Nos
tempos actuais, o saber que a enfermagem detém deve ser mobilizado para
proporcionar conhecimentos e soluções de cuidados para todos os cidadãos tendo
em vista a equidade. A potenciação de projectos de promoção da saúde que levam
a menos gastos, ou seja, tornando a Saúde mais eficiente e sustentável, é
também uma oportunidade a não perder.
Os
enfermeiros devem pensar global e agir local, onde a sua motivação é
fundamental para mobilizar projectos com proactividade e empreendedorismo.
Acredito que os enfermeiros não se rendem às dificuldades. É verdade que a
profissão não tem sido devidamente respeitada pelos políticos e gestores deste
país.
No
entanto, a maioria dos cidadãos residentes em Portugal utilizadores dos cuidados
de enfermagem sabem bem qual é o valor destes profissionais, sabem que precisam
de nós para terem saúde. Os enfermeiros não irão permanecer passivos a aguardar
que os outros façam por si o que desejam; têm e devem ser os enfermeiros, e as
suas organizações representativas, onde incluo a Ordem dos Enfermeiros, a dar
visibilidade à sua importância e necessidade.
É
verdade que a maioria dos profissionais não se revêem nesta Ordem. Isto porque
existe uma profunda confusão instalada entre o papel regulador da Ordem e o
papel de defesa de direitos dos trabalhadores das estruturas sindicais. Sou de
opinião que a falta de comunicação interna dos órgãos da Ordem para com os seus
membros é potenciador para este não reconhecimento, embora também alguns
enfermeiros, penso que devido a desmotivação, não procurem a informação
necessária. Por fim, a Ordem nem sempre tem feito as melhores escolhas dos
caminhos a percorrer nos momentos correctos, como foi o exemplo do aumento de
quotas num momento de crise. Estas situações são incompreensíveis para os
enfermeiros! É preciso aproximar a Ordem aos enfermeiros, promover a defesa da
sua dignidade e valor social em momentos, como os actuais, em que são
constantemente ameaçados e, infelizmente, abusados por pessoas e instituições
sem escrúpulos. Lamento ainda que o financiamento das instituições de saúde
apenas tem em consideração os actos médicos.
O
financiamento institucional está desadequado face à realidade actual. Convém
esclarecer que a esmagadora maioria dos cuidados de saúde prestados nas
instituições é realizado por enfermeiros, sendo que praticamente apenas os
cuidados médicos são contabilizados para efeitos de financiamento
institucional! A título de exemplo, as consultas médicas, os diagnósticos
médicos, as urgências atendidas e as altas dadas, são actos médicos que
contribuem para financiar qualquer hospital. Por outro lado, todos os cuidados
de enfermagem prestados aos utentes não são considerados nessa contabilização.
Ora, sabendo que existem outros cuidados de saúde prestados nas instituições
para além dos médicos, é um erro continuar com esta metodologia. Existem
diversos países onde as instituições também são financiadas pelas intervenções
dos enfermeiros, pelo que não há necessidade de “inventar a roda”. Porém,
também reconheço que esta é uma mudança estrutural, diria mesmo paradigmática,
a ser operada.
Germano
Couto
Presidente
da Secção Regional Norte da Ordem dos Enfermeiros
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