Ursula von der Leyen, escolhida nesta terça-feira, 2 de julho, para assumir a presidência da Comissão Europeia, chega a Bruxelas com um controverso balanço no ministério da Defesa, mas com uma imagem de europeia consolidada.
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Apoiada pelo presidente francês Emmanuel Macron, com quem demonstrou entender-se bem no salão internacional aeronáutico de Bourget, em junho, esta francófila é apreciada pelo governo francês, especialmente pela boa cooperação em assuntos franco-alemães.
Chefe das forças armadas alemãs há seis anos, esta mulher enérgica de 60 anos foi por um alguns tempo considerada a sucessora da chanceler Angela Merkel, que a nomeou ministra em cada um dos seus quatro governos (2005-2019).
No entanto, uma série de escândalos atingiram o Exército e o seu ministério por causa de material obsoleto, baixos investimentos e o aumento da extrema-direita na instituição. O veredito dos alemães é duro: segundo uma sondagem recente do jornal Bild, Ursula é considerada como uma dos dois ministros menos competentes do governo.
Apesar da imagem afetada, Ursula von der Leyen chegará em Bruxelas, a cidade onde nasceu e cresceu até o começo da adolescência, com um trunfo importante: tem a confiança de França e Alemanha, num momento em que Macron e Merkel parecem não se entender.
Além do alemão, Von der Leyen fala francês e inglês. Aperfeiçoou-se em inglês na Califórnia, onde o seu marido foi professor por anos na prestigiada universidade de Stanford.
A carreira política de "Röschen", o seu apelido familiar, é espetacular, mesmo para a filha de um homem forte da política regional alemã, Ernst Albrecht.
Em 2002, depois de viver nos Estados Unidos, Ursula von der Leyen lançou-se como candidata para um mandato local na região de Hanover. Três anos mais tarde já era ministra do Trabalho.
Mulher enérgica e tenaz, alguns dirão cortante, a sua personalidade não era bem aceite no mundo muito masculino do exército.
Também foi mal vista na hierarquia militar por denunciar as "debilidades" e o "espírito de corpo" não pertinente após a detenção, em 2017, de um oficial suspeito de preparar um atentado contra estrangeiros.
A ministra também foi suspeita em 2015 de plágio no seu doutorado, um tema muito sensível na Alemanha que causou a queda de vários políticos.
Tendo sido a primeira mulher a ocupar o posto de ministra da Defesa, Ursula von der Leyen também sacudiu a venerável instituição.
Impôs o fim à tradição de honras aos oficiais que trabalharam para Hitler, como o general Erwin Rommel, conhecido pela sua campanha no norte de África durante a Segunda Guerra Mundial.
A ministra também realizou muitas visitas às forças alemãs no Afeganistão e no Iraque.
Ursula von der Leyen é médica de formação e mãe de sete filhos. Num país onde continua a ser difícil para uma mulher conciliar a carreira profissional e filhos, apareceu com frequência nas capas dos jornais com eles até o ponto de ser acusada de instrumentalizar a prole.
No partido cristão-democrata (CDU), opôs-se a seu próprio campo em alguns assuntos, como ao reivindicar quotas femininas na direção das grandes empresas.
Num país afetado pelo envelhecimento da população e onde a natalidade está em forte queda, Ursula von der Leyen é também a "mãe" do salário parental do qual podem beneficiar os alemães durante os 14 meses depois do nascimento.
*Por Yannick Pasquet/AFP
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