. Ó Deus, que, condenando-nos à morte, nos ocultastes a hora e momento dela, fazei que, vivendo eu em justiça e santidade todos os dias da minha vida, possa merecer a graça de sair deste mundo no vosso santo amor. Pelos merecimentos de Nosso Senhor Jesus Cristo, que convosco vive e reina em unidade do Espírito Santo.
Amém.

____________

Oração extraída do livro “As mais belas orações”, de Santo Afonso Maria de Ligório. Coordenadas pelo Pe. Saint-Omer, Redentorista, e vertidas para o vernáculo por D. Joaquim Silvério de Sousa. Edição atualizada e acrescida de novos exercícios e orações. Editora Vozes Ltda., 1961, Petrópolis, RJ.

Fonte: ABIM

Nenhum comentário:

Postar um comentário