As autoridades alemãs começaram a investigar a
possibilidade de haver origem “criminosa” no escândalo dos alimentos contaminados
com dioxinas, que obrigaram ao encerramento de 4709 explorações agrícolas.
Galinhas
e porcos foram alimentados com rações contaminadas
(InaFassbender/Reuters)
Na Holanda foram apreendidos 136 mil ovos, sob a suspeita de estarem contaminados, e no Reino Unido soube-se que foram já vendidos bolos e quiches feitos com ovos alemães – importados já sob a forma líquida – que teriam níveis demasiado elevados de dioxinas. Não há, no entanto, perigo imediato para a saúde.
A maioria das explorações encerradas (existem 375 mil
na Alemanha) faz criação de porcos, mas estão ainda a fazer-se testes para
verificar se há contaminação da carne de porco e do leite de vaca – e ficam na
Baixa Saxónia. Foi neste estado alemão que foi distribuída a maior parte das
rações animais que continham na sua composição as 3000 toneladas de ácidos
gordos contaminados com dioxinas, distribuídas na Alemanha durante os meses de
Novembro e Dezembro.
As dioxinas em causa são subprodutos de exploração
industrial, provenientes de uma empresa alemã produtora de biodiesel a partir
de óleo de palma e soja, chamada Petrotec. Esta empresa, segundo a edição em
inglês na Internet da revista alemã Der Spiegel, alega que os ácidos gordos que
colocou no mercado só deviam ser usados para fabricar lubrificantes industriais,
e não rações animais.
Mas a Harles und Jentzsch, a empresa na berlinda, que
está a concentrar as atenções da investigação judicial que está a decorrer na
Alemanha, diz que não estava a par dessas limitações.
“Não utilizámos gorduras não autorizadas”, defendeu-se
o patrão da empresa, Siegfried Sievert, numa entrevista concedida à televisão
Spiegel TV, que deve ser transmitida na íntegra no domingo. Sievert afirma
desconhecer a origem da contaminação com dioxinas e acrescenta que a empresa
está a “trabalhar em estreita colaboração com as autoridades”.
Mas as autoridades, que falam numa presença de
dioxinas 77 vezes superior ao permitido, dizem ser pouco crível que se esteja
em presença de um simples erro de manipulação. “Em tais quantidades, não pode
ser só um erro”, declarou um responsável do governo da Baixa Saxónia, Konrad
Scholz, citado pela AFP.
Empresa não registada?
“As primeiras indicações apontam para um elevado nível
de actividade ilegal”, disse uma porta-voz do Ministério da Agricultura, Ilse
Aigner, citada pelo site da BBC. “Há indicações de que a empresa nem sequer
está registada oficialmente, para não estar sujeita a controlos oficiais.”
Segundo o Governo de Berlim, podem ter sido
contaminadas até 150 mil toneladas de alimentos para animais. Os ovos, a carne
e o leite desses animais podem ter sido usados em muitos outros produtos, e
exportados para outros países, por vezes já processados – como aconteceu com os
bolos e quiches no Reino Unido.
O perigo para a saúde humana não será imediato, porque
as dioxinas estão já muito diluídas. Mas estes químicos, que podem ocorrer
naturalmente ou em resultado de processos industriais, são absorvidos pelas
células gordas e ficam lá armazenados, pois têm uma grande estabilidade.
Podem causar problemas de desenvolvimento e no sistema
reprodutivo e imunitário, interferindo com as hormonas. Podem ainda levar ao
desenvolvimento de cancro.
Por Clara Barata
Fonte: Público 07.01.2011- 19h 50
Comentário: Foi noticia, deixou de ser noticia porquê?
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