"Edith
passava completamente despercebida entre nós, apesar de sua reputação de
extremada Inteligência... Nos parecia pouco moderna... Sempre sentada entre as
primeiras filas do auditório, apenas se fazia notar por sua pequena silhueta,
delgada, insignificante, e como absorvida pela intensidade de sua reflexão.
Levava seus escuros cabelos recolhidos sobre a nuca num pesado coque.
Era de uma
palidez quase enfermiça, e seus grandes olhos negros se tornavam severos, quase
distantes, a fim de subtrair-se às inoportunas curiosidades. Mas quando se a abordava directamente, uma
indescritível doçura iluminava seus olhos, um sorriso encantador iluminava seu
rosto, cujos traços conservavam um pouco do candor e da timidez da infância. Não
se pode dizer que fosse bonita, nem que possuísse esse encanto feminino que
seduz desde o primeiro momento aos homens... Mas tinha um não sei quê de
incomparável em seu rosto de fronte alta, de traços infantis maravilhosamente
expressivos algo assim como uma irradiação de paz que não podia deixar de
contemplar-se..." (Hna Aldegundis) (pág. 85/86) (Depoimento de colega do
curso de filosofia, citada como uma "companheira um pouco mais jovem e
amiga dela e de Husserl").
A mesma pessoa fala agora na qualidade de aluna: "Tinha
o dom do ensino e nos formava com uma paciência ilimitada, com uma bondade
atenta e silenciosa. Sempre amável, sem sombra de crítica ou ironia, acolhia
nossas torpes perguntas com uma calma, com uma abnegação tal, que fazia que
sempre estivéssemos ao seu redor.
Incansavelmente nos animava a
progredir no austero conhecimento intelectual. A chama que a devorava ganhava
nossos corações. Também nós nos embriagávamos da pura alegria de saber e nos
deixávamos seduzir por ela estremecendo-nos o pressentimento de uma felicidade
única" (Hna Aldegundis, Jaeherschmid, OSB, "Recuerdos") pág.
105 Trecho de uma carta de H. Conrad-Martius, de Novembro de 1952
(dez anos após a morte da Santa): "... Edith era um ser bom, de uma
inesgotável abnegação, mas muito introvertida e silenciosa. Estava sempre
concentrada e como absorta numa meditação ininterrupta.
Por isto,
mesmo que professássemos uma verdadeira amizade, não saberia dizer grande coisa
sobre sua ascese interior". (Pág. 127), "O P. Walzer vê em Edith a
"uma das maiores mulheres de nosso século. Raramente se tem encontrado uma
alma tão dotada de qualidades mais altas e diversas. E, contudo, é a própria
simplicidade.
De uma capacidade muito viril, seu comportamento era extremamente feminino. Possuía uma viva sensibilidade, uma delicadeza de sentimentos muito maternal, porém não procurava satisfazer esta ternura nem impô-la. Recebeu graças místicas autênticas, mas sua atitude não tinha nada de exaltada. Era humilde com os simples, com os sábios se punha a sua altura, mas sem sombra de pedantismo; e era tal sua compreensão do próximo, que quase estou tentado a dizer que com os pecadores se sentia pecadora". (pág. 162) Ao surpreender a Santa rezando num retiro, assim se expressou o Pe. Zähringer: "A primeira vez que passei pela frente dela, junto à porta da igreja da abadia de Beuron, sua figura e sua atitude produziram em mim tal impressão que só me ocorreu compará-la com a imagem da "Ecclesia orans". Pareceu-me assistir à oração da Igreja primitiva, representada por seus orantes nos muros das catacumbas. Edith se me pareceu como a encarnação desta oração que a igreja dirige a Deus. Parecia perdida em sua união com Cristo e, sem dúvida, repetia com o Senhor a fervorosa súplica que Ele elevou ao Pai: "Me santifico a mim mesmo por eles, a fim de que eles também sejam santificados na Verdade" (Jo 17, 18)" págs. 161/162. "O primeiro que nos surpreendeu agradavelmente foi sua aparência simples e modesta, formando par com sua fina sensibilidade e sua imensa cordialidade. "Em seus traços se descobria uma profunda seriedade, que ressaltava naquela tarde e que havia de atribuir à dor da despedida do idolatrado Carmelo de Colónia" (depoimento das irmãs do Carmelo de Echt, falando da chegada ali da Santa fugindo dos nazistas0 pág. 251.
