Aquela vez em que ninguém deu pela meia noite; e a outra em que pelo menos eu não dei pela meia noite; provavelmente, foi a mesma ocasião marcante que me fez nunca mais conseguir chegar perto de duas bebidas que não agora vou nomear porque há mínimos que convém manter; ainda assim, e apesar da violência dessa noite, não estou certo que tenha sido a mesma em que dei com um amigo a chorar, meio vestido meio despido, dentro de uma banheira que ao menos estava sem água; dei-lhe um abraço e um beijo e disse-lhe que ele era um gajo porreiro, apesar de não ser muito bonito; tenho a certeza, isso sim, que foi nessa data que alguém atirou um maço de tabaco cheio para a lareira, enquanto gritava “isto faz-te mal!”, sem pensar que mau foi ver aquilo a acontecer, sem hipótese de comprar cigarros fosse onde fosse; igualmente mau é deixar cair a única travessa de comida na casa, a única; perceber que não há lenha e que na Serra da Estrela faz frio; não descobrir o saca-rolhas e assistir ao desfile do macho latino que resolve o tinto com as próprias mãos; ficar em casa e não querer estar; alinhar na viagem exagerada e demasiado cara só para não ficar em terra e pensar, cons-tan-te-men-te, que o melhor era nunca ter alinhado; dormir no chão da sala, onde por acaso, ou sem acaso nenhum, estão pelo menos mais umas oito ou dez pessoas, nas mesmas condições, bem menos que satisfatórias, mas assumidas com orgulho; passa um ano e dizemos que não; mais dois ou três e já nem pensamos no assunto, ou melhor, antigamente é que não pensávamos, agora pensamos de mais; gostamos das memórias e olhamo-nos com um ar muito mais civilizado, “eu agora já não tinha paciência para uma cena dessas”; ou se calhar até temos?
A passagem de ano é um nada que pode ser tudo, mas com muito menos carga existencial do que esta frase pode sugerir. Pode ser um motivo para festejar, fugir, beber, comer, dançar, cair, chorar e recordar episódios como os que estão no parágrafo acima em que fizemos todos estes verbos na mesma noite. E a passagem de ano é o que falta neste 2018. A dica aqui da casa vai para sítios e espumantes. Podem usar as duas ou não usar nenhuma, podem passar a amigos, conhecidos ou a qualquer outra pessoa. Podem fazer o que entenderem. Mas pelo caminho, desejem “feliz ano novo” uns aos outros. Em princípio, vale mais isso que tudo o resto.
Até para a semana
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