segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Traços psicológicos de Santa Teresa Benedita da Cruz• (Edith Stein)

"Edith passava completamente despercebida entre nós, apesar de sua reputação de extremada Inteligência... Nos parecia pouco moderna... Sempre sentada entre as primeiras filas do auditório, apenas se fazia notar por sua pequena silhueta, delgada, insignificante, e como absorvida pela intensidade de sua reflexão. Levava seus escuros cabelos recolhidos sobre a nuca num pesado coque.

Era de uma palidez quase enfermiça, e seus grandes olhos negros se tornavam severos, quase distantes, a fim de subtrair-se às inoportunas curiosidades. Mas quando se a abordava directamente, uma indescritível doçura iluminava seus olhos, um sorriso encantador iluminava seu rosto, cujos traços conservavam um pouco do candor e da timidez da infância. Não se pode dizer que fosse bonita, nem que possuísse esse encanto feminino que seduz desde o primeiro momento aos homens... Mas tinha um não sei quê de incomparável em seu rosto de fronte alta, de traços infantis maravilhosamente expressivos ­ algo assim como uma irradiação de paz ­ que não podia deixar de contemplar-se..." (Hna Aldegundis) (pág. 85/86) (Depoimento de colega do curso de filosofia, citada como uma "companheira um pouco mais jovem e amiga dela e de Husserl").


A mesma pessoa fala agora na qualidade de aluna: "Tinha o dom do ensino e nos formava com uma paciência ilimitada, com uma bondade atenta e silenciosa. Sempre amável, sem sombra de crítica ou ironia, acolhia nossas torpes perguntas com uma calma, com uma abnegação tal, que fazia que sempre estivéssemos ao seu redor.
Incansavelmente nos animava a progredir no austero conhecimento intelectual. A chama que a devorava ganhava nossos corações. Também nós nos embriagávamos da pura alegria de saber e nos deixávamos seduzir por ela estremecendo-nos o pressentimento de uma felicidade única" (Hna Aldegundis, Jaeherschmid, OSB, "Recuerdos") ­ pág. 105 Trecho de uma carta de H. Conrad-Martius, de Novembro de 1952 (dez anos após a morte da Santa): "... Edith era um ser bom, de uma inesgotável abnegação, mas muito introvertida e silenciosa. Estava sempre concentrada e como absorta numa meditação ininterrupta.

Por isto, mesmo que professássemos uma verdadeira amizade, não saberia dizer grande coisa sobre sua ascese interior". (Pág. 127), "O P. Walzer vê em Edith a "uma das maiores mulheres de nosso século. Raramente se tem encontrado uma alma tão dotada de qualidades mais altas e diversas. E, contudo, é a própria simplicidade.

De uma capacidade muito viril, seu comportamento era extremamente feminino. Possuía uma viva sensibilidade, uma delicadeza de sentimentos muito maternal, porém não procurava satisfazer esta ternura nem impô-la. Recebeu graças místicas autênticas, mas sua atitude não tinha nada de exaltada. Era humilde com os simples, com os sábios se punha a sua altura, mas sem sombra de pedantismo; e era tal sua compreensão do próximo, que quase estou tentado a dizer que com os pecadores se sentia pecadora". (pág. 162) Ao surpreender a Santa rezando num retiro, assim se expressou o Pe. Zähringer: "A primeira vez que passei pela frente dela, junto à porta da igreja da abadia de Beuron, sua figura e sua atitude produziram em mim tal impressão que só me ocorreu compará-la com a imagem da "Ecclesia orans". Pareceu-me assistir à oração da Igreja primitiva, representada por seus orantes nos muros das catacumbas. Edith se me pareceu como a encarnação desta oração que a igreja dirige a Deus. Parecia perdida em sua união com Cristo e, sem dúvida, repetia com o Senhor a fervorosa súplica que Ele elevou ao Pai: "Me santifico a mim mesmo por eles, a fim de que eles também sejam santificados na Verdade" (Jo 17, 18)" ­ págs. 161/162. "O primeiro que nos surpreendeu agradavelmente foi sua aparência simples e modesta, formando par com sua fina sensibilidade e sua imensa cordialidade. "Em seus traços se descobria uma profunda seriedade, que ressaltava naquela tarde e que havia de atribuir à dor da despedida do idolatrado Carmelo de Colónia" (depoimento das irmãs do Carmelo de Echt, falando da chegada ali da Santa fugindo dos nazistas0 ­ pág. 251.

