'O Companheiro' é uma associação responsável pelo apoio a ex-reclusos, que está ao lado de quem mais precisa, quando mais precisa e com o apoio de quem se voluntaria para ajudar os outros.
O Companheiro. O nome representa bem a finalidade da associação que tem como principais objetivos a reinserção social de ex-reclusos e a promoção de competências, para que estas pessoas tenham mais facilidade em regressar à sociedade, depois de vários anos privados de liberdade.
O passado d' O Companheiro
No início de 2017, fez 30 anos que O Companheiro foi criado por visitadores e pelo Padre Dâmaso, também capelão dos estabelecimentos prisionais, e uma pessoa informada sobre a falta de apoio dado aos reclusos quando deixavam as cadeias. Agora, décadas depois, a associação continua viva e a dar vida a quem mais precisa de apoio.
O presente da associação que apoia ex-reclusos
José Bento é o diretor-geral d' O Companheiro há 10 anos, mas começou na associação há cerca de 20 anos, num estágio. Em conversa com o Notícias ao Minuto, o responsável esclareceu que é preciso reinserir estas pessoas “do ponto de vista pessoal, social, laboral e educacional”, tendo em conta que, no fundo, se está a “devolver à sociedade pessoas que estiveram privadas de liberdade”.
Por outro lado, é necessário “também trabalhar aquilo que é o estigma e o rótulo que a sociedade tem para com ‘bandidos’”, frisando que os reclusos já cumpriram pena e que não se trata de julgar, mas sim de dar uma nova oportunidade.
Empresas e voluntários são imperiais para o projeto
O Companheiro conta diariamente com voluntários individuais e com empresas que se disponibilizam para oferecer contratos de trabalho aos ex-reclusos, algo fundamental para o funcionamento da associação e para os resultados de sucesso que cobrem a história desta instituição.
Nesta senda, o diretor explica que é sempre necessária ajuda nas mais diversas áreas e que O Companheiro está de portas abertas para os que desejam ser voluntários. “Precisamos de pessoas, porque são essenciais não só pelo trabalho que se faz aqui, mas também para a mensagem que passa lá para fora. Os voluntários fazem tudo dentro das suas competências. Precisamos ainda de empresas que não tenham medo de fazer protocolos para integrar pessoas”, realça.
A capacidade de ajudar os que mais precisam
“Não estamos aqui para defender os coitadinhos que não têm mais ninguém que os defenda. Punimos quando temos de punir, mas temos é de ensinar competências no sentido da promoção daquilo que é o ‘empoderamento’, que é ir buscar ao outro o que ele tem de melhor para nos dar. É isso que procuramos, à nossa escala, dentro das nossas competências e formação”, sublinha, mostrando que, ano após ano, tem havido uma adaptação à realidade que vivemos.
Neste momento, a associação tem capacidade para 22 homens na residência (estando agora sobrelotada, com 25 pessoas). Conta com uma carpintaria, uma horta, um banco de roupa, um refeitório social e um banco alimentar, tudo preparado para ajudar as pessoas que vivem n'O Companheiro.
“Não conseguimos quantificar aquilo que é o trabalho que O Companheiro faz com estas pessoas. Se não houvesse esta associação estas pessoas estariam na rua e nós sabemos o que é que isso significaria. Além de todo o ruído social que causaria à cidade, também tinha o outro lado que era o lado do crime. Aqui eles estão a ganhar competências para serem pessoas mais ajustadas e adequadas àquilo que são as normas”, explicou o responsável.
Com os olhos postos no futuro
Sobre o futuro, José Bento “gostava que a área da pobreza e da exclusão social fosse discutida a sério”. “Perdoem-me os autores envolvidos nisto, mas muitas vezes sinto que há uma desresponsabilização total em prol daquilo que é o trabalho para com estas pessoas. Gostava que houvesse uma positividade em torno desta questão, que se discutisse seriamente esta questão, que não julgássemos a toda a hora as pessoas e gostava que O Companheiro fosse uma instituição de referência, com pessoas que procuram diariamente dar o seu melhor”, atira.
"As pessoas quando saem da cadeia, se não forem ajudadas, voltam outra vez à vida do crime"
Francisco Duarte, mais conhecido por Xico Algés, de 68 anos, é apoiado há vários anos pel'O Companheiro e garante que sem a existência deste tipo de apoio as pessoas voltam à prisão pouco tempo depois de saírem.
Foi preso a primeira vez aos 21 anos por crimes relacionados com drogas e furtos. Esteve 18 anos na cadeia, saiu e, pouco tempo depois, voltou para trás das grades. Esteve lá mais 16 anos, no cumprimento de uma pena de 18.
“As pessoas quando saem da cadeia, se não forem ajudadas, voltam outra vez à vida do crime. Eu via as pessoas a saírem da prisão sem nada, com um saco na mão, à boleia. Isso é a morte das pessoas. Quando chegam a algum lado começam a roubar, a vender droga, etc. Sei como funciona, eu voltei”, conta em declarações do Notícias ao Minuto.
Referindo que as pessoas que saem da cadeia não têm “eira nem beira” e que a maioria das famílias não tem qualquer interesse nos ex-reclusos, Francisco Duarte garante que O Companheiro é fundamental para a sua vida.
A vida continua, mas não sem o apoio d' O Companheiro
Já Francisco Teixeira Resende, de 62 anos, foi condenado a uma pena de 11 anos por um homicídio que garante não ter cometido. Essa é a sua maior revolta. Mas quando foi libertado, após cumprir 7,5 anos, o ex-recluso foi apoiado pel'O Companheiro' e ainda hoje, seis anos depois, continua a ir buscar comida à associação.
“Venho aqui falar, distrair-me. Sei que é um sítio para onde posso ir que não tem um ambiente mau”, explica, frisando que a instituição é fundamental para o seu dia a dia, pois não consegue sobreviver apenas com uma reforma de 250 euros, da qual tem de pagar renda e despesas da casa.
“Em 2010, quando cheguei, ajudava na cozinha, fazia doces, mas agora não posso, tenho problemas de saúde”, relata, mostrando que continua a precisar de apoio mas que já não consegue trabalhar como em tempos. Porém, O Companheiro nunca lhe virou as costas.
Fonte: Noticiasaominuto
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