sábado, 13 de junho de 2020

Dia Mundial do Dador de Sangue: Reinar para dividir



Caros colegas dadores de sangue,

Na edição do jornal Expresso datada do dia 6 do corrente, na página 40, Ricardo Costa escreveu um artigo com título em epígrafe:
    -‘‘Divide et impera.” A frase é atribuída a Filipe da Macedónia e recauchutada com estilo próprio por Júlio César ou Napoleão, cientes de que a única forma de reinar sobre vastos territórios passava pela arte da divisão. O século XXI trouxe-nos em força uma variação doméstica desta máxima, a de dividir a nação mantendo um fosso profundo entre partes e tomando as dores de uma delas”.
O título do referido artigo assenta que nem uma luva ao Dia 14 de Junho, data em que se comemora o Dia Mundial do Dador de Sangue, instituído pela Organização Mundial da Saúde (OMS) com o propósito de prestar justa homenagem aos dadores e ex-dadores de sangue.

Em Portugal esta data pouca atenção tem merecido da parte das entidades que deviam dar-lhe a dignidade que lhe é devida. Se nesta área estamos mal, pior acontece em relação aos dadores de sangue pela forma como são tratados no Serviço Nacional de Saúde (SNS), pois estes começaram a ser vistos como um produto lucrativo.

Assistimos a uma constante inversão de certos valores sociais e morais que nos deixa profundamente preocupados. Quando leio em alguns comunicados frases como: “os dadores são dignos do nosso respeito”, “os dadores são merecedores de mais e melhor”, “os dadores são uns heróis”, “não podemos passar sem os dadores”, além de outras elaboradas conforme as circunstâncias, visa apenas para alimentar egos e defender interesses instalados. Reinar para dividir.

Na verdade, fico incomodado, porque na prática, e no dia-a-dia desmente este “paleio”, esfuma-se. O mundo da dádiva de sangue não é aquilo que se apregoa, a prova está na carta em anexo. Em tempos não muito longínquos alguma imprensa avalizou declarações expressas publicamente pelo então Hélder Trindade (ex-presidente do Conselho Directivo do IPST) quando nos apelidou de terroristas de sangue, de sindicalistas, esquecendo-se que todos os dirigentes associativos (salvo alguns donos disto tudo) são voluntários. Sim, neste campo há de tudo para todos os gostos, quem não alinhar passa a ser visto e tratado como um incómodo, tonando-se um alvo a abater.

A Associação de Dadores de Sangue do Concelho de Aveiro, a caminho de completar 14 anos de existência nunca cancelou uma sessão de colheitas de sangue, além de ter desenvolvimento um trabalho sem paralelo em prol da dádiva de sangue neste Concelho.

Tratasse de uma associação independente, que não aceita ser subjugada pelos ditames duma federação qualquer, que não alinha na manutenção de interesses duvidosos, nem se serve dos dadores para promoção pessoal dos seus dirigentes. Nunca traiu colegas doutras associações.

Face ao exposto, para o dia 14 de Junho a ADASCA limitou-se a um singelo programa, que inclui apenas a realização de uma brigada entre as 9 horas e as 13 horas no Salão da Junta de Freguesia de Cacia, e oferecer um porta-chaves aos dadores de sangue alusivo ao evento.

Vamos dignificar o Dia Mundial do Dador de Sangue sem hipocrisias, bajulices, ou fingir que está tudo bem, quando na verdade não está. As vozes angélicas que se vão ouvir, os comunicados, visam ocupar espaços na imprensa. Como é possível num País tão pequeno existir duas estruturas proclamando-se porta-vozes dos dadores, quando estes nem sequer sabem do que se trata? Reinar para dividir porque se a união faz a força, também se pode tornar perigosa.

Se falarem do Estatuto do Dador, nenhuma delas contribuiu para a sua existência, pois os seus verdadeiros mentores, hoje encontram-se desligados do mundo da dádiva de sangue, sentindo-se invadidos por um profundo desgosto. Para prestar uma justa e merecida homenagem aos dadores ou a quem quer que seja, basta respeitá-los.

Dispensamos homenagens de fachada. Pedimos RESPEITO!

Joaquim Carlos
Fundador e Presidente da Direcção da ADASCA

NB: A carta em anexo deu origem a um processo que se encontra em fase de recurso no Tribunal da Relação de Lisboa, sobre ele a imprensa deu de barato.
Este texto não veicula qualquer responsabilidade dos restantes elementos que compõem os órgãos sociais, é meramente opinião pessoal do seu subscritor.

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