"Assim opinam dela suas irmãs do Carmelo holandês: "Desde o primeiro dia quis acostumar-se com todos os exercícios da comunidade. Estava sempre disposta a tudo e desejava tomar parte em todos os afazeres. Nunca lhe pediu em vão uma irmã qualquer favor. Muitas vezes a levava muito longe seu fervor e se entregava a ele apaixonadamente. Mas, apesar deste fervor, não conseguiu nunca dedicar-se aos trabalhos práticos. Mesmo quando usava o escovão, se notava nela quão pouco era prática num mister doméstico tão simples. O mesmo ocorria dom os trabalhos manuais. Nunca passou do estágio das principiantes. Na recreação era formal e alegre ao mesmo tempo. Porém tia com todo o gosto e contava fatinhos de sua agitada vida". ­ pág. 253/254.


Testemunho do Pe. Bromberg, que sobreviveu ao holocausto: "A 2 de Agosto todos os judeus católicos da Holanda são presos ­ num total de 244 pessoas ­ e deportados para o campo de Amersfoort. O condutor do carro de assalto onde se encontrava a irmã Teresa Benedicta, havendo se equivocado de caminho, foi o último a chegar ao campo, quando já era noite. O barracão para o qual estavam destinados estava já repleto de presos. Não se podia descansar porque os policiais alemães passavam revista continuamente. As sete religiosas formavam um grupo, uma pequena comunidade: rezavam juntas, dizendo o Breviário e rezando o rosário... A irmã Teresa Benedicta da Cruz era considerada por elas sua superiora, porque se notava nela uma força sobrenatural. No campo nota-se uma confusão e uma desolação indescritíveis: a irmã Teresa Benedicta segue limpando, lavando e penteando os meninos, porque suas mães se tornaram apáticas; cuida de todos levando consolo. Em voz baixa conta as crueldades padecidas pelos outros presos, calando-se o que ela mesma tinha sofrido. Na noite de 3 para 4 de Agosto os presos são transferidos de Amersfoort para o campo de Wersterbork. Naquela ocasião um dos agentes perguntou à irmã Teresa Benedicta, que já havia sido golpeada com o fuzil, sua religião. Ela contestou com orgulho que era católica. O oficial lhe disse então: "Disso, nada. Sois uma maldita judia". Depois separaram os homens das mulheres, os maridos de suas esposas, as mães dos filhos, proibindo-os comunicar-se" ­págs. 261/262. 

Um funcionário do campo de Westerbork, testemunhou: "No inferno de Westerbork ela vivia e rezava como uma santa... Me disse numa conversa: "O mundo está cheio de contrastes, mas estes no final desaparecerão; só ficará a caridade. Como poderia ser de outra maneira?" Falava com humilde segurança, e suscitava comoção em que a escutava. Uma conversação com ela... era como uma viagem a outro mundo. Naquele momento Westerbork não existia. Em outra ocasião me disse: "Nunca imaginei que os homens pudessem ser assim e... que meus irmãos tivessem que sofrer tanto".

Quando foi dito que tinha que ser levada para outro lugar, perguntei-lhe se podia ajudá-la e (tentar libertá-la)... sorriu para mim e me respondeu que não. Que não havia razão para lhe fazer um favor especial a ela e seu grupo. Que não era justo tirar partido do facto de haver sido baptizada. Se não pudesse participar do destino dos demais, desperdiçaria sua vida. "Não, nunca", respondeu. Assim dirigiu-se até o trem rezando junto com sua irmã Rosa. Posso ser testemunho de seu sorriso, da força invencível que a acompanhou até Auschwitz". ­

pág. 265 (Extraídos do livro "Benedicta de la Cruz ­ EDITH STEIN ­ Signo de Contradicción" ­ de Florencio Garcia Muñoz ­ Editora San Pablo)


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