"Assim opinam dela suas irmãs do Carmelo
holandês: "Desde o primeiro dia quis acostumar-se com todos os exercícios
da comunidade. Estava sempre disposta a tudo e desejava tomar parte em todos os
afazeres. Nunca lhe pediu em vão uma irmã qualquer favor. Muitas vezes a levava
muito longe seu fervor e se entregava a ele apaixonadamente. Mas, apesar deste
fervor, não conseguiu nunca dedicar-se aos trabalhos práticos. Mesmo quando
usava o escovão, se notava nela quão pouco era prática num mister doméstico tão
simples. O mesmo ocorria dom os trabalhos manuais. Nunca passou do estágio das
principiantes. Na recreação era formal e alegre ao mesmo tempo. Porém tia com
todo o gosto e contava fatinhos de sua agitada vida". pág. 253/254.
Testemunho
do Pe. Bromberg, que sobreviveu ao holocausto: "A 2 de Agosto todos os
judeus católicos da Holanda são presos num total de 244 pessoas e
deportados para o campo de Amersfoort. O condutor do carro de assalto onde se
encontrava a irmã Teresa Benedicta, havendo se equivocado de caminho, foi o
último a chegar ao campo, quando já era noite. O barracão para o qual estavam
destinados estava já repleto de presos. Não se podia descansar porque os
policiais alemães passavam revista continuamente. As sete religiosas formavam
um grupo, uma pequena comunidade: rezavam juntas, dizendo o Breviário e rezando
o rosário... A irmã Teresa Benedicta da Cruz era considerada por elas sua
superiora, porque se notava nela uma força sobrenatural. No campo nota-se uma
confusão e uma desolação indescritíveis: a irmã Teresa Benedicta segue
limpando, lavando e penteando os meninos, porque suas mães se tornaram
apáticas; cuida de todos levando consolo. Em voz baixa conta as crueldades
padecidas pelos outros presos, calando-se o que ela mesma tinha sofrido. Na
noite de 3 para 4 de Agosto os presos são transferidos de Amersfoort para o
campo de Wersterbork. Naquela ocasião um dos agentes perguntou à irmã Teresa
Benedicta, que já havia sido golpeada com o fuzil, sua religião. Ela contestou
com orgulho que era católica. O oficial lhe disse então: "Disso, nada.
Sois uma maldita judia". Depois separaram os homens das
mulheres, os maridos de suas esposas, as mães dos filhos, proibindo-os comunicar-se"
págs. 261/262.
Um funcionário do campo de Westerbork, testemunhou: "No
inferno de Westerbork ela vivia e rezava como uma santa... Me disse numa
conversa: "O mundo está cheio de
contrastes, mas estes no final desaparecerão; só ficará a caridade. Como
poderia ser de outra maneira?" Falava com humilde segurança, e suscitava
comoção em que a escutava. Uma conversação com ela... era como uma viagem a
outro mundo. Naquele momento Westerbork não existia. Em outra ocasião me disse:
"Nunca imaginei que os homens pudessem ser assim e... que meus irmãos
tivessem que sofrer tanto".
Quando foi
dito que tinha que ser levada para outro lugar, perguntei-lhe se podia ajudá-la
e (tentar libertá-la)... sorriu para mim e me respondeu que não. Que não havia
razão para lhe fazer um favor especial a ela e seu grupo. Que não era justo
tirar partido do facto de haver sido baptizada. Se não pudesse participar do
destino dos demais, desperdiçaria sua vida. "Não, nunca", respondeu.
Assim dirigiu-se até o trem rezando junto com sua irmã Rosa. Posso ser
testemunho de seu sorriso, da força invencível que a acompanhou até
Auschwitz".
pág. 265 (Extraídos
do livro "Benedicta de la Cruz EDITH STEIN Signo de Contradicción"
de Florencio Garcia Muñoz Editora San Pablo)
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