Faz questão de referir a importância que a internet assume na propagação da música, atualmente. Facto que é comprovado através do seu novo single “Fala a Sério” que esteve, durante vários dias, no top 3 dos vídeos mais vistos no youtube.
Kappa Jotta –como é conhecido no meio-, começou a sua caminhada no hip hop, aos 14 anos de idade, com letras que surgiram em forma de desabafo e de escape à realidade que vivia. Desde então, nunca mais parou. O rapper já atuou em grandes palcos, como o MEO Marés Vivas, e não dispensa a proximidade com o seu público a quem chama de “família”.
No passado dia 10 de Agosto, levou o hip hop ao palco do Douro Rock, onde provou que, de facto, a proximidade com aqueles que o seguem é o mais importante nos seus concertos. Horas antes da sua atuação, o artista deu uma entrevista ao Jornal Mira Online onde o tema da internet e a interação entre seguidores e artistas esteve sempre presente.
Fotografia gentilmente cedida por Francisco Reis
Entusiasmado para o concerto de logo à noite?
Sim, claro. É sempre bom vir ao Peso da Régua. É muito bonito.
Já não é a primeira vez que vens cá...
Sim, já estive cá nas listas das escolas. E gosto sempre muito de vir cá.
É bom sinal quando voltas mais do que uma vez à mesma cidade?
Sim, acho que sim. Acho que significa que o pessoal gostou e é um bom feedback da própria cidade.
Na tua opinião, porque é que isso acontece? O que é que faz a tua música chegar tão facilmente às pessoas?
Eu costumo dizer que é a internet (risos). Em termos de show, talvez o facto de ser um show com muita energia e bastante intimista ao mesmo tempo. Mesmo em palcos grandes, tentamos sempre ter bastante intimidade com o nosso público, que acaba por ser a nossa família.
Tu és um dos nomes mais influentes do hip hop/rap português e já atuaste em grandes palcos. Como é que se mantém todo esse sucesso nos dias de hoje?
Com trabalho. É ir trabalhando, ir fazendo e acho que é basicamente isso: trabalho. Quanto mais trabalhas e ambicionas as coisas, mais fácil é lá chegares. Se não acreditares nas coisas e não tiveres pessoas contigo que acreditem e te ajudem a andar para a frente, é mais complicado. Se tu fizeres o esforço, os outros acabam por fazer também um esforço por ti. E assim é mais fácil manter qualquer coisa e até mesmo melhorar.
E o público nota esse trabalho árduo e contínuo?
As pessoas que me seguem – a quem eu gosto de chamar família- sabem. Mas eu acho que, o público em geral, não tem noção do que é sequer construir uma música. Não em termos de Kappa Jotta, mas em termos gerais. As pessoas não têm noção do que é o processo criativo de uma música, do que é o processo de tratamento da mesma música, o tempo que demora a ser feita... Essas coisas, se calhar, não chegam ao grande público.
E esse processo de criação também exige inspiração. Se, num dia, não estiverem inspirados demora muito mais tempo...
Sim, claro que sim. Eu não tenho prazos para fazer uma música, por exemplo. Faço a minha música ao meu ritmo. E o meu ritmo é ouvir um instrumental e esse instrumental inspirar-me em alguma coisa. Levar-me para algum sítio.
As pessoas já começam a dar valor a este género musical?
Acho que sim. Se as pessoas não dessem valor ao hip-hop, eu acho que nós não conseguiríamos estar com hip-hop no Douro Rock. (risos)
Nessa aceitação por parte das pessoas, o que é que mudou desde que tu começaste a fazer música até agora?
Mudou muita coisa. A internet veio ajudar muito não só a expandir a música como a mudar a mentalidade de algumas pessoas. Se calhar, antes, a minha mãe não achava tanta piada à internet e, hoje em dia, está sempre nas redes sociais. Portanto, eu acho que a internet vem ajudar muito em tudo. Também mudou muito o facto de termos muito mais pessoas a ouvir este género musical. Antes, se calhar, era menos bem visto pelas pessoas mais velhas que não sabiam bem o que é que isto era. Acabava por ser quase uma reciclagem da música antiga que eles ouviam para uma música completamente diferente a que eles precisaram de se habituar.
Há pouco tempo, lançaste o teu novo single “Fala a Sério” que esteve no top 3 dos mais ouvidos no youtube. Qual é o segredo?
Nós nunca conseguiríamos chegar a este número de pessoas e ter esta interação que temos nos vídeos se não fosse a internet. Ia ser muito mais complicado eu ter só um cd e fazer com que conseguissem ouvir a minha música em Peso da Régua, por exemplo. A internet faz com que eu esteja à distância de um click. A distância é a mesma em qualquer parte do mundo. Isto para te dizer que não existe um segredo ou uma fórmula para tu conseguires atingir alguma coisa. É mesmo fazeres o que tu gostas com amor e com trabalho. As coisas vêm por acréscimo quando tu batalhas por elas. Tu é que tens de ir à procura.
E acaba por ser importante também te adaptares à mudança e à evolução...
Exatamente. Há muitos bons artistas que, se calhar, não têm uma página de facebook ou um canal de youtube. Como é que as pessoas os vão ouvir? Aí está a importância de nos adaptarmos à internet.
O que é que leva um miúdo de 14 anos a querer seguir este caminho?
Quando comecei a fazê-lo, fi-lo porque estava numa fase da minha vida mais complicada em que precisava de desabafar com alguém. E, nessa fase, eu sempre ouvi rap e foi por ali que comecei a desabafar. Eu fui viver para casa do meu pai –com quem não tinha ligação-, mudei de escola, mudei de amigos e tinha de fazer alguma coisa. O rap foi o meu escape. Acabou por ser o pai que eu tive mas não tive. É muito mais fácil tu parares, pensares e escreveres alguma coisa. Renovas o pensamento.
Para terminar, resta-me perguntar-te o que é que podemos esperar do concerto logo à noite?
Podem esperar para ver (risos).
Fotografia gentilmente cedida por Francisco Reis

Por: Cátia Barbosa