Um estudo
publicado recentemente, na cidade de Maputo, sobre a mediatização da saúde no
país explica que a falta de especialização nas redações e a escassez de tempo
podem justificar a confiança dos jornalistas em publicar informações,
previamente, preparadas por entidades oficias ou gabinetes de assessoria e de
relações públicas.
Vários jornais
nacionais foram alvos de um estudo, no ano transacto sobre a publicação de
notícias e reportagens sobre saúde pública, por parte do Programa Para
Fortalecimento da Média (IREX).
Análise aborda a
mediatização da saúde na imprensa moçambicana, representada pelos jornais
diários, O País, Correio da Manhã, Jornal Notícias (JN), Diário de Moçambique,
Ponto Certo, e Mediafax e pelos semanários Savana, Domingo, Zambeze, A Verdade
e Canal de Moçambique em que foram analisados 831 artigos de 13 órgãos de
informação.
De acordo com o
estudo, a imprensa desempenha um papel importante na veiculação de
comportamento saudáveis e de medidas básicas que a população deve adoptar para
impedir a propagação de doenças que são geralmente preveníeis e tratáveis com
particular relevância para a malária, e partilhando normas sociais que
influenciam mudanças de comportamentos.
Por exemplo, o
relatório aponta que ao focalizar as reportagens sobre os efeitos nefastos do
lixo acumulado perto das casas, os jornalistas podem encorajar mais ações nos
bairros para manter o ambiente imediato limpo e livre de águas paradas nas
quais os mosquitos se reproduzem.
“Como a malária
é uma doença que afecta a maior parte do território nacional, tanto o espaço
urbano assim como o rural e é mais frequente em determinados períodos do ano,
as rádios comunitárias tem um papel particularmente importante na elaboração de
matérias, reportagens e entrevistas nesses intervalos de tempo”, lê-se.
A imprensa
também podem informar sobre a disponibilidade dos serviços pré-natais para
mulheres gravidas, distribuição de redes mosquiteiras, e sobre outras medidas
de saúde preventiva.
Análise
quantitativa
O mesmo estudo
explica que durante mesmo período, o Jornal Notícias é o meio de comunicação
que deu mais destaque, em termos numéricos, à saúde. Os outros jornais,
excetuando-se “O País” e o Diário de Moçambique, apresentam um número reduzido
de notícias sobre o mesmo tema.
“O Ponto Certo é
o órgão que faz menor referência aos assuntos de saúde, dada a dimensão do
conteúdo noticioso que apresenta. Porém, importa mencionar que o facto de os
diários exibirem mais notícias sobre a saúde não significa que não existam
semanários que tenham dado o devido destaque ao jornalismo de saúde”.
Aliás, prossegue
a fonte, se olharmos para a percentagem do conteúdo em função do número de
páginas de cada órgão de informação, ao longo do ano, é possível verificar que
o jornal Domingo é o semanário que dedicou maior espaço percentual a temática
de saúde (2.9 porcentos).
“O Canal de
Moçambique dedicou 1.6% do seu espaço total na veiculação sobre a temática. Os
semanários A Verdade, Canal de Moçambique e Zambeze imprimiram 1664 páginas
cada um”, explica.
Por seu turno, o
jornal Domingo publicou 49 com conteúdo de saúde, o Canal de Moçambique 27, o A
Verdade 26, o Savana 16.5 e o Zambeze 15…O Zambeze e o Savana com 0.9% são os
jornais semanários com menor percentagem.
Análise
Qualitativa
O mesmo estudo
explica ainda que a título de exemplo, na peça “Aumentam casos de bilharziose
em Muecate”, da edição de 19 de Fevereiro do Jornal Notícias, não se encontrou
qualquer referência ao pensamento das vítimas.
Conforme aponta
o mesmo estudo, o referido texto somente dá voz ao posicionamento das fontes
oficias. Faz referência aos diretores nacionais e distritais de saúde, mas é
impossível descortinar as formas de contágio ou como a lavagem de roupas e de
utensílios domésticos nas margens do rio contribuem para a propagação de
doenças.
“A cobertura
jornalística nestas circunstâncias peca por não ser precisa, equilibrada e
completa, para que o público esteja informado e preparado para participar na
tomada de decisões sobre cuidados de saúde”.
A mesma
situação, segundo a mesma fonte, verifica-se na peça “Surto de diarreias em
Maputo, Nampula e Pemba”, do dia 25 de Janeiro de 2013 do mesmo jornal, em que
não há pluralidade de fontes.
