Só no ano passado, os quatro maiores bancos cobraram mais 90 milhões de euros em comissões. Deco diz que “não há nada que justifique” os aumentos.
Os custos das contas ordenado nos cinco maiores bancos portugueses aumentaram 47% entre 2015 e 2016. E as anuidades dos cartões de débito também estão mais caras. No final do ano passado, custavam mais 28% – o aumento médio aplicado pelos 17 maiores bancos a operar em Portugal. E não são apenas os aumentos que saltam à vista. De acordo com a Deco, há cada vez menos isenções e serviços que até agora eram gratuitos, como as operações via homebanking, já implicam custos. E mesmo que o dinheiro esteja parado na conta, sem nenhum produto ou serviço associado, os bancos estão a cobrar comissões de manutenção.
Só no ano passado, os quatro maiores bancos – CGD, BCP, BPI e Santander Totta – arrecadaram 1371 milhões de euros em comissões líquidas, mais 90 milhões do que no ano anterior. A evolução dos preços é um dos argumentos da banca para justificar a subida. Mas o aumento médio das anuidades dos cartões de débito ultrapassou em 56 vezes a inflação, sublinha Nuno Rico, economista da associação de defesa do consumidor. “Não há nada que justifique esta subida”.
Nuno Rico defende que há “dois momentos distintos” neste processo. Em primeiro lugar, o incentivo à utilização do cartão de débito, que permitiu aos bancos “poupanças de muitos milhões de euros, quer em termos de pessoal, quer em termos de estrutura física”, e que acabou por terminar com a cobrança de anuidades, “que já superam, em média, os 15€ euros”. Agora, os bancos começam a taxar operações via homebanking, como as transferências. “Uma vez que somos nós que fazemos as operações e assumimos o risco, o homebanking permitia-nos aceder à gratuitidade. Hoje já nem isso nos é garantido”.
O economista diz que os bancos “estão à procura de compensar as receitas que deixaram de ganhar pela sua habitual atividade de intermediação financeira”. Com as taxas de juro historicamente baixos, a banca “virou-se para as comissões como a nova fonte de receita.”
A “lógica está completamente invertida”. Se o início do negócio da banca era “receber depósitos, pagar por esses depósitos e depois vender esse montante, ganhando na intermediação financeira”, agora a situação é outra. “Os bancos já não nos pagam, nem sequer em juros, e obriga-nos a pagar para lá colocarmos o nosso dinheiro”.
A adequação do modelo de negócio para garantir a “qualidade do serviço prestado” e a eficiência dos “meios de pagamento colocados à disposição dos clientes” explicam os aumentos, defende o BCP, o único dos cinco maiores bancos – CGD, Millennium BCP, Santander Totta, BPI e Novo Banco – que respondeu ao Dinheiro Vivo sobre os ajustes nos preçários.
O banco liderado por Nuno Amado explicou ainda que a regulamentação europeia aprovada em 2015, que levou a mudanças significativas no modelo de negócio dos cartões, causou uma “diminuição significativa dos proveitos”. Esta quebra teve de ser compensada com “o incremento do valor das anuidades”, que o BCP procurou aplicar “progressivamente”, para evitar “impactos significativos e repentinos para os consumidores”.
O BCP diz que não estão previstos novos ajustamentos nas comissões de manutenção das contas à ordem. O mesmo para as anuidades dos cartões, embora com a ressalva de que o “acompanhamento permanente da evolução do negócio” possa originar novas alterações.
“O cerco tem vindo a apertar e há cada vez menos possibilidades para fugir a estes custos”, diz Nuno Rico. Em alguns bancos, perderam-se as vantagens da domiciliação do ordenado, até agora uma das principais recomendações da Deco para evitar custos. Agora, o consumidor precisa de adotar uma atitude proativa e procurar “as soluções mais baratas”.
Fonte: Dinheiro Vivo
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