Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST) tem estado a coordenar a colheita de plasma de doentes que recuperaram da covid-19, uma terapêutica experimental em estudo em vários países. IPST vai também lançar esta sexta-feira uma nova campanha para aumentar dádivas de sangue.
Dois meses depois de ter sido criado um grupo de trabalho que produziu um relatório com várias propostas para desenvolvimento de um Programa Nacional de Transfusão de Plasma Convalescente, coordenado pelo Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST), o Governo avançou, esta semana, com a criação de um grupo de peritos que irá acompanhar o processo de investigação clínica do plasma de doentes que recuperaram da doença como terapêutica experimental.
O grupo de peritos, que inclui elementos do IPST, Direção-Geral da Saúde e Instituto Ricardo Jorge, irá tratar do “acompanhamento do processo de investigação clínica, com a inclusão dos critérios clínicos definidos para as atividades do plasma convalescente covid-19, bem como a indicação das entidades intervenientes no processo”, lê-se no despacho publicado em "Diário da República" na passada terça-feira.
A estes especialistas caberá agora contactar os hospitais que possam vir a estar envolvidos nos ensaios para estudar a eficácia da utilização de soros imunes de pessoas recuperadas no tratamento de alguns doentes com covid-19. A utilização de plasma convalescente é uma das terapêuticas experimentais que estão a ser estudadas em vários países europeus e que fazem parte de megaensaios clínicos, a par de medicamentos como a dexametasona, como é o caso do ensaio Recovery, da responsabilidade da Universidade de Oxford. A Comissão Europeia tem incentivado os Estados-membros a estudar os benefícios do plasma convalescente, disponibilizando fundos comunitários a todos os institutos do sangue.
Numa parceria entre o IPST e o Instituto de Medicina Molecular (IMM), está já a ser criado um banco de soros imunes, a partir da análise de amostras colhidas pelo IPST junto de pessoas que recuperaram da doença. À equipa de cientistas do IMM, à qual já chegaram quase 90 amostras, cabe analisar cada um desses soros para verificar qual a concentração de anticorpos e a sua capacidade de neutralizar o vírus. Essas análises vão ainda permitir perceber em que casos é que as pessoas recuperadas tendem a ter maior nível de anticorpos, tendo por exemplo em conta a idade, a severidade da doença que desenvolveram ou o tempo que passou desde que foram infetadas.
A 6 de julho, segundo os dados enviados pelo IPST ao Expresso, “estavam inscritos mais de 600 dadores, 200 fizeram uma primeira triagem telefónica, 81 colheram amostras para análise e 41 dadores tinham agendada visita presencial”. E para facilitar o recrutamento de dadores, “uma vez que a dádiva de sangue em Portugal é anónima, benévola e voluntária, o IPST implementou a inscrição de dadores convalescentes de forma voluntária online”.
INCENTIVAR DOAÇÃO DE SANGUE
Além do trabalho que está a decorrer em termos de colheita de plasma de doentes recuperados, o IPST vai apresentar publicamente esta sexta feira uma nova campanha que visa aumentar os níveis de dádivas de sangue. O evento terá lugar no Auditório José Mariano Gago, no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa. A apresentação será da responsabilidade de Maria Antónia Escoval, presidente do conselho diretivo do IPST, que vai abordar justamente o tema da doação de sangue em Portugal durante pandemia, sublinhando os números verificados neste período e as medidas que já foram adotadas e as que já estão planeadas para os próximos meses. Até abril, a diminuição das dádivas foi de cerca de 40%, quando comparadas com o mesmo mês de 2019.
O encontro desta sexta-feira tem como principal objetivo impulsionar as doações, sobretudo numa altura em que o consumo está a aumentar com o regresso da atividade hospitalar aos níveis de atendimento verificados antes da pandemia. A principal preocupação é, sobretudo, a retoma das atividade cirúrgica, que havia sido interrompida. Será também apresentada a nova campanha de promoção, com o título “Dê Sangue, Ajude a Vida a Vencer”. O evento será encerrado pelo secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales.
De acordo com o IPST, em média, os hospitais portugueses precisam de aproximadamente mil unidades de sangue diárias para fazer face às necessidades dos doentes. E cada dádiva pode salvar até três vidas. O instituto, em comunicado, explica ainda que "a dádiva de sangue é um gesto simples, indolor e sem contraindicações para um adulto saudável". Para ser dador de sangue é necessário ter entre 18 e 65 anos (sendo que o limite para a primeira dádiva é de 60 anos), ter peso igual ou superior a 50 kg e hábitos de vida saudável.
No início de março, o instituto elaborou um plano de contingência para garantir a sustentabilidade e a segurança no fornecimento de sangue e de componentes sanguíneos e durante a pandemia convocou os dadores regulares, avisando-os por SMS ou mesmo através dos telefonemas dos hospitais onde estão registados.
Recentemente o próprio diretor-geral da Organização Mundial de Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, publicou uma série de apelos nas redes sociais para que se mantivessem constantes os níveis de doação de sangue, sublinhando a importância deste acto no normal funcionamento dos sistemas de saúde de todos os países. "A nossa mensagem é: continue a doar sangue e a salvar vidas.
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