A Orquestra Comunitária NÓS19 apresenta, em Coimbra, no sábado, o resultado final de um trabalho que envolveu cerca de 200 pessoas da região, desde um grupo de concertinas a crianças que tocam guitarra elétrica, num projeto aberto a todos.
A sala da Casa da Cultura parece pequena para tanta gente, novos e velhos, profissionais e amadores, que vão afinando os seus instrumentos para o primeiro ensaio conjunto da orquestra. Por lá, vai-se ouvindo uma panóplia de sons de guitarras elétricas tocadas por crianças, saxofones e clarinetes de jovens de bandas filarmónicas, uma gaite de foles ou violinos.
Os músicos e coro esperam pelas instruções do maestro Tim Steiner que, logo nesse primeiro ensaio conjunto depois de meses de ‘workshops’, vinca a característica mais importante desta orquestra incomum: a liberdade.
“Toda a gente é bem-vinda. Há pessoas que estão hoje a dar os primeiros passos, outros juntam-se a nós para a semana, alguns só poderão estar connosco no concerto. Não sabemos como vai soar até esse dia”, disse, antes do aquecimento, pedindo a todos para não se preocuparem: “Vamos fazer coisas estranhas e malucas, mas deixem-se ir”.
O projeto culmina num concerto final, de entrada gratuita, no sábado, no Grande Auditório do Convento São Francisco, às 21:30, e que deverá juntar quase 200 pessoas dos 19 municípios da Região de Coimbra, entre membros do coro e músicos.
A Orquestra Comunitária NÓS19, uma iniciativa artística dentro do programa “Coimbra Região de Cultura”, propôs-se a compor e ensaiar, em conjunto com músicos de cada um dos 19 municípios da Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra.
Ao longo de vários meses, a equipa do projeto recebeu candidaturas de pessoas que queriam participar no projeto e indicações dos municípios, que propuseram pessoas ou comunidades musicais, com quem foram feitos ‘workshops’ preparatórios entre outubro e dezembro, explicou à agência Lusa Ricardo Baptista, da Onda Amarela, empresa que gere o projeto.
O resultado foi um grupo diverso, onde se encontra um grupo de concertinas da Pampilhosa da Serra, uma harpista da Mealhada, crianças que aprendem a tocar guitarra elétrica em Vila Nova de Poiares, o grupo Ligados às Máquinas – orquestra de ‘samples’ da Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra -, uma comunidade de Arganil que canta e toca violino no projeto, passando por pessoas com experiência na área do jazz.
“É esta diversidade que nos interessa. Não acreditamos muito em géneros e é a partir daí que se monta um projeto destes”, frisa Ricardo Baptista, salientando que foi a partir dos músicos que apareceram que se foi construindo o espetáculo.
“Nós viemos sem pautas. Todo o material é composto com as pessoas de forma colaborativa”, explica Ricardo Baptista.
O maestro inglês Tim Steiner corrobora: “Desde o início, o que era importante era não tentar prever qual seria a forma do espetáculo”.
Para Tim Steiner, organizar e compor para uma orquestra tão diversa é ir à procura “da alma do som”.
“O que é importante não é tentar que um rapaz de 10 anos tente soar a Jimi Hendrix com a guitarra elétrica, mas tratá-lo pelo som que ele faz e permitir que esse som se integre ao lado do som dos velhos tocadores de concertina. E algo de novo surge a partir daí. Ao abraçar tudo isto, torna-se fácil. Torna-se fácil se se aceitar o som que as pessoas fazem pelo que é e por aquilo que o seu contexto é, em vez de tentar forçar as pessoas a uma caixinha”, vinca Tim Steiner.
Na sala de ensaios, Beatriz Cortesão, de 20 anos, está junto à sua harpa, num ambiente pouco usual para a estudante de Música.
Habituada a estar numa sala com uma professora a trabalhar um determinado repertório, vê-se agora ao lado de músicos amadores e a improvisar.
“Esta oportunidade é realmente muito diferente. A improvisação é uma coisa com que quase nunca lidei na minha vida”, conta à Lusa a jovem que toca harpa há 13 anos e que também arrastou a sua mãe para o projeto, onde vai cantar.
“É possível fazer música sem estar nessa área todos os dias e é engraçado ver isso e ver tanta diversidade”, vinca.
Kin, violinista alemão a viver em Benfeita, concelho de Arganil, confessa estar deslumbrado com o projeto. Gostou tanto que até convidou mais amigos que cantam e tocam.
Para o músico, na orquestra, “há um outro método de fazer as coisas. Nem tudo está escrito. Agora tu tocas, agora não, agora isto. É mais aberto e todos podem participar o que é muito bom. Há concertinas, guitarras elétricas. Isto é louco, muito louco”.
“Nesta orquestra, cada passo é um passo no desconhecido”, resume José Maria Jorge, de 80 anos, membro do Coral Sant’Ana, de Oliveira do Hospital.
No concerto, serão apresentadas cinco obras, todas elas originais, com cerca de dez minutos cada.
Com entrada gratuita, os bilhetes para o espetáculo podem ser levantados até ao máximo de dois por pessoa ou reservar através da bilheteira do Convento São Francisco (239 857 191), entre as 15:00 e as 20:00.
NDC
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