A candidata foi uma das principais derrotadas na noite eleitoral deste domingo, situação que os socialistas consideram ser o momento certo para o partido entrar em período de reflexão.
Maria de Belém obteve um resultado eleitoral muito aquém do que era esperado nas eleições Presidenciais, tanto que terá de pagar a campanha do seu próprio bolso por não ter atingido o mínimo para obter os apoios do Estado.
Perante esta situação, são vários os membros do PS que veem nesta derrota esmagadora o momento certo para que o partido faça uma reflexão sobre o que se passou.
De acordo com o jornal Público, a ala segurista atribui esta derrota exclusivamente à candidata, uma vez que recusou o apoio de algumas figuras ligadas a António José Seguro, anterior secretário-geral socialista.
Alguns dos ex-dirigentes afirmam ao jornal que a candidata cometeu vários erros durante a campanha e que se mostrou incapaz de conseguir “votos ao eleitorado de Marcelo Rebelo de Sousa”.
“A candidata não foi capaz de traçar a sua linha divisória e mostrar que podia protagonizar uma segunda volta indo buscar votos ao centro”, acusa um dos dirigentes ao Público.
“Maria de Belém entendeu que era importante passar uma imagem de que a sua candidatura não era de facção e por isso decidiu afastar todas aquelas pessoas que estavam conotadas com António José Seguro”, sublinha um outro.
Outra fonte socialista chega mesmo a afirmar ao jornal que não ter feito um convite a Seguro para participar na campanha “é uma coisa que não se faz”.
Já o ex-deputado Ricardo Gonçalves também vê algumas culpas em António Costa, uma vez que o próprio chefe do Governo e atual secretário-geral do PS não apoiou publicamente um único candidato na corrida a Belém.
“Foi um erro monumental que vamos pagar caro”, afirma, sublinhando que estas eleições foram as primeiras depois do seu Governo entrar em funções.
Resultados são “aviso” para o PS
Também António Beleza, que já tinha feito frente a Costa depois resultados nas Legislativas, acredita que estes últimos resultados são um “aviso” para o partido.
Em declarações ao Observador, o antigo membro da direção do PS considera que o partido ou ganha “juízo” ou vai ter “dificuldades” nas próximas eleições.
“Os resultados destas eleições são um aviso para esta frente de esquerda”, declarou ao jornal online.
“O eleitorado que defende o tal ‘tempo novo’ teve apenas 35% dos votos. Isto prova que o eleitorado do PS oscila e tem votado em candidatos da direita”, considera o socialista.
Na opinião de Beleza, esta derrota só prova que não existe um consenso dentro do partidorelativamente ao acordo com os outros partidos de esquerda.
“O que o líder e primeiro-ministro do PS tem de perceber é que o partido é plural e complexo e que tem pessoas favoráveis a esses acordos, mas que tem uma grande parte do eleitorado social-democrata”, afirmou.
“Catarina Martins, Mariana Mortágua e Marisa Matias são figuras interessantes, mas com muito populismo à mistura”, considera Álvaro Beleza, sublinhando que um homem “arguto” e “pragmático” como Costa deve tirar as suas próprias conclusões desta derrota.
Vera Jardim explica derrota
Em declarações à Renascença, o porta-voz da candidatura de Maria de Belém considera que foi “um resultado que ficou muito aquém do que se pretendia”, algo que pode ser comparado a “um duche de água fria, gelada”.
O histórico socialista considera que um dos principais responsáveis por esta derrota foi a própria direção do partido que se comprometeu a uma atitude neutra perante os dois candidatos.
“Não estou a falar de ministros. Os ministros são militantes do PS que tomam a posição que bem entenderem. Estou a falar de figuras com responsabilidade na direcção do PS que, dias antes, anunciaram um apoio a título pessoal”, criticou Vera Jardim no programa Falar Claro.
O antigo ministro refere-se sobretudo ao presidente Carlos César por ter estado ao lado de Sampaio da Nóvoa nos últimos dias da corrida a Belém.
“Toda a gente está no seu direito de dizer o que bem entender. Mas acho que certas figuras do PS devem coibir-se de o fazer. Um presidente do partido não deve fazê-lo, direi a quem de direito”, acusa.
“Se o secretário-geral diz que o PS não apoia nenhum candidato, acho que, por exemplo, o presidente do partido deve coibir-se de tomar uma posição que diz ser a título pessoal. Nestas coisas não há posições a título pessoal. Ou se apoia um ou apoia outro ou as pessoas não apoiam ninguém”, acrescenta.
Por outro lado, Vera Jardim assume que o mau resultado também foi resultado de alguns erros dentro da campanha.
“Quando há este resultado, há também certamente erros por parte da campanha. Eu assumo a minha parte das responsabilidades, como todos assumimos”.
O ex-ministro deixa ainda um comentário à ala segurista, considerando que a posição tomada é “um pouco ridícula”.
“Uma coisa que começa até a ser um pouco ridícula que é o ‘segurismo’, o ‘segurismo’ sem Seguro. Seguro desapareceu e aí até deu um bom exemplo. Nunca mais ouvi falar dele”, comenta.
ZAP
http://zap.aeiou.pt/ala-segurista-arrasa-maria-de-belem-pela-derrota-nas-presidenciais-98823
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