Um grupo de pesquisadores da Agência Espacial Italiana anunciou nesta quarta-feira (25) a descoberta de um reservatório constante de água líquida em Marte. Trata-se de um lago subterrâneo, detectado a 1,5 quilôMetro abaixo da superfície congelada de uma das calotas polares do planeta. A descoberta aumenta a probabilidade de encontrar formas de vida primitivas no ecossistema marciano.
"Foram anos de debate e de investigações; ficamos anos discutindo se isso era mesmo possível”, afirmou o principal autor da descoberta, o astrônomo Roberto Orosei, em entrevista à BBD. “Mas agora já podemos dizer: descobrimos água em Marte". Segundo Orosei, o lago subglacial possui aproximadamente 20 quilômetros de diâMetro – dimensões relativamente reduzidas, quando comparadas a reservatórios semelhantes encontrados na Terra.
Os resultados obtidos pela equipe liderada pelo astrônomo basearam-se em análises de dados obtidos via radar pela missão Mars Express – sonda espacial lançada em 2003 em parceria com a Agência Espacial Europeia. "Até o momento, é o único lago descoberto em Marte até agora", afirma Orosei à BBC.
Orosei afirma que ainda não é possível dimensionar a profundidade da reserva encontrada, já que a água líquida enfraquece o sinal emitido pelo radar. Entretanto, ele diz que o lago deve ter pelo menos um Metro de profundidade – do contrário, não poderia ter sido detectado pelos instrumentos. De qualquer forma, isso leva à conclusão de que existam no local “várias centenas de milhões de metros cúbicos” de água.
Condição necessária à vida
O fato de existir água em estado líquido em Marte já é considerado animador, dada a sua necessidade vital para o surgimento e a manutenção de formas de vida - embora outras substâncias também sejam necessárias. “Sem água, nenhuma forma de vida conhecida poderia existir”, disse a pesquisadora Anja Diez, do Insituto Polar Norueguês. Diez explica que acidentes geográficos, tais como vales, forneciam indícios de que deveria ter existido água líquida no Planeta Vermelho em algum momento, mas que, até hoje, apenas gotículas e vapor haviam sido detectados.
E os pesquisadores acreditam que possam existir outros reservatórios subterrâneos. “Essa é apenas a primeira descoberta de água líquida em Marte”, disse Orosei à BBC. “Mas sob as calotas deve haver muito mais.”
A existência de água em estado líquido é condição necessária para a formação e a manutenção de formas de vida. |
Não que o ambiente seja propriamente acolhedor à maior parte das formas de vida. A água altamente salinizada do lago apresentou temperaturas abaixo do ponto de congelamento da água pura; isso por conta das altas concentrações de cálcio, magnésio e sódio, além da alta pressão exercida pela camada de gelo. “(...) Sabemos que em condições semelhantes, em lagos da Antártida, há alguns organismos pluricelulares que conseguem sobreviver”, lembrou o pesquisador.
Raio-X de Marte
Os dados analisados pelos pesquisadores italianos foram coletados por um instrumento chamado de Mars Advanced Radar for Subsurface and Ionosphere Sounding (Radar Avançado de Marte para Sons de Subsuperfície e Ionosfera). Trata-se, basicamente, de um equipamento capaz de promover uma espécie de exame de raio-X do planeta. Ao medir a forma como as ondas de rádio se propagam, o Marsis pode revelar a composição até mesmo de materiais localizados abaixo da superfície marciana.
Os estudos publicados pela equipe de Orosei se basearam em 29 conjuntos de amostragens obtidos entre maio de 2012 e dezembro de 2015, contemplando assim todas as estações de Marte – já que o ano marciano dura aproximadamente o dobro do terrestre. Durante o período ocorrem oscilações de temperatura que vão de 30 graus celsius positivos a até 140 graus celsius negativos.
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