Caros
colegas dadores de sangue,
Na
edição do jornal Expresso datada do dia 6 do corrente, na página
40, Ricardo Costa escreveu um artigo com título em epígrafe:
-‘‘Divide
et impera.” A frase é atribuída a Filipe da Macedónia e
recauchutada com estilo próprio por Júlio César ou Napoleão,
cientes de que a única forma de reinar sobre vastos territórios
passava pela arte da divisão. O século XXI trouxe-nos em força
uma variação doméstica desta máxima, a de dividir a nação
mantendo um fosso profundo entre partes e tomando as dores de uma
delas”.
O
título do referido artigo assenta que nem uma luva ao Dia 14 de
Junho, data em que se comemora o Dia Mundial do Dador de Sangue,
instituído pela Organização Mundial da Saúde (OMS) com o
propósito de prestar justa homenagem aos dadores e ex-dadores de
sangue.
Em
Portugal esta data pouca atenção tem merecido da parte das
entidades que deviam dar-lhe a dignidade que lhe é devida. Se nesta
área estamos mal, pior acontece em relação aos dadores de sangue
pela forma como são tratados no Serviço Nacional de Saúde (SNS),
pois estes começaram a ser vistos como um produto lucrativo.
Assistimos
a uma constante inversão de certos valores sociais e morais que nos
deixa profundamente preocupados. Quando leio em alguns comunicados
frases como: “os dadores são dignos do nosso respeito”, “os
dadores são merecedores de mais e melhor”, “os dadores são uns
heróis”, “não podemos passar sem os dadores”, além de outras
elaboradas conforme as circunstâncias, visa apenas para alimentar
egos e defender interesses instalados. Reinar para dividir.
Na
verdade, fico incomodado, porque na prática, e no dia-a-dia desmente
este “paleio”, esfuma-se. O mundo da dádiva de sangue não é
aquilo que se apregoa, a prova está na carta em anexo. Em tempos não
muito longínquos alguma imprensa avalizou declarações expressas
publicamente pelo então Hélder Trindade (ex-presidente do Conselho
Directivo do IPST) quando nos apelidou de terroristas de sangue, de
sindicalistas, esquecendo-se que todos os dirigentes associativos
(salvo alguns donos disto tudo) são voluntários. Sim, neste campo
há de tudo para todos os gostos, quem não alinhar passa a ser visto
e tratado como um incómodo, tonando-se um alvo a abater.
A
Associação de Dadores de Sangue do Concelho de Aveiro, a caminho de
completar 14 anos de existência nunca cancelou uma sessão de
colheitas de sangue, além de ter desenvolvimento um trabalho sem
paralelo em prol da dádiva de sangue neste Concelho.
Tratasse
de uma associação independente, que não aceita ser subjugada pelos
ditames duma federação qualquer, que não alinha na manutenção de
interesses duvidosos, nem se serve dos dadores para promoção
pessoal dos seus dirigentes. Nunca traiu colegas doutras associações.
Face
ao exposto, para o dia 14 de Junho a ADASCA limitou-se a um singelo
programa, que inclui apenas a realização de uma brigada entre as 9
horas e as 13 horas no Salão da Junta de Freguesia de Cacia, e
oferecer um porta-chaves aos dadores de sangue alusivo ao evento.
Vamos
dignificar o Dia Mundial do Dador de Sangue sem hipocrisias,
bajulices,
ou
fingir que está tudo bem, quando na verdade não está. As vozes
angélicas que se vão ouvir, os comunicados, visam ocupar espaços
na imprensa. Como é possível num País tão pequeno existir duas
estruturas proclamando-se porta-vozes dos dadores, quando estes nem
sequer sabem do que se trata? Reinar para dividir porque se a união
faz a força, também se pode tornar perigosa.
Se
falarem do Estatuto do Dador, nenhuma delas contribuiu para a sua
existência, pois os seus verdadeiros mentores, hoje encontram-se
desligados do mundo da dádiva de sangue, sentindo-se invadidos por
um profundo desgosto. Para prestar uma justa e merecida homenagem aos
dadores ou a quem quer que seja, basta respeitá-los.
Dispensamos
homenagens de fachada. Pedimos RESPEITO!
Joaquim
Carlos
Fundador
e Presidente da Direcção da ADASCA
Site:
www.adasca.pt
NB:
A carta em anexo deu origem a um processo que se encontra em fase de
recurso no Tribunal da Relação de Lisboa, sobre ele a imprensa deu
de barato.
Este texto não veicula qualquer responsabilidade dos restantes elementos que compõem os órgãos sociais, é meramente opinião pessoal do seu subscritor.
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