De acordo com o
estudo, a informação publicada foi prestada pelo diretor distrital dos Serviços
de Saúde Mulher e Acão Social da Cidade de Nampula, Leonel Namuquita. Contudo,
em relação a cidade de Maputo e Cabo Delgado não há qualquer referência as
fontes utilizadas.
Observou-se
ainda que no que diz respeito a pluralidade de fontes, o Semanário Domingo
ignora o princípio do contraditório. Efetivamente, a exceção das fontes
oficias, a notícia não reflete o confronto das partes envolvidas, para que a
perspetiva de todas elas ficasse registada.
“É certo que o
propósito do jornalismo e de informar, mas isso deve ser feito com rigor para
promover uma educação para a saúde junto do público”, aconselhou.
Note-se que essa
exigência informativa de qualidade nem sempre é cumprida, por exemplo, o
exemplo seguinte, extraído do jornal A Verdade de 8 de Fevereiro de 2013,
retrata esta imprecisão “…o preço de carteira de Coartem, um medicamento usado
para o tratamento da malária, custa 120 a 300 meticais, contra 30 a 50 meticais
praticados no mercado negro”.
Segundo o
estudo, não basta mencionar que o preço de medicamentos disparou é igualmente,
necessário fazer referência a variação de preços e explicar o que a torna tão
grande, é também necessário abordar os perigos da aquisição de medicamentos nos
meios informais.
Constatações
O relatório
indica que com o estudo “pretendíamos estudar a mediatização da saúde na
imprensa moçambicana”.
O mesmo estudo
ajunta ainda que se quisermos caracterizar o perfil das fontes as quais os
jornalistas recorreram, poder-se-á dizer que esta é masculina, oficial e com
fala desenraizada de um lugar geográfico especifico-portanto, de nível
nacional.
É o caso do
ministro da Saúde, Alexandre Manguele, que é uma fonte recorrente nas notícias
analisadas, no contexto da greve dos médicos.
Observou-se
também que predominam as fontes oficias, devido a utilização de comunicados e
notas de imprensa emitidos pela Direção Nacional de Saúde sobre a crise dos
medicamentos.
Por diante,
explica ainda a fonte que temos vindo a citar que pelo facto de os jornais
públicos analisados construírem as notícias sobre a greve dos médicos e a crise
dos medicamentos com base em comunicados de imprensa e fontes oficias, faz com
que haja uma replicação do conteúdo dos textos noticiosos de um meio de
comunicação para outro.
“A falta de
especialização nas redações e a escassez de tempo podem justificar a confiança
dos jornalistas em informação pronta a publicar, previamente preparada por
entidades oficias ou gabinetes de assessoria e relações públicas”.
Durante a greve
dos médicos, o estudo frisa que ocupou a agenda dos órgãos de informação, o
público foi recebendo informação transmitida por vários órgãos, com uns
privados, pregando o caos no sector da saúde, e outros, os públicos,
desdramatizando a situação vivida no sector.
“Foi através dos
órgãos públicos que as mensagens das fontes oficias foram difundidas, alegando
terem a situação controlada”.
Em termos de
discurso, de acordo com a fonte, os jornais analisados transmitem duas
mensagens distintas, as fontes oficias mantem um registo tranquilizador,
evitando o alarme social, e as fontes especializadas dividem-se entre as
explicações médicas e científicas e as críticas reiteradas ao governo, por ter
ignorado a possibilidade da greve.
“Desta análise
fica a ideia de que o discurso mediático representa as mulheres de forma muito
reduzida, ou seja, o género feminino continua a ter pouca visibilidade”, lê-se
Recomendações
O estudo
recomenda que mais do que publicar o conteúdo noticioso em forma de texto é
necessário atribuir a fotografia a sua importância na definição do estilo
informativo e gráfico das publicações e não assumi-la como género menor ou um
mero suporte ilustrativo.
Recomenda-se
ainda que a media deve oferecer ao público um conteúdo de qualidade com análise
critica e aprofundada das questões abordadas.
Paralelamente,
deve-se pesquisar e dar informações úteis a prevenção de doenças, bem como,
divulgar e fiscalizar as políticas públicas.
Para o mesmo
estudo, deve-se igualmente, divulgar e encorajar comportamentos e boas práticas
de higiene.
Por fim, o mesmo
estudo recomenda que deve-se evitar atribuir uma declaração ou comentário a
fontes anonimas.
“O sigilo deve
ser sempre justificado, de modo a não ser pretexto fácil de
desresponsabilização do autor ou da fonte da informação”.
Por outro lado,
o mesmo estudo destaca que a proteção das fontes de informação determina uma
responsabilidade acrescida do jornalista naquilo que escreve e nela se joga boa
parte da credibilidade.
Dávio David
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