O aumento da esperança de vida e a consequente longevidade das pessoas, com um cenário futuro em que facilmente se chegará aos 120 anos, está a colocar um conjunto de desafios a que se terá que dar resposta, pois “só evitamos o envelhecimento morrendo jovens”. Esta reflexão foi trazida pelo Padre Lino Maia, presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade, na conferência inaugural do Congresso Internacional de Animação Sociocultural, Geriatria, Gerontologia e os Novos Paradigmas do Envelhecimento que está a decorrer em Proença-a-Nova nos dias 25, 26 e 27 de novembro. “O grande desafio que se põe é envelhecer com dignidade e sabemos que o aumento da esperança de vida não tem sido acompanhado pela da qualidade de vida dos mais velhos que estão entre nós. De acordo com dados do INE de 2017 mantém-se o agravamento do envelhecimento demográfico em Portugal que só tenderá a estabilizar daqui a cerca de 40 anos: o número de idosos passará dos atuais dois milhões e cem mil para dois milhões e 800 mil”, referiu.
Apesar de tudo o que tem sido feito a este nível, existem lacunas na preparação para a longevidade, especialmente ao nível do estado de saúde dos idosos (mais vulneráveis ao surgimento de doenças crónicas) e à sua participação na vida social (com uma tendência para diminuir). “Para responder aos desafios da longevidade é necessário adaptar os instrumentos à população, respondendo às suas necessidades de acordo com as suas características e contexto onde a pessoa idosa se encontra inserida”, afirmou Lino Maia. No desenvolvimento de cuidados sociais e de saúde de qualidade – onde se inclui o bem-estar físico, mental, emocional e social – deverão ser privilegiados os cuidados domiciliários que permitam a permanência da pessoa idosa no seu contexto de vida e familiar e só depois cuidados residenciais. Com uma figura como o ‘cuidador informal’ regulamentada, será também necessário pensar no cuidado destes cuidadores, para aliviar a sua carga.
Para João Lobo, presidente da Câmara Municipal de Proença-a-Nova, é fundamental aliar à temática dos cuidados à pessoa idosa a questão da tecnologia e da inteligência artificial, que pode potenciar a que os idosos permaneçam por mais tempo no seu contexto, sem perderem os afetos e a relação presencial. Atualmente, muitas vezes a institucionalização em estruturas residenciais permanentes não tem em conta os diferentes níveis de autonomia dos idosos, misturando-se pessoas com e sem demências, por exemplo. Nesse sentido, o percurso a realizar será sempre o de valorizar o idoso e todo o seu potencial de conhecimento, “dos olhos que já viveram mais do que nós e que conhecem mais e é a idade que lhe dá essa condição. Conhece mais porque já fez muito mais caminho e, portanto, essa condição de ter conhecimento elencado não se pode perder e é exatamente nestas faixas etárias que temos que aproveitar o melhor que existe que é a memória e conhecimento para partilhar”, adiantou o autarca durante a sua intervenção na sessão de abertura. A prestação de cuidados de saúde diferenciados pode ser uma aposta de futuro em territórios apelidados de baixa densidade, pois são “os que estão mais bem preparados para acolher aqueles que tenham condições de viver fisicamente e cognitivamente com qualidade”.
Organizado pela Associação Intervenção, o Município e o CLDS-4G “Enraizar” - cofinanciado pelo POISE, Portugal 2020 e União Europeia, através do Fundo Social Europeu -, o Congresso conta com a presença de mais de 30 oradores: algumas das intervenções estão disponíveis no canal YouTube do Município